“Um brilho cego de paixão e fé” (parte 4)

(começa aqui)

Talvez porque eu já tivesse um carinho por aquela sala, não sei, mas, nossa, eu me sentia bem naquele lugar! Coloquei minha música, arrumei minhas coisinhas pra comer e beber, fucei em tudo que me deu curiosidade – tava divertido, tipo chegar num quarto novo de hotel bacana…não fosse o nariz entupido, a tosse e…ah! o trabalho de parto! Hehehe
Descemos pra lá era perto das 00:30h. Nesse ponto o Lucas já estava cuidando do aplicativo das contrações, então nem me lembro mais que ritmo elas tinham, mas sei que já tinham ritmo de TP mesmo!  E me faziam me mexer mais cada vez que vinham! Me mexia embalada pelas minhas músicas – aos olhos da equipe, eu dançava…rs

Logo que chegamos no quarto fizemos um cardiotoco – sem fio, então eu podia me mover pelo espaço (e tirar tudo do lugar, e fazer o Lucas ir avisar a matrona que “tá saindo!” E ela vir correndo achando que era o bebê e não os sensores!!! Hahahahahaha)
Kamilla (obstetra) e Ann-Shopie (matrona) ficavam na salinha delas, em frente ao quarto. De vez em quando Ann-Shophie vinha dar uma olhada e tchau..

A Eva tava animada, nós também! Conversávamos, riamos, comíamos (eles os chocolates, eu MUITA cereja!!)

 

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Estava também cansada pelo dia normal e inteiro que tinha tido, então às vezes tentava deitar pra descansar, mas além de estar muito empolgada pra dormir, as contrações não me deixavam ficar parada – eu sempre tinha que levantar quando uma vinha.

 

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Não sei exatamente que horas eram quando fomos pro segundo cardiotoco, mas nesse momento a Ann-Shopie me pediu pra ficar direto com os monitores (antes o plano era controle intermitente), não lembro de ela ter explicado detalhes, mas ok, confiei que se elas acharam importante monitorar mais de perto, melhor ficar com o negócio apertando a barriga mesmo!

 

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Eu e o Lucas íamos notando e comentando as semelhanças daquele parto com o da Cecília . Segundo ele, era tudo muito igual. Os tempos, as minhas reações, as mudanças, etc. Por isso, estávamos esperando a bolsa estourar “pro bicho começar a pegar”!! 🙂

 

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Por volta de 2:30 a Ann-Shopie  me pediu pra fazer um exame de toque pra ver como tinha evoluído. Eu não quis e ela ficou de vir perguntar de novo dali 1h.

Achei que era muito cedo pra já fazer outro toque – o primeiro tinha sido na chegada, por volta das 22h, mas eu não tinha ideia de que já estávamos no meio da madrugada…

 

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Eu tava lá, comendo, dançando, tossindo, tomando água, contraindo…vivendo cada contração e cada intervalo, sem me dar conta do tempo que passava… Mas ao receber a proposta/pedido novamente, percebi que já eram mais de 3h da manhã e topei o toque – cheguei a sugerir que não me contassem com quantos cm estava, mas depois achei que ficaria ainda mais curiosa e ansiosa se eles soubessem e eu não..rs

Quando a Ann-Shopie anunciou a constatação dos 7cm a Kamilla ficou realmente surpresa!rs

Ela disse:” a gente tá lá te ouvindo falar e rir e dançar… Estávamos preocupadas que você não estivesse ‘de parto’ de verdade”! Hahahaha

 

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Eu tossia tanto e respirava tanto pela boca que minha garganta estava constantemente seca, o que me fazia espirrar própolis toda hora e tomar muita água, o que me fazia, literalmente, ter que ir fazer xixi depois de cada contração… Era um saco!! rs
As horas iam passando e meu ânimo parece que ia aumentando.. Eu via o Lucas e a Eva com muito sono, sentia o cansaço nas pernas, mas estava na maior empolgação! Descansava as pernas sentando na bola de pilates, porque era mais fácil pra levantar quando a contração vinha.

Em algum momento decidi tentar deitar pra descansar de verdade, mesmo que não conseguisse dormir. Mas a Ann-Shopie logo entrou no quarto e pediu pra que eu me levantasse e tomasse água, pra “dar uma acordada no bebê”. Entendi o recado de que ficar deitada não tava legal pros batimentos cardíacos do Dante e não deitei mais!

A movimentação toda me dava um calor danado. Como já estávamos no meio da madrugada o ar lá fora já estava fresco, então além de aumentar o ar condicionado, abri também as janelas e curti muuuito o vento que entrava! Só me dei conta de que eu era a única que sentia o tal calor quando a Ann-Shopie entrou no quarto e comentou “nossa, que fresco aqui”, aí vi que a Eva e o Lucas estavam encolhidos e tentando se cobrir com o que encontravam por perto… Hahahaha

Nesse processo, claro, as dores foram ficando mais fortes. Eu já tinha tentando outras alternativas pra lidar com elas, como abaixar (algo que me ajudou muito no parto da Cecília) mas nada era melhor do que o movimento… Eu já dançava muito mais forte e rápido e tinha que respirar muito mais fundo!

 

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Me sugeriram a banheira e eu não quis, tanto porque achei que não conseguiria me mexer nela, quanto porque tava com calor DEMAIS pra pensar em “alívio na água quente”!
Em uma das (mil) idas ao banheiro, quando fiquei sozinha notei que tava sentindo uma angústia, um aperto no peito. Saí do banheiro direto pro abraço do Lucas. Precisava soltar a tal angústia e sabia que ali era o melhor lugar pra isso.

 

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Chorei. De realinhamento outra vez.

Chorei por todas as mudanças que eu sabia que estavam chegando. Chorei de luto pela vida que estava ficando pra trás. Chorei de emoção pela vida que nos esperava na frente. Chorei e me liberei. Pude então dizer pro Dante que ele já podia vir, que eu já tava “limpa” e pronta pra ele. Coloquei (ou já tinha colocado?) a playlist que fiz pro parto e ouvi emocionada o nosso hino!
Conforme a coisa foi apertando, o que eu PRECISAVA em cada contração era da mão do Lucas. Se ele estava longe ou distraído eu ia de braço esticado, quase correndo até ele quando sentia uma chegando. Apertava a mão dele forte e o fazia balançar comigo até passar!
Notando essa evolução a Ann-Shopie foi ligar o aquecedor de toalhas (“se é pra nascer num quarto tão frio, pelo menos que ele tenha toalhas quentes”, ela disse hahahaha) e já começou a arrumar umas mesas com coisas necessárias pro parto ali por perto.
Já era mais de 5h da manhã quando, além das dores estarem bem fortes, me bateu um super sono. Às vezes eu pensava que queria que acabasse logo pra eu poder dormir. Outras eu pensava que podia dar uma estacionada no progresso pra eu conseguir descansar antes da hora P. rs

 

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Minhas pernas eram as que mais sentiam o cansaço, afinal, estavam há horas me fazendo dançar…

Lembro com perfeição de quando olhei pra banheira e pensei “hmmm… Não custa tentar, ne?!”

Lucas foi chamar a Ann-Shopie e a Kamilla veio junto. A matrona rapidamente encheu a banheira e os dois me ajudaram a entrar. Lá dentro vi o tanto que teria que abaixar pra chegar no assento e brinquei que ia ficar de pé, só “fazendo escalda pés” (hahahaha), porque todas as outras vezes em que eu tinha tentado abaixar a contração tinha doído muito mais. A Ann-shopie me mostrou que um dos lados era mais alto, então comecei a abaixar e apoiar por ali. Nesse processo tive uma contração bem dolorida, mas logo que me ajeitei na banheira, senti o tal do famoso alívio que a água proporciona! Também nesse processo senti o que imagino ser os tais luxos involuntários – disse pro Lucas “acho que eu to fazendo força !!” rs

 

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A princípio eu ainda tinha muito calor, então pedia mais água fria. Assim fui me ajeitando, encontrando uma forma de me mexer e dançar ali dentro, meio deitada mesmo e relaxei! Muito!! E eu decidi que, contrariando as minhas expectativas, dali eu não sairia mais! Nessa de relaxar parei de fazer força e comecei a sentir muito frio, tremia e isso me fazia sentir mais a contração…

Enquanto a Ann-Shopie esquentava a água, o Lucas ia me molhando nas partes que estavam de fora da água e mais frias.. A Kamilla sugeriu que eu fizesse força pra ver se sentia alívio e senti!! Ela ofereceu fazer um toque pra ver se já dava pra empurrar efetivamente  e eu topei; então ela logo liberou “empurra o tanto que voce sentir vontade, que ele nasce!”

Lembro que eu planejava apoiar os pés nos cantos na banheira pra “empurrar melhor”, mas a cada contração e força eu sem querer trazia a perna em direção ao tronco. Era super eficiente e automático! Incrível! Além disso, se eu prendia a respiração pra empurrar, a Ann-Shopie discretamente me guiava numa vocalização de “aaaahhh” e era reconfortante fazer junto com ela,  o que garantia que eu soltasse ar junto com a força e não ficasse sem respirar!

Foram umas 4 contrações empurrando, mas em cada uma eu conseguia fazer várias forças, porque elas duravam meio que bastante.  O Dante já estava bem baixo e quando eu empurrava sentia pressão no períneo.  Em determinado momento fui com as mãos tímidas e curiosas em direção a minha vagina, a Kamilla percebeu e sugeriu que eu tocasse pra sentir o bebê, o que eu fiz e  achei incrível! Aí ela disse “faz isso na próxima contração”…

Fiz! E foi a coisa mais maravilhosa!! Senti a cabecinha dele descendo e eu controlando!!  Foi tão incrivelmente legal que dei uma gargalhada na hora – sim, no meio de uma contração de expulsivo! – e todo mundo começou a rir junto!

 

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Momento devida e lindamente registrado! ❤

E esse momento pra mim foi muito simbólico! Poder sentir nas minha mãos o que a gente tava fazendo. Com a minha consciência. A minha felicidade. A minha satisfação. A nossa conquista – que eu pude sentir tão próxima! E em tão boa companhia! Num clima gostoso de cumplicidade!
(Desde que entrei na banheira a cada contração a Ann-Shopie ficava com o monitor procurando o coração do Dante. Dava pra notar que ela tinha uma certa dificuldade, até pediram pra abaixar um pouco a música que continuava me embalando… Mas eu não senti nenhuma tensão da parte delas… O Lucas disse depois que sentiu, disse que, em alemão  a Kamilla perguntou algumas vezes do celular da Ann-Shopie e ele achava que era pro caso de precisarem pedir uma ajuda de emergência. Mas como eu nem reparei e não precisamos de nada, isso pra mim não fez diferença! rs)

Acho que na contração seguinte àquela em que eu senti o Dante, ele começou a coroar. E aí, minhas amigas, eu senti o famoso “círculo de fogo”!!! E, nossa… dói!!! Acho que mais que uma contração em si, sei lá.. Dói tanto que fiquei me perguntando onde raios eu estava no parto da Cecília pra não ter sentido isso! rs

A primeira reação ao sentir aquilo foi inibir a força, trazer o bebê “de volta pra dentro” e reclamar que tava doendo muito! Mas a Kamilla foi me incentivando e a Ann-Shopie me guiando na vocalização, ambas me deram ânimo pra empurrar apesar da dor (sim, nesse momento, e somente nele!, eu briguei com a dor)! A tal vocalização virou quase um grito e era muito impressionante porque aquilo realmente me dava a sensação de que a força (tanto quanto o grito) estava vindo de dentro.. Difícil explicar, mas era muito diferente da força mecânica que eu fiz no parto da Cecília… Acho que é a tal da força animal que a gente lê nos relatos de parto por aí.. Que coisa linda e forte de sentir!!

Não consegui me lembrar de abrir os olhos – acho que justamente porque eu estava lá dentro de mim, encontrando a tal força – mas minhas mãos  estavam de prontidão, protegendo o períneo e esperando, ansiosas, que o Dante chegasse!

E então, aquele “ploft” delicioso de escorregar um filho pela primeira vez para o mundo!!!

Diferente da irmã, ele veio em uma contração só, uma força só, um grito só: cabeça e corpo, tudo como uma “unidade” só, uma bolinha encolhida dentro da bolsa amniótica!!!!!

Eu não vi, infelizmente, mas senti em minhas mãos com perfeição aquela cena que assisti tantas vezes na internet…Meu bebê nascendo na água, dentro das suas próprias águas. Com aquela tranquilidade que só um bebê empelicado pode ter nessa passagem entre mundos!! Que coisa linda de sentir e viver!!!

 

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A Kamilla o aparou e desfez, ainda embaixo d’água, a bolsa, levando-o, então pras minha mãos e me ajudando a trazê-lo pro colo!

 

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Eu peguei meu filho! O abracei com as mãos, com o peito, com um beijo! Sentia uma felicidade que nem sei… Um sorriso que era impossível de fechar! Eu só ria! Não tinha aquele nervoso e a sensação de “putz, que surreal” que predominou quando a Cecília nasceu… Era só lindo e leve!

 

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A bolsa!

 

Tomei um susto com o tamanhinho dele e ficava repetindo “oi filho! Você chegou! Como você é pequenininho!” (ele nasceu bem magrinho, com só 2,860kg! e 50 cm)

Como combinado, eu cortei o cordão!! mas esqueci de tocar nele pra matar a curiosidade.. 😦

 

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Logo a placenta nasceu e o Lucas pegou o Dante pra que fosse pra cama, onde voltei a lamber a cria e o apresentei pro seu nosso novo lugar favorito no mundo: o mamá! hehehe

 

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Que delícia, minha gente! Que intenso! E que leve, ao mesmo tempo!

Que coisa mais linda nós começamos a viver nesse dia!!!

 

 

(as fotos maravilhosas registrando tão bem todas essas emoções são da Eva Gascón!!! clicando no link vocês podem ler também o relato dela do nosso parto! <3)

 

 

 

“Um brilho cego de paixão e fé” (parte 3)

Levei a manhã normalmente, ainda que me sentindo super podre da gripe. Cecília voltou da escola bem jururu… Comecei a desconfiar que tínhamos poucas chances de conseguir ir à noite no evento que tínhamos programado no MBA do Lucas…
Quando por volta de 2h30 tarde me deitei no chão ao lado da cama da filhota, pra esperar que ela embarcasse na soneca, notei que as contrações estavam frequentes (“ainda ou outra vez?”) e ardidas.

“Ardidas!?!”

Me faziam lembrar perfeitamente das dores das contrações do primeiro parto – dores que eu havia esquecido há muito tempo.

Umas 3 e pouco, comecei a contar as idas e vindas delas no aplicativo e  ficou claro que elas não paravam de vir, mas vinham sem ritmo nenhum!

Na minha cabeça até que fazia sentido, afinal, “eram só os pródromos” – comecei, aliás, a me preparar psicologicamente pra ter uns 10 dias de pródromos (esperando o dia 21) e me preocupava, “putz.. Será que fica direto ardido desse jeito?”

Não conseguia mais não marcar cada contração que vinha… 20 minutos de intervalo, depois 9, depois 20, depois 13, depois 22, depois 6… Os intervalos não faziam nenhum sentido, mas elas continuavam a vir, ardidas, incômodas, seguidas…

Eu conhecia aquela dor. Da última vez que a senti, terminei o dia com uma bebéia no colo. Mas da última vez ela já tinha começado ritmada. E esse “tempo X intensidade” tão contraditório (quanto os meus desejos) me deixou confusa…

Racionalmente eu tentava me convencer de que não era nada “vc não cansou de ler relatos de parto com diaaaas de pródromos? Te prepara, que é a tua vez!”

Mas lá dentro eu sentia… Eu sabia que era mais!

Depois de uma hora dormindo no quarto, a Cecília veio me encontrar na sala, ofereci meu colo e ela logo voltou a dormir. Eu aproveitei e abracei forte, beijei, (tentei) senti(r) seu cheirinho… E comecei a chorar!

Eu sentia.. Eu sabia… Tinha chegado a tal hora das mudanças que esperávamos há meses! Queria aproveitar o máximo desse resto de tempo que tínhamos de “só nós duas” e fiquei lá, mais de uma hora numa posição absolutamente desconfortável, respirando fundo a cada contração que continuava a arder!

fiz questão de registrar, porque sabia que era um momento especial…

 

Umas 17:30 achei que seria de bom tom avisar o Lucas que “algo estava acontecendo”… Eu continuava discutindo comigo mesma – “é pródromo!”; “não é!”, mas “vai que…”, né?!

Mandei mensagem contando que estava há horas com contrações, mas que não era nada, que podia ficar dias assim. Pfff! O bichinho ficou nervoso! rs “vou pra casa!” – não precisa!. “Liga pra médica” – não é hora ainda. “Pede pra alguém ir ficar com você” – não quero!
Eu só queria continuar ali, deitada com a Cecília… Continuar meu dia normal e não ficar ansiosa, pra poder descobrir de verdade o que estava acontecendo.

E foi o que fiz! Quando ela acordou fui lavar e pendurar roupas, fizemos nosso lanche da tarde e entramos no nosso banho, como sempre! Só que dessa vez tudo temperado com contrações e muita tosse. E o banho com uma função especial: “se for pródromo, o chuveiro acalma!”

Entre me lavar e dar banho na Cecília, uma contração sem dor nenhuma: “há! Não disse que não era de verdade?!” com aquela satisfação por estar certa e aquela chateação por estar errada… rs

Mas justo quando ia abaixar pra fechar o chuveiro vem outra, ardida, forte. Uma que não deu pra ignorar; que pediu que eu me mexesse pra deixar ela passar… Então rebolei! rs

E a Cecília, curiosa:  “O que vc tá fazendo, mãe?” “Tô rebolando “. “Porque tá doendo sua barriga?” “É, filha!” “Então rebola, mãe, é melhor”!!! ❤ !!!

(Já contei pra vocês que ela viu vários vídeos de parto comigo ao longo da gravidez?!? rs)
Enfim, concordei que era melhor o Lucas vir pra casa, mas continuei na rotina normal com a Cecília. Contradição, lembram?! Hehehe

Ele chegou em casa rindo, tinha visto o gráfico do aplicativo das contrações que mandei pra ele

(Monicas Gellers que estejam lendo, maior legal esse aplicativo de control freaks, recomendo! Hahahaha)

E abriu a porta falando “só você acha que não tá em trabalho de parto!” Hahahaha

Que alívio ouvir essa frase! Tecnicamente eu sabia que não era TP, mas … Eu também sabia que era! Que bom sentir que eu não estava sozinha na tal percepção! rs

Só aí me permiti entrar no “modo parto”: fui terminar o que faltava nas malas, ligar pra médica, ajudar o Lucas a definir com os amigos a questão da Cecília, explicar pra ela que o Dante ia nascer(!!!), etc.

Quando falei com a médica as coisas continuavam na mesma: dor ardida e contrações sem ritmo. Como já estava assim há mais de 4 horas ela me sugeriu três opções: 1- esperar em casa pegar ritmo;2- ir pro hospital avaliar e se fosse cedo ainda ficar ali por perto, talvez só subir pro quarto ou 3- ir pro hospital e já internar mesmo. Optei pela segunda, pela distância do hospital e aquele medo de a coisa estar muito avançada na estrada…rs

 

Ainda demoramos mais 1h pra sair de casa, deixamos a Maní com uns amigos, a Cecília com outros e fomos pra Madrid. Nesse meio tempo também avisei a fotógrafa e uma parte da minha família – até porque a agitação fez com que as contrações finalmente ganhassem ritmo – ainda que 1 a cada 9 minutos não fosse lá sinal de TP ativo…rs

No carro elas já tiravam minha concentração, mas estavam absolutamente suportáveis – “ainda bem que viemos agora!”. Mesma coisa no cardiotoco que tive que fazer na chegada ao hospital – “se eu tivesse em TP mais avançado estaria puta de ter que ficar deitada aqui esse tempo todo”

Eram umas 10 da noite. “Contrações a cada 7 minutos. 4 cm de dilatação. Com certeza você tem que passar a noite aqui!”
“Uia! Não é que é mesmo?!”rs

Um misto de surpresa, com “eu já sabia”, com “ufa! Que bom!”, com “putz.. Já, filho?!”
Ok, ok.. Mas a gente pode ir jantar antes??
Fomos num bar ali do lado. Lucas quis um hambúrguer, eu, uma salada (“pode ir jantar, mas nada muito pesado”)

Lucas pediu pra não demorarem e já trazerem logo a conta também  “ela está em trabalho de parto, a gente pode ter que sair correndo a qualquer momento!”

A garçonete deve ter ficado nervosa, porque minha salada chegou voando, mas toda mal feita, alface super molhada, lavada às pressas, imagino, eca!.. Morri de inveja do hambúrguer e devorei as batatas fritas do Lucas. “Salvadoras batatas!”

No bar constatei que depois do exame de toque o intervalo das contrações tinha caído pra 5 minutos e tinha começado a sair o tampão “será que essa mulher descolou membranas???”  (depois a minha matrona disse que conhece a médica que me examinou e que ela não faria isso sem me falar nada..)

De qualquer forma, fiquei meio ansiosa e quis voltar logo pro hospital. Chegamos de volta junto com a Eva, fotógrafa e subimos para o quarto.

O plano era ficar por ali, de boas, como se estivéssemos num hotel, esperar o TP engrenar mais pra descer pro paritorio. Mas o quarto era tão minúsculo e apertado que assim que a médica e a matrona chegaram e deram essa opção, quis descer pra “começar a brincadeira num lugar mais legal”!!!

Continua….

“Um brilho cego de paixão e fé” (parte 2)

Comecei a escrever esse relato umas mil vezes seguindo o mesmo estilo do relato do parto da Cecília: hiper detalhado, racional, tudo explicadinho… mas mil vezes também a coisa (eu, no caso! rs) empacou!
Agora me dou conta de que não dá pra escrever um relato assim de um parto que foi tão o contrário disso. Aliás, de uma gravidez que foi tão o contrário disso. E de uma maternidade que vem sendo tão o contrário disso.

Escrevendo, aliás,  percebo que essa é a grande lição que meu filho me ensinou até agora: o sentir! Desde lá,  no comecinho, quando “chorei de realinhamento“, depois quando senti tantos medos e quando pude reencontrar minha paixão.. também no parto – que sem dúvida foi resultado desse caminho… Dante vem sempre me ensinando a SENTIR. O que quer que tenha pra ser sentido. Sem limites. Sem (auto) barreiras.

E é por isso, então, que esse relato tem que ser diferente: ele tem de sair das minhas entranhas; tem que ser contado desde os meus sentidos, desde meus sentimentos.

Quem me acompanha?

Conforme o final da gravidez vinha chegando a certeza de que Dante nasceria no dia 21/06 ia aos poucos dando lugar às dúvidas. O lado racional (um pouco interno e um muito no meu marido) me lembrava que eu estava lidando com uma série de indefinições. Me lembrava que ele poderia, na verdade, nascer a qualquer momento; me lembrava que não tínhamos um plano concreto do que fazer com a Cecília nos tempos de parto e estadia no hospital, que eu não sabia qual seria o momento ideal de sair de casa e ir pro hospital;  que eu não sabia se parir seria fácil outra vez;  me lembrava que eu não sabia era coisa nenhuma…

Quando eu sentia que esse mar de indefinições estava pra me afogar, simplesmente me agarrava na certeza do dia 21 e ficava pedindo: “filho, espera a vovó chegar, por favor!”

 

Mas a verdade é que Eu estava dividia. Queria curtir muuuito aquele barrigão amado. Queria que minha mãe chegasse para o parto. Queria que acabasse logo a fase das incertezas. Queria muito que acabasse logo a fase do “a Cecília tá chatinha porque ainda não entende bem essa coisa de ‘o irmão vai nascer’. Queria chegar no concreto, na nova fase – mesmo que esta fosse a fase do caos. Queria curtir muito minha filha sendo ainda a única. Queria estar certa na certeza da data. Queria que dia 21 chegasse logo. Queria ter tempo de fazer um milhão de coisas e resolver uma super lista de pendências.

Eu era a contradição em pessoa.
E pra ajudar, Cecília ficou doentinha. E em seguida eu fiquei doentona. Era muito catarro. Muuuita tosse. Pouquíssimo oxigênio. Pouquíssima energia (minha, porque a bichinha continuava no pique de sempre) e poucas horas de sono (das duas). 

E aí, sobre a data,  teve um pedido da fotógrafa. E teve a intuição da médica, que contaminou a minha. “Ai, ai, ai… Tô cada vez mais achando que esse menino vai nascer ‘antes’…”
E teve, então, uma noite dificílima. De Cecília tossindo muito. E eu ouvindo-a porque tossia mais ainda. Insônia. E porque precisava fazer mil xixis mais do que os muitos que já eram de praxe. E porque não conseguia me ajeitar na cama. Algo me incomodava muito. E não era só a tosse. Nem só a falta de ar pelo nariz ultra entupido. “Putz.. Parecem cólicas… Parecem contrações… É, são contrações. Ah, normal, Braxton-Hicks, minhas companheiras de sempre.” Será?

Quando chegou a manhã teve a consciência: “nossa, não dormi nada!”; “nossa, tive várias contrações.”
Sexta feira, dia de “mimimi” no meu grupo favorito do facebook. Fui lá e escrevi assim:
“38+4 semanas, um calor agradável de 35°, inchaço, caloooor, cansaço, gripe com tosse de cachorro morrendo e nariz totalmente entupido (eu e a filhota mais velha), pródromos dando as caras com força (essa noite várias contrações incômodas contribuíram pra insônia)
Enquanto isso eu tô aqui só implorando pro baby esperar pelo menos eu voltar a respirar pra poder nascer😖”

E completei depois:

“obrigada meninas! ❤️ (que, como sempre, vieram com palavras doces pra acalmar)

A gripe e o calor são o que mais tá pegando! A gravidez eu bem que queria que chegasse nas 40 semanas, que é pra minha mãe já estar por aqui e pra gripe ter passado!

Gente, PIOR coisa é ter contração no meio de uma crise de tosse! Fora que meu assoalho pélvico já não dá conta de tanta tosse com tanto peso… ”

Há!

Última foto do barrigón !

Continua….

“Um brilho cego de paixão e fé” (parte 1)

Toda história tem uma pré-história. Meio óbvio, né?!

 Acontece que em algumas histórias esse “background” é quase tão importante quanto os acontecimentos que ele desencadeia.

Sinto que esse é o caso do nosso parto.
E é por isso que antes de contar como ele foi, sinto que preciso vir aqui dizer que mesmo tendo planejado e desejado um segundo filho, depois que ele já existia na minha barriga fui visitada por uma série de medos.

Hora era medo de como seria esse bebê desconhecido. Hora de como eu lidaria com essa nova pessoa. Hora era medo de como seria pra Cecília recebê-lo; hora era de como ficaria minha relação com ela depois da chegada dele. Hora era medo de ser “mãe de menino” (pffff); hora era de ser mãe de dois. Hora era medo de ele nascer antes da minha mãe chegar, e do que faríamos com a Cecília durante o parto e dias de hospital; hora era medo de ele “atrasar demais”. Hora era medo de o parto ser muito mais difícil do que foi o primeiro; hora era medo de todos esses medos atrapalharem (e muito) a chegada do meu filho…

Enfim… digamos que foi um primeiro trismestre de muita minhoca na cabeça e pouco espaço (emocional) pra curtição (acho também que o fato de não termos divulgado a gravidez contribuiu pra esse cenário introspectivo e besta… Acho que não repetiria essa escolha!)

Foram alguns meses assim até o dia em que não foi mais.
Lembro com clareza: estava fazendo minha caminhada matinal, sozinha, fone no ouvido, viajando na minha própria cabeça. E então começou a tocar uma música que eu nem sabia que tinha colocado na minha playlist. Uma música na qual eu nunca tinha prestado atenção antes. Uma música que me deu um click, um estalo. Uma coisa meio doida, meio assim sem explicação.
Me lembro que ao sentir o estalo me arrepiei inteirinha, literalmente até os dedos do pé! E voltei pra ouvir de novo. E de novo. E de novo.

Dá o play aqui e ouve mil vezes comigo!

Pronto, sem querer eu tinha um “hino” pra minha gravidez!

E assim, num click, aquela preocupação besta que tava me (pré)ocupando tanto “espaço”  foi embora.

Já não importava mais, como, quanto, quando, porquê…. seria.

Aquilo tudo, de um jeito ou de outro, “seria”. E seria em breve. 

Percebi, então, que eu precisava voltar a acreditar. A confiar quase cegamente. Em mim. No meu corpo. Na minha filha. Na minha família. No meu bebê.
E num arrepio eu lembrei que, sim, apaixonadamente eu confio nessa lista!
E foi tão importante esse lembrete. Tão libertador! Tão “divisor de águas”!

Ainda faltava muito pra hora do parto quando isso aconteceu – ainda bem, porque eu tive bastante tempo pra me entender com essa nova relação minha com a gravidez e curti-la muito!

Mas eu tenho certeza que esse momento foi fundamental pra tudo o que veio e ainda está vindo – depois!

Mas essa história fica pra daqui a pouco, ok?!

(sim, sim… Vou enrolar vocês de novo e dividir mais uma vez o relato de parto em mil partes, sorry… Tenham um pouquinho de paciência comigo! Hehehe)




“Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada

Agora não espero mais aquela madrugada

Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser faca amolada

O brilho cego de paixão e fé, faca amolada

Deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo
Deixar o seu amor crescer e ser muito tranquilo

Brilhar, brilhar, acontecer, brilhar faca amolada

Irmão, irmã, irmã, irmão de fé faca amolada

Plantar o trigo e refazer o pão de cada dia (Plantar o trigo e refazer o pão de todo dia)
Beber o vinho e renascer na luz de todo dia (Beber o vinho e renascer na luz de cada dia)

A fé, a fé, paixão e fé, a fé, faca amolada

O chão, o chão, o sal da terra, o chão, faca amolada

Deixar a sua luz brilhar no pão de todo dia
Deixar o seu amor crescer na luz de cada dia

Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser muito tranquilo

O brilho cego de paixão e fé, faca amolada”

“Eu quis dizer:”

Ainda naquele papo de “conversas sobre parto que rolaram no Brasil”, uma coisa me chamou a atenção: eu tenho essa mania de ficar aqui, escrevendo do lado de cá da Cordilheira e pouco conversar sobre meus textos, de maneira que acabo esquecendo que à palavra escrita falta o tom e sobra brecha pra interpretações…

E aí que, curiosamente, em mais de uma dessas conversas me surpreendi com o que algumas pessoas absorveram do meu relato de parto
Houve quem disse ter ficado com mais medo de parto normal, quem ficou mais satisfeita com a própria cesáreas eletiva e quem leu “muito sofrimento” no meu texto!
Não achei ruim ouvir essas opiniões, mas fiquei MUITO surpresa, mesmo!, e até fui reler o relato pra procurar o que essas pessoas tinham visto e eu não…
(aceito novas opiniões e pontos de vista, aliás, sempre!!rs)

Eu achei que tinha ficado claro nas vezes anteriores que falei sobre o assunto. Eu acho, aliás, que já disse isso aqui.

Mas depois das surpresas dessas conversas, me deu vontade de repetir, com todas as letras, sem deixar espaço pra mal entendidos (se é que isso é possível na comunicação humana! rs).

E não é que eu queira convencer ninguém de nada, não! O que eu quero é esclarecer mesmo como é minha relação com o fato de ter tido um parto natural!

Assim, oh:

– Eu não sofri no meu trabalho de parto, nem no parto!
– Não sofri! Nada!
– Não me arrependi da escolha nem por um segundo, nem durante nem depois do evento!
– Foi lindo, lindo, lindo!!
– Foi a experiência mais transformadora da minha vida!
– Foi a experiência mais intensa que já vivi, a mais cheia de sensações e emoções!
– Não vejo a hora de passar por isso de novo (apesar de não ter nenhuma pressa em ter o próximo filho – vai entender…rs)
– Gostaria que todas as mulheres pudessem passar por isso!
– Gostaria, aliás, de poder vivenciar esse momento junto a algumas queridas que vão agora por esse caminho [sim, quero estar presente no parto de tod’azamiga! Hahahahaha Ja falei que sou a louca do parto, né?! (Se eu virar doula e criar um blog e uma empresa com esse nome, será que faz sucesso? “Gabi, a louca do parto”?! Hahahaha)]

Será que ficou claro agora? rs

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"Porque sei que és minha Doula"***

Daí que eu fiquei enrolando vocês com aquele relato de parto enoooorme, dividido em várias partes e tal, quando existia já pronta essa versão aqui! (me perdoam? rs)
Linda, sensível, cheia de amor e curtinha! hehehe
É o meu parto, o nosso parto, do ponto de vista da Doula – e eu não me canso de ler!

(ps.: Onde ela diz Jack, claro, entenda-se Lucas! rs)

“Dia 23 a cachorrinha Mani estava muito estranha. Parecia sentir algo que para nós era imperceptível. Seria um terremoto? Ou contrações tão fracas que nem Gabi sentia?? Será que o corpo da Gabi já enviava sinais do que estava por vir?

Mani já sabia..às 3 horas da manhã do dia 24 as contrações começaram! Gabi resolveu não nos acordar e curtir as primeiras contrações sozinha na sala mesmo. Entre contrações conseguia dormir e descansar.

Acordo com passos no corredor, vindo de um lado ao outro..Jack acordou e já estava no modo “parto” rsrs. Passamos uma manhã gostosa arrumando os últimos detalhes para mais tarde, fazendo almoço e brincando de achar posições mais comodas para a Gabi.

Ás 11:30 a bolsa da Gabi rompeu. Gabi e Jack estudaram tanto sobre parto que nem se assustaram com o acontecido e tudo continuou na maior tranquilidade!
Cada contração era acompanhada ao som de cantores brasileiros como Chico Buarque..Gabi ficava dançando e cantando para ajudar a lidar com a dor. E assim foi até a dor começar a ficar mais forte!
Ainda embalada ao som que a consolava foi para o chuveiro onde pôde contar com a ajuda da água morna para alivio.
Quando saiu do banho a música já não adiantava mais. Continuava cantando bem baixo e dançando mas seu rosto já mostrava o desafio da fase ativa do parto. As contrações estavam muito próximas uma da outra e por isso resolvemos ir à maternidade!
Ao descer no elevador até encontramos um vizinho desavisado que olhou com cara de “meu santo! Ela está parindo!!!” e só conseguiu soltar um “Suerte!!” para nós..foi engraçado!!

Jack ligou para a parteira e seguimos para lá. Durou 15 minutos, mais ou menos, para chegar..mas, para Gabi e Jack parecia uma eternidade! Jack me contou que nesse momento temia que Cecilia nascesse no carro!! Gabi, sem contar com o alívio de se mover para diminuir a dor..sofreu. Se contorcia, mordia a toalha que levei como compressa gelada, chegou até a soltar um xingamento tamanha a dor que sentia!!!

Encontramos a parteira na maternidade que nos levou a uma sala para examinar. Estava buscando os documentos deles para fazer a entrada e só escutei “parabéns para o papai e para a doula, ela está com 9 centímetros de dilatação!!”. Gabi que merece todos os parabéns!!! Poucas mulheres conseguem ter segurança suficiente em seus próprios corpos para ficar em casa até chegar a esse ponto do parto! O máximo de dilatação são 10 cm! Ela já estava na fase de transição..Cecília já estava vindo!

Fomos o mais rápido possível até a sala onde Cecília viria a nascer. 
Daí pra frente fica difícil de contar..
Gabi sentia muita dor, se agachou até encontrar uma posição que pudesse empurrar. Jack ficava o tempo todo a segurando, pois suas pernas já estavam cansadas.
Empurra daqui, empurra de lá..”dá pra ver o cabelo” escutei a parteira falar.
O obstetra chegou e junto com a parteira observavam Gabi e Cecilia. De tempos em tempos ouviam os batimentos da Cecilia usando um aparelho que precisava só encostar na barriga para funcionar.

Foi bonito ver o olhar desses profissionais. Com paciência e respeito observavam e incentivavam.
Pediram para ela mudar de posição, para facilitar o parto. Nessa posição foi necessária a ajuda de todos. Jack já estava cansado mas continuou apoiando Gabi, sentando atrás dela e segurando ela por debaixo dos braços. A parteira segurava uma perna enquanto eu ficava com a outra. Assisti de camarote!! rsrs
Gabi aguentou o que chamam de “anel de fogo” por um belo tempo! Não sei dizer quanto tempo foi, nesses momentos o tempo já não é igual ao normal!!
Incentivava a Gabi e em um momento resolvi olhar para o Jack e me deparei com ele suando, branco e respirando fuuundo. A emoção estava transbordando!!
Algumas enfermeiras e o pediatra estavam a postos, caso necessário. 
O obstetra pedia empurrões fortes e longos da Gabi. Faltava muito pouco!
Presenciei o rosto da Cecília enquanto o obstetra tentava tirar o cordão, que estava enrolado em seu pescoço. Só quando ela saiu ele conseguiu, com muita habilidade, fazer ela passar pelo cordão, pois não conseguiu tirar por cima da cabeça. Como um quiabo..pluft..veio ao mundo!! rsrs

Foi uma emoção incomparável!!

Cecília foi direto para o colo da mãe. Esperaram para cortar o cordão. A placenta saiu naturalmente, depois de algumas contrações.
Ficaram assim os 3 juntinhos, Cecília..papai e mamãe por mais ou menos uma hora. Cecília foi apresentada ao mundo da melhor maneira possível! Junto ao peito de sua mãe, ouvindo seu coração e sentindo seu carinho. Até começou a mamar ali mesmo!
Só a tiraram para ser avaliado pelo pediatra, para colocarem a roupinha e logo depois já voltou para a Gabi. 

Gabi e Cecília ficaram na maternidade por duas noites. Só para ficar em observação. Tudo estava bem!
Jack e Gabi decidiram deixar a Cecília no quarto, e não no berçário durante a noite. Sábia decisão!!

Agora já estão em casa!
Cecília é tranquila e esperta. Falo com ela e seus olhinhos abrem para mim!
Ela chora..mas, nada que mamar, ficar limpa e se sentir em contato com nós não resolva!!!

Estou feliz! Consigo me imaginar ajudando outras mulheres a passar por essa experiência transformadora da melhor maneira possível!!


Depois mando fotos!!!

Com todo meu amor,
Silvinha, a doula”



A Sil é uma amiga muito querida! Dona de uma tranquilidade e de uma presença de amor sem iguais!!!
Ela é toda zen, “natureba”, saudável…em muito aspectos diferente de mim e do Lucas, mas é impressionante como nos damos bem!!!

E, olha que bacana: ela se interessou pelo assunto do parto por causa da nossa gravidez! Foi pros Estados Unidos fazer o curso de formação de doulas do Dona (uma das organizações internacionais mais bem conceituadas na área!), viciou no Renascimento do Parto e chegou aqui fervilhando de idéias, vontades, planos…uma delícia!
Chegou, aliás, fazendo intensivão: 10 dias de pré, parto inteirinho e 1 mês de pós parto!
Me indicou coisas pra ler, trouxe discussões pra eu pensar e trocamos muita figurinha sobre esse assunto que a mim também interessa tanto – foi bom demais!!!
(Isso sem falar na ajuda com a Cecília, com a Maní, com a casa, com a minha alimentação, etc..rs)

E, a boa notícia pra vocês é que ela está de volta em São Paulo, disponível pra ajudar novas Doulandas por aí – e oh, não é porque é minha amiga, não, mas eu recomendo, viu?!?! hehehe
Vocês podem contatá-la por email: silviarozsa@hotmail.com – e se falar que foi indicação minha ganha massagem extra!!! hahaha



Sil, querida, mais uma vez obrigada pela presença, pela ajuda, pelo apoio, pela tranquilidade, pelo amor…por tudo que você veio fazer germinar 😉 nessa casa no comecinho de 2014!!!
(e obrigada por autorizar a publicação do relato aqui!)

Torço pra que você possa se sentir realizada ajudando muitas mulheres a se empoderarem e a parirem! Elas e você merecem muitas e muitas experiências transformadoras!!!

Beijos cheios de amor!





(post maior bonitinho e tal, mas não resisti à piada infame com o título…hahahaha)

"Foi assim…" – parte 5

 
 

Cecília chegou ao mundo às 18h12 (havíamos chegado na clínica umas 16h35) e foi recebida pelas mãos do médico – ela tinha o cordão umbilical enrolado no pescoço (o que é super normal e não representa nenhum risco pro bebê, ok?!?), mas como o cordão era meio curto ele não conseguiu desenrolar logo que saiu a cabeça (como normalmente se faz) e teve que esperar o corpo sair pra passar ela toda por dentro da circular do cordão – uma manobra e tanto! rs
Feito isso, ela veio direto pro meu colo – e essa, senhoras e senhores, é um sensação que eu não vou esquecer nunquinha na vida!!!
Coisa mais maravilhosa é ter aquele corpinho todo molinho, gosmento, quente, macio e cor de rosa encostando inteirinho em você, pele com pele!
Ela chegou, deu uma olhada em volta tentando entender o que tava acontecendo e aí abriu o maior berreiro! Berreiro dum chorinho rouco totalmente apaixonante!
Ficamos uns minutos assim, ela nos meus braços e nós duas nos braços do Lucas… sabe amor? Então… era mais do que isso!!!


 


O pediatra chegou perto e deu uma olhadinha nela, depois a cobriram com uma fraldinha e só…nem limparam, nem nada… No “aperto” da passagem pelo canal de parto ela tinha feito cocô, mas, juro, não me importei nem um tiquinho de ficar toda suja de mecônio! rs

 

(em tempo: uma coisa importante é avaliar como está o líquido amniótico quando a bolsa estoura.. meu líquido esteve o tempo todo – sim, ele não saiu todo de uma vez! – transparente e com cheirinho de cloro, ou seja, limpo. Por isso sabemos que o mecônio só saiu na hora do parto mesmo!)


Alguns minutos depois o cordão umbilical foi clampeado e Lucas o cortou (antes ele dizia que não ia querer cortar, mas na hora animou! rs) e então eu voltei a sentir contrações, bem mais leves agora… era a placenta que estava vindo! Lembro de precisar fazer só um pouquinho de força e ela já “nasceu”, bem fácil…
O médico a pegou, abriu pra confirmar que ela estava inteira (não pode sobrar pedacinho dentro do útero!) e me mostrou – achei muito legal, mas preferi não comer…hahaha

Em seguida me ajeitaram um pouco na maca pra que o médico pudesse me dar pontos.
Tive duas lacerações pequenas e superficiais – o que eu achei ótimo, levando em consideração que não fiz nadinha na gravidez pra preparar o períneo! 
Tinha esquecido de comentar, mas o médico depois me disse que houve um momento em que teve quase certeza de que teria que fazer uma episiotomia (no plano de parto eu pedia que não fizesse, a menos que corresse o risco de uma laceração de mais de 2o grau!), chegou a pedir pra enfermeira arrumar as coisas pra isso, mas acabou que conseguimos evitar…ufa!!!
Não senti dor na hora da laceração, nem nos pontos no pós parto (acho que eles me incomodaram um pouco umas 3 vezes só neste mês em que me acompanharam…rs), mas senti dor na hora de dar os pontos! Tive a impressão de que a anestesia local não pegou direito, mesmo o médico tendo colocado duas vezes, então senti meio que todo o processo e não foi bacana…rs. Mas nessa hora eu já tinha no colo meu pacote de gostosura e isso deixa toda experiência mais bonita! hehehe


 
 


E aí tivemos um tempão pra ficar nos namorando… ê delícia!!!
Tiramos fotos e mandamos pras famílias – que aguardavam ansiosas por notícias nossas!
(ah! na correria de ir pra clínica acabou que não avisamos ninguém que estávamos indo, como era o plano…hahahaha)


Nós 4!!! (aliás, essa é a Sil, pessoal! rs)

Também nesse período a matrona veio nos ajudar a colocar Cecília pra mamar!!
Não foi fácil! A ferinha só gritava e não entendia que o peito ia ajudar…rs
Mas eventualmente nós conseguimos!!! E aí…sabe aquele “mais que amor”?? Então…era mais ainda!!!


 


(Depois descobri que fizemos errado,  não acertamos a pega e, apesar de mamar super bem e engordar normalmente, Cecília passou a primeira semana mastigando meus pobres mamilos… =/
Agora a pega já está corrigida e amamentar tem sido delícia pura!!! Mágico, mesmo!!)


Passadas 1h40 de muito namoro, colo, peito, pele com pele, muita baba (nossa! ela ainda não baba! rs) e muito carinho melequento, vieram nos perguntar se já podiam vesti-la… Eu achei que já era ok, então o Lucas a levou para o pediatra, que só então fez as primeiras avaliações.


Carregada pelo pai pela primeira vez!
Sujinha de mecônio e agarrada no pai!



Num bercinho ali do meu lado eles fizeram as avaliações necessárias, tudo com muito respeito… sem aspirar, sem pingar colírio, sem procedimentos padrões invasivos e desnecessários!
Pra tomar a vitamina K (intramuscular) ela voltou pro meu colo e nem pareceu sentir nada…
Foi avaliada (apgar 9/10), medida (51,5 cm), pesada (3,290 kg), limpa com óleo de calêndula e vestida! 


Pai orgulhoso!


Depois voltou pro meu colo e fomos levadas assim, grudadinhas, pro nosso quarto!


Mãe orgulhosa!

Já no quarto, recebemos alguns amigos queridos, eu jantei e só aí comecei a sentir o cansaço…
Além do acesso venoso chato na mão, as outras pequenas desvantagens do parto hospitalar foram o fato de eu só ter podido levantar da cama depois de 6 horas do parto e só poder tomar banho na manhã seguinte – sendo que não me deixaram lavar o cabelo nesse primeiro banho (?? vai entender…rs)

Cecília nasceu no final da sexta feira e ficamos na Clínica até domingo a tarde…
Estávamos as duas ótimas, por isso nos deram alta antes do “procedimento padrão”, que nos faria esperar até segunda feira no final da tarde…

Ela ficou no quarto com a gente absolutamente o tempo inteiro! Só saiu duas vezes pra fazer exames e o Lucas foi junto pra ver o que faziam com ela… Tomou vacina mamando no peito e também não reclamou nada!
Foi amamentada desde o princípio em livre demanda e eu logo percebi que a dedicação que isso demandaria não seria pouca – mas valia a pena! (duas enfermeiras tentaram me convencer que se eu mandasse a bebê pro berçário a noite, descansaria melhor… sorri e fiz cara de alface, sabe como? rs)
É normal que bebês percam 10% do seu peso nos primeiros dias de vida…ela, “mamona” que só ela, perdeu 4%… antes de irmos pra casa o colostro já tinha começado a dar lugar pro leite e a produção aqui continua sucesso!

Me recuperei bastante rápido do parto… como disse, não senti nada nos pontos! Nos dois primeiros dias sentia o corpo inteiro doer como se tivesse feito musculação por uns 3 dias seguidos… também sentia uma espécie de “peso” nos músculos da bunda e era (engraçadamente) difícil sair da cama, me sentia grudada…rs. 
E sentia MUITA fome!!! Devorei todas as refeições do hospital, comendo inclusive um monte de coisas que nunca na vida havia comido porque não gostava! hahaha
Mas tudo isso foi passando bem rápido! Hoje, depois de um mês (!!!), estou completamente inteira! Já perdi 9 dos 10,5 kg que engordei a nem vi essa história de resguardo…meu corpo esqueceu rapidinho tudo pelo que tinha passado!

O corpo esqueceu, mas o coração e a mente vão lembrar PRA SEMPRE… como o primeiro dia de 2014, o primeiro dia de Cecília, o dia em que eu virei outra (volto pra falar sobre isso! rs), o dia em que nós 3 nos agarramos e nos transformamos!!! O dia mais intenso e mais lindo da minha vida, sem dúvida alguma!!!




(vocês ainda aguentam “me ouvir” falar mais um pouquinho sobre o assunto?? Ó que eu volto, hein?!? rsrs)

"Foi assim…" – parte 4

(pra começar do começo: Parte 1)


Pois é… a história de parar de doer no carro foi pura ilusão e o meu medo anterior foi justificado!
Os menos de 15 minutos até a Clínica foram os piores minutos do TP! Eu continuava sentindo a dor bem aguda e dentro do carro não conseguia me mexer de jeito nenhum que pudesse ajudar… Tentava “rebolar” sentada no banco mas não rolava… 
A Sil tinha levado uma toalha de rosto molhada pra me ajudar com o calor, mas ao invés de usar como compressa, eu preferi usar como “rebozo… prendia uma ponta com as mãos e puxava a outra com os dentes! Acho que não ajudava muito com a dor, mas na hora do aperto era o que tinha… Fora que segurava uns gritos entre os dentes! rs
Doía muito e, diferente de como vinha sendo até então, nada ajudava a melhorar! Não sei como não chorei – mas soltei uns palavrões em voz bem alta porque tava foda mesmo!! hahaha
Também em voz alta começou a sair meu mantra: “Deixa ela vir…! Deixa ela vir…! Deixa ela vir..!!!”. Era difícil não travar o corpo todo e lutar contra a dor! Eu respirava fundo (quando não travava a mandíbula na toalha.rs) e repetia “deixa ela vir…!” a cada expiração… e ia tipo fazendo “contagem regressiva” do caminho, implorando pra chegar logo!

Já tinham nos explicado como seria todo o processo de admissão na Clínica, então eu sabia que umas coisas chatas me esperavam…
Chegando na maternindade paramos na “zona de acojida” no estacionamento, onde ficam uns técnicos e um monte de cadeira de rodas – sim, é protocolo ter que entrar em cadeira de rodas! Ouso dizer que os técnicos e auxiliares de enfermagem dali não estão acostumados a receber grávidas naquela altura do TP…ficaram todos com caras assustadas ao me ver! E a auxiliar responsável por empurrar minha cadeira era nova na Clínica, não sabia direito pra onde ir ou onde ficava a sala e estava mais nervosa que sei lá o que!
Além disso, ficamos os três super atrapalhados com tudo que tinha pra pegar no carro… A Sil tava engraçada com um milhão de coisas penduradas por todo o lado e tudo meio querendo cair… – incluindo minha bola de pilates! hahaha

No trajeto da cadeira de rodas vi mais uma vez meu corpo trabalhando “como diz o livro”: sabe-se que o frio inibe a secreção de oxitocina (principal hormônio responsável pelo TP). Pois bem.. os corredores da Clínica estavam MUITO gelados e eu fui tremendo de frio na cadeira de rodas…o lado bom (?) disso é que o TP foi realmente inibido e não me lembro de ter sentido nenhuma contraçãozinha nesse caminho…ufa! se no carro tava difícil, imagina na cadeira de rodas!

Encontramos a matrona no corredor e ela guiou a auxiliar inexperiente até a sala de admissão… era uma salinha de exames normal..maca, banheiro, pia, etc…
Quando levantei da cadeira já voltaram as contrações e a matrona ia esperando os (curtos) intervalos entre elas pra me pedir o que precisava de mim – que tirasse a roupa, que subisse na maca, etc…
Então ela fez um exame de toque (primeiro e único em toda a gravidez e trabalho de parto!!!) e disse “bien, Gabi, súper bien!”, ouvi ela comentando com a enfermeira que tava por ali qualquer coisa sobre “um pouco de rebordo”! Acho que a Sil perguntou como estávamos e ela disse que com uns 9 cm de dilatação (!!!)…e felicitou marido e doula por terem conseguido me ajudar suficientemente bem pra chegarmos só nesse ponto na clínica!!!
Uma enfermeira veio atrás da gente pedir pra fazermos os papéis de admissão, o Lucas perguntou pra matrona quanto tempo ainda teríamos de TP, ela disse que achava que 1 hora e pouco e ele disse que então iria fazer a papelada… mas a matrona não deixou, disse que ele precisava ficar comigo! A Sil perguntou se ela poderia fazer e a enfermeira disse que sim, mas a matrona também não deixou! rs
Ela disse que iríamos subir e pediu pra enfermeira que alguém levasse os papéis até a gente – achei ótimo, não queria mesmo que nenhum dos dois tivesse que sair!!

Enquanto Lucas e Sil pegavam as coisas pra mudarmos de sala a matrona veio até mim, olhou nos meus olhos e disse meio baixinho “Gabi, sin anestesia, cierto?!” e foi a primeira vez que a existência da anestesia passou pela minha cabeça durante o TP!
No meu plano de parto eu dizia que queria ver até onde eu conseguiria ir sem anestesia e que se/quando eu quisesse teria que ser uma dose baixa pra eu poder continuar andando… eu tinha deixado a anestesia garantida e tava pronta pra passar um bom tempo lutando contra a vontade de pedi-la – não tinha nem combinado com ninguém pra não me deixar tomar, como já li que muitas grávidas fazem, porque eu queria deixar a possibilidade aberta… Tinha medo, aliás, de tentar resistir além do meu limite e acabar não “aproveitando” a experiência do parto, sabe?!
Mas quando começou o TP de verdade eu simplesmente esqueci que essa possibilidade existia! E esqueci porque não precisei lembrar! Tinha sido tão tranquilo até ali…
Aliás, tinha sido tão tranquilo que eu ainda tava esperando a coisa piorar muito!! Mas eu sabia que, do jeito que tava, dava pra levar na boa sem nem pensar em anestesia! Então respondi pra ela “sin anestesia!” e sentei na cadeira de rodas de novo!

Fomos então pra “Sala de Parto Integral” – uma sala de pré-parto, parto e pós-parto. Chegando lá eu já estava sentindo muita dor e não conseguia me concentrar em nada, mas a Sil me contou que a matrona já chegou ajeitando a sala: fechando as cortinas e baixando as luzes, ajustando o ar condicionado pra não ficar frio, erguendo a cama, etc…
Enquanto isso eu me apoiava do Lucas e tentava entender essa dor nova! A partir daí eu já era mais sensações do que pensamentos…



O nariz do Lucas, a matrona e a dor..rs

Achava que a dor aguda e forte que tava sentindo era só mais uma evolução das contrações e ok, esperava que esse fosse o caminho mesmo… mas tava frustada porque meus balanços já não resolviam, e era bem ruim a sensação de não saber o que fazer com a dor! Me lembro de ficar reclamando que doía e ouvir do Lucas que era assim mesmo e que eu precisava respirar…
(a Sil tinha descido pro carro pra levar a bola de volta e buscar umas coisas que faltaram…)

Continuando os procedimentos protocolares chatos vieram medir temperatura e tirar pressão e, pior, colocar um acesso venoso na minha mão…
Me lembro das mãos da matrona muito geladas (depois o Lucas me disse que ela tremia muito também) e a primeira vez que ela colocou a agulha errou feio…aquele negócio ficou me doendo – a ponto de incomodar mais do que a contração!! – e pedi pra ela arrumar.. o segundo não foi tão ruim, mas continuou incômodo (aliás, me incomodou por umas 6 horas, até deixarem tirar…)



Matrona colocando o acesso e eu já tentando encontrar outras posições



O aparelho da pressão colocado, mas ela esperando passar a contração pra medir!

Eu disse que tava com vontade de fazer xixi e fomos todos pro banheiro (a Sil diz que a matrona fez uma cara de quem sabia que não era bem isso que eu tava sentindo…rs), mas chegando lá não saiu nada… a matrona deu uma olhadinha, disse que tava vendo o cabelo da bebê (ou ela já tinha dito isso no exame de toque?? não lembro!) e pediu pra que eu saísse da privada pra irmos pra um lugar mais seguro pra Cecília! rs

Ela me perguntou se eu estava sentindo vontade de empurrar e eu disse que não…
Eu ainda achava que aquela dor era só uma contração aguda… e tinha lido em vários relatos de parto que quando os puxos começavam era como se as contrações sumissem e ficasse só uma vontade inconsolável de empurrar…o corpo fazendo força sozinho…era isso que eu tava esperando acontecer! Mas não era o que eu sentia!

Mesmo assim, depois que ela perguntou fiquei curiosa e resolvi aproveitar a contração seguinte pra dar uma empurradinha “pra ver qualé-que-era”… e, putz, a empurradinha aliviou a dor!!!
Aí eu disse: “acho que quero empurrar..posso??” (nessa altura eu já tinha desencanado do espanhol..falava em português e bem baixo..só o Lucas ouvia e traduzia…rs), a matrona respondeu que sim, mas ela tava meio longe, fazendo qualquer coisa…(lembro, por exemplo, de umas 3 vezes as enfermeiras quererem me colocar no soro e ela não deixar!!)

Então começaram uns minutos de angústia: eu tinha entendido que aquilo era vontade de empurrar, mas não fazia idéia de como fazer! E choramingava: “quero empurrar mas não consigo! Não sei fazer!”. Sil e Lucas me apoiavam e diziam: “sabe sim! Se você tá com vontade, faz!” e eu pensava: “seu eu soubesse eu fazia..tô falando que não sei, porra!” hahahaha
Até que um deles me disse: “solta seu corpo que ele sabe fazer, Gabi!”.. e essa frase foi meio libertadora!
Faltava isso: como meu corpo não tinha “assumido o controle” na forma dos puxos involuntários e incontroláveis, eu precisaria me soltar, soltar o controle pra deixar meu corpo agir… e aí eu soltei!
Soltei e as pernas caíram, fui parar numa posição meio de cócoras e fui deixando, a cada contração, o corpo descobrir como empurrar – não foi fácil, não foi natural, não foi por instinto – eu não sabia mesmo!… e fui aprendendo a empurrar – aliás, em determinado momento a matrona colocou a mão no meu períneo e disse “empurra aqui, Gabi” e foi a melhor coisa…acho que só aí meu corpo entendeu direitinho o que tinha que fazer!

A matrona sugeriu que eu usasse a barra da cama pra me apoiar e foi ótimo! 



A de Amor

Fiquei um tempo empurrando assim – ainda no processo de aprendizagem e em algum momento ouvi a matrona ligar pro meu médico e pedir pra ele vir logo porque eu já tava empurrando! (depois me contaram que foram várias ligações nervosas pra apressar o médico – que tava a caminho da praia…ninguém esperava que eu estivesse tão “a ponto de parir”!!!)
Até que segui o pedi do meu corpo e inverti o lado:


 
 

 Assim era bem melhor pra empurrar, mas aí eu não tinha o apoio da cama pra descansar no intervalos das contrações e já estava com as pernas bem cansadas, então o Lucas me segurava assim:


A de Apoio
 
 

Nessa foto aí de cima dá pra ver meu médico colocando a luva. Ele chegou silencioso (eu nem vi), se preparou e sentou aí onde ele tá na foto… Sentou e ficou me olhando… Num intervalo de contração olhei pra ele pela primeira vez e ele me sorriu..um sorriso tão tranquilo, tão sereno, confiante e ao mesmo tempo “apoiador” que aquele olhar ficou gravado na minha memória e até agora me enche de carinho quando lembro!!!

(diferente dele, teve uma hora que o pediatra entrou na sala maior empolgado, gritando um “buenas tardes”, até que percebeu a situação em que estávamos e ficou constrangido! hahahaha – isso me contaram..eu só percebi um barulho a mais rapidamente…rs)

Ficamos um bom tempo nessa posição…o médico me olhando, a matrona atrás de mim e o Lucas me apoiando – não sei onde tava a Sil e nem vi nenhuma dessas fotos ser tirada! Mas de quando em quando eu pedia água e ela me trazia!
Umas 3 ou 4 vezes a matrona veio com um dopler portátil escutar os batimentos cardíacos da bebê… Me disseram que rolava uma mini tensão na sala cada vez que ela encostava e ficava procurando o coração da Cecília…eu não percebia, mas lembro que respirava melhor – e com mais força pra continuar – cada vez que os batidos saíam baixinho daquela maquininha!

Depois de algum tempo assim a matrona veio falar comigo..me explicou que a cabeça da Cecília estava batendo no meu osso púbico e por isso não conseguiria passar naquela posição..me pediu pra virar e subir na cama.
Subi e fiquei sentada bem na pontinha, tão na pontinha que eu escorregava muito! O Lucas subiu na cama atrás de mim e me segurava pela axila, a matrona e a Sil ficaram responsáveis por apoiar cada uma um joelho meu (por isso não tem foto dessa parte) e o médico sentou na minha frente.
Não era confortável ficar escorregando (toda hora o Lucas tinha que me puxar pra cima de volta) e tive que reaprender a empurrar na nova posição…
Me disseram que fiquei muito tempo empurrando assim…com a cabeça dela prestes a sair, já meio coroando… Me ajudaram uma hora a me inclinar de um jeito que conseguisse enxergar (tinha uma barriga no meio do caminho! rs) e eu vi uma coisa preta, pontuda e gosmenta…não acreditei que aquilo era a cabeça dela, achei que era uma gosma qualquer que ia sair antes! hahahaha Mas era sim a pontinha do cone cabeludíssimo que era a cabeça dela nesse momento!!!

Não sei quanto tempo foi e nem senti que foi tanto assim que empurrei “em vão”… só sei que em algum momento a matrona veio empurrar minha barriga e fiquei puta! rs Soltei um grunhido qualquer, o Lucas entendeu o recado e pediu pra ela parar! Humpf! (viu como minha birra com “a matrona substituta” não era tão infundada assim??rs) 

Aliás, fun fact: o Lucas atrás de mim tinha que fazer uma força contrária a minha pra não me deixar cair! Eu escutava ele respirar forte e ritmado e achava que fazia pra guiar a minha respiração…até teve uma hora que a matrona me pediu pra segurar o ar e eu ri, porque o ar que ela tava ouvindo soltar era do Lucas, não meu! rs Só depois do parto é que eu entendi que ele respirava daquele jeito porque tava bem difícil me aguentar, coitado…rsrs

Matrona e médico começaram então a me pedir pra empurrar com mais força e por mais tempo (“pujos muy fuertes y largos”), porque a Cecília não tava saindo! 
Lembro de respirar fundo pra tentar me concentrar e de pedir pra ela “vem, filha..vem!!!” a cada vez que segurava o ar e empurrava com muita força!!! Eu pedia porque estava cansada e queria que terminasse logo, mas, mais do que isso, porque aquela ansiedade que não tinha vindo a gravidez inteira finalmente tinha tomado conta de mim: eu queria minha filha no meu colo e eu queria AGORA!!!


Mais uns puxos assim e, finalmente, senti a cabeça dela saindo!!! Não senti o tal círculo de fogo queimando, mas lembro que a contração em que a cabeça saiu foi bem mais forte e dolorida do que as anteriores – enquanto tava nessa de empurrar já não sentia a dor aguda das contrações (empurrar aliviava, lembra?)…mas essa contração específica eu senti direitinho – senti a onda começar a vir, senti doer e consegui usar isso pra empurrar a cabeça da minha filha pro mundo!
Vi uma movimentação do médico mas não prestei muita atenção…respirei fundo, “descansei” e esperei a contração seguinte, quando empurrei mais um pouco e saiu o resto do corpinho, com aquela sensação de “quiabo escorregando” que todo mundo fala! Uma delícia!!! Pluft!!! Cecília havia chegado!!!!



Ufa!!!! 
O resto fica pra amanhã!! 😉

(continua aqui)

"Foi assim…" – parte 3

(já leu a primeira e  a segunda parte?? Agora elas tem fotos e vídeos! rs)



Confesso que por boa parte da manhã eu ainda não tinha certeza que a Cecília nasceria naquele dia mesmo – inclusive, quando coloquei as datas nas lembrancinhas, escrevi só mês e ano, porque eu ainda pensava “vai que demora mil horas ainda, né?!” rs  E o processo tava tão tranquilo que eu realmente achava que tinha muito o que demorar…rs

Mas aí a bolsa estourou umas 11h30 da manhã e quase que instantaneamente o intervalo entre as contrações diminuiu… Mágico assim! Elas ficaram um tiquinho mais fortes e começaram a vir, mais ou menos, a cada 6 ou 7 minutos… Mas ainda estava fácil! Oh:




E como bolsa estourada é tipo coisa de trabalho de parto em filme, ficamos os três empolgados e começamos a brincar de colocar em prática as posições e massagens que tínhamos aprendido pra facilitar o trabalho de parto…
Mas era só de brincadeira mesmo, porque eu só topava experimentar nos intervalos – quando começava a contração de verdade eu não conseguia ficar parada, mesmo que com alguém massageando… tinha que me mexer, tinha que andar, que balançar…


Maní não curtiu… hahaha


Lucas e Sil fizeram almoço e, também nos intervalos de contração, eu consegui comer um prato com arroz, purê e frango…depois me enchi de melancia e me arrependi fortemente, porque ela ficou o resto do dia conversando comigo! hahaha
Comia sentada na bola e levantava quando começava a doer!


Almoçando

Enrolei a gravidez inteirinha e acabou que nunca fiz a playlist das músicas que ia querer ouvir durante o TP, por isso fiquei com meu bom e velho shuffle tocando músicas e deixei Chico e Baleiro embalarem minhas balançadas!!!

Me dividia entre o celular, pra trocar de música quando necessário e o iPad, pra ir contando as contrações…

E colocar música foi ótimo, porque já tava chato ficar andando de um lado pro outro…rs. Com música eu balançava com ritmo (a Silvia se atreveu a dizer que eu estava dançando…sei não…hahahaha)  e cantava durante as contrações pra ajudar a respirar.

E, uma curiosidade: o balanço que eu adotei daí em diante no TP, ao som das minhas músicas favoritas, é o mesmo balanço que tenho usado pra ninar a Cecília!! E é INCRÍVEL como funciona pra acalmar nós duas na hora do chororô… chega a me emocionar pensar que essa ajuda agora tem tudo a ver com o momento tão bonito que nós duas passamos juntas nesse dia inesquecível!! =)

Amor!
“Faz cara de contração!” hahaha

Por volta de 2 da tarde a dor começou a piorar um pouco e aí eu já precisava me concentrar durante as contrações. Me concentrar pra lembrar de respirar, lembrar de soltar o corpo e, mais do que tudo, lembrar que aquilo tudo significava que minha filha tava chegando!

A Sil anotou
O Lucas completou! hahaha



E nesse momento ganhou muita importância o “mantra” que eu tava usando desde a madrugada: sempre que alguma coisa me desconcentrava do TP, durante a contração eu dizia pra mim mesma “deixa ela vir”. Eu me referia à Cecília, claro, que estava cada vez mais perto, mas me referia também à dor. 
Por isso, quando a dor começou a ficar mais forte era fundamental que eu me lembrasse sempre que estava doendo porque eu e minha filha estávamos trabalhando, porque meu corpo estava fazendo um negócio incrível e grandioso (em tantos sentidos!), porque não era pra ser facinho mesmo, mas valeria a pena….
Eu precisava deixar a dor vir e passar – as contrações funcionam assim, em ondas mesmo…eu precisava trabalhar com a dor, saber que cada apertão era a Cecília um pouquinho mais pra baixo (rs), não podia (e não queria!!!) lutar contra nada do que sentia.. mas na hora do aperto era importante re-lembrar, por isso eu repetia baixinho: “Deixa ela vir!!!”. E, juro, cada vez que eu me lembrava de dizer isso, funcionava! A dor ganhava sentido e perdia intensidade…e assim eu ia levando o processo com bem mais facilidade!

Lucas e Sil estavam sempre por perto! Respeitando meu espaço, me ajudando a lembrar todas essas coisas aí em cima, me dando água e oferecendo comida (que eu não quis mais depois do almoço, apesar de antes ter feito um estoque de coisas gostosas pra comer durante o TP), tentando oferecer massagens e sugerir posições – tadinhos…essa parte eu meio que ignorava mesmo! hahaha Eu só queria balançar!!!


Uma das minhas fotos favoritas! 
Doulando por escrito! hahaha


A essa altura eu já tinha passado o contador de contrações pra Sil…eu só avisava quando começava e quando terminava, então não sabia muito bem em que ritmo estávamos, mas sabia que elas estavam vindo cada vez mais perto!

De manhã havíamos mandado mensagem pro obstetra e pra matrona, deixando-os de sobreaviso sobre o que estava por vir (rs) e ao longo do dia o Lucas foi falando com a matrona por telefone, contando como estávamos e ouvindo instruções dela… 

Em algum momento (imagino que um pouco antes das 3) o Lucas ofereceu que eu fosse pro chuveiro, pra água quente aliviar a dor. A dor realmente estava mais forte e a água viria bem, mas eu resisti um pouco a entrar porque não queria ter que parar de andar… até que eles conseguiram me convencer e fomos os três pro banheiro (ou 5, né, porque Cecília e Maní também foram! rs)… 
A Sil continuava marcando as contrações e mudava de música quando eu pedia. O Lucas, coitado, ficou de um jeito todo torto, se molhando muito, meio dentro, meio fora da banheira, segurando o chuveiro (que aqui é daquele tipo que parece um chuveirinho) de uma maneira que a água estivesse sempre direcionada pra onde eu pedia (geralmente na lombar) e eu pudesse continuar meu balanço lá dentro!!
Aí a coisa começou a apertar!! A dor mudou, ficou mais aguda, mais ardida…e o movimento e a água ajudavam, mas não tanto como antes! 
Lucas começou a me convidar pra sair do chuveiro pra ir pra clínica, mas eu não queria de jeito nenhum, disse que só iria se fosse andando (6 km! hahaha) – acho que foi o único medo que senti durante todo o TP: estar fechada dentro do carro no caminho pra clínica, sem conseguir me mexer!
E, mesmo que pouco, a água ainda tava ajudando… Até que, de repente, eu precisava sair urgente do chuveiro! Não sei se foi minha pressão que caiu com o calor ou o quê..sei que de uma hora pra outra, me deu um siricotico (rs) e eu precisava sair dali! Esperei acabar a contração e pedi pro Lucas pra me ajudar a sair…
Enquanto o Lucas falava com a matrona pelo telefone, eu ia ficando pronta pra ir pra clínica, mas ela pediu pra gente esperar uns 15 minutos antes de sair de casa, já que eu tinha acabado de sair da água quente (depois o Lucas me contou que, na verdade, nesse momento a matrona não estava em Santiago e demoraria ainda uns 30 minutos pra chegar… Ele inventou essa desculpa e ficou me enrolando em casa por mais uns 40 minutos – sem que eu percebesse! rs – porque se chegássemos na clínica antes da nossa matrona, seríamos atendidos pela matrona de plantão e aí “tchau plano de parto!”…!!!

Pra me enrolar o Lucas foi lentamente arrumando as coisas pra sair…rs Fechou as malas, pegou tudo que faltava, fez várias “viagens” pra levar tudo que precisava até o carro, etc…
Eu nem percebi a demora…apesar da dor, estava muito tranquila com o processo… Sentia a Cecília se mexendo e percebia o TP progredindo, então nada me preocupava! Talvez se eu soubesse que a essa altura o intervalo das contrações já era de menos de 2 minutos eu ficasse preocupada!! hahaha 

Mas como eu não sabia, estava só tentando lidar com essa dor nova e muito forte!
Ainda balançava e cantava (agora muito baixo) a cada contração, mas já tava difícil a coisa!

Comentei com a Sil que estava sentindo um pouco de vontade de fazer cocô, mas não sabia se ainda era meu corpo “fazendo a limpeza” (esqueci de comentar na parte 2, mas de manhã fui várias vezes ao banheiro! Coisa linda essa natureza que pensa em todos os detalhes!rs) ou se era a bebê no canal de parto mesmo! (dizem que este é um dos sinais de que o parto está perto!)
Só sei que a dor era aguda e chegava a me dar vontade de chorar um pouquinho quando vinha… eu repetia mil vezes seguidas na duração de uma contração o mantra do “deixa ela vir!”… precisava ficar lembrando de respirar e “relaxar”… e balançava…!

 
Agora sim com cara de dor!


Pedi pra Sil pegar a Maní pra mim – eu não conseguiria abaixar! – porque precisava de colo dela e fiquei assim esperando a hora de sair:



Claro que no caminho entre minha casa e o carro vieram várias contrações e que na saída do elevador encontramos um vizinho que ficou meio apavorado com a cena e nos desejou “suerte”! hahahaha

Achei melhor ir no banco de trás sozinha pra ter mais espaço e, pra minha surpresa, logo que o carro começou a andar a dor melhorou – quase sumiu! – e eu fiquei toda felizona! rs
Pena que só durou até sair da garagem…


(to be continued…)
hahahahaha

"Foi assim…" – parte 2

(pra ler o começo, clique aqui)

 
Acordei as 3:15 da manhã sentindo contrações como as que tinha sentido na caminhada, aproveitei pra ir fazer um xixi e ainda no banheiro veio outra! Voltei pra cama e liguei o aplicativo pra contar o intervalo entre elas, mas na seguinte contração já percebi que deitada o incômodo era bem maior, então voltei pro banheiro… Fiquei um tempo lá andando de um lado pro outro, as contrações vinham a cada 10 minutos e duravam por volta de 1,5 minuto 
 
(parêntesis importante: desde o começo minhas contrações de treinamento eram longas, algumas duravam mais de 2 minutos, quando todos diziam que elas deviam durar uns 30 segundos, mas meu médico tinha me tranquilizado dizendo que cada corpo faz de um jeito mesmo, nada de anormal nesses tempos diferentes…pois as contrações de verdade seguiram o padrão das outras: foram sempre super longas!)
 
Logo ficou claro que andar ajudava demais na dor! Na verdade, enquanto eu andava praticamente não sentia nada, algumas vezes tinha que parar de andar pra ver se já tinha acabado a contração!


Enquanto andava de um lado pro outro no banheiro, uma frase se repetia na minha cabeça: “Que loucura! A Maní já sabia mesmo!”.
Em determinado momento bati o olho no espelho e me deparei com um sorriso ENORME no meu rosto, que até então eu não tinha notado… e aí eu disse pra mim mesma, com a boca cheia de orgulho: “Estou em Trabalho de Parto!!!!”
Comecei a pensar em quão perfeito era aquilo…em como tudo estava acontecendo como eu tinha lido que seria, em como eu tinha mesmo reconhecido quando começou de verdade (aquela velha frase: “quando você estiver em trabalho de parto, você saberá!”), em como a natureza era incrível, as contrações vindo como um reloginho, as sensações todas ali, no meu próprio corpo!!! Só podia mesmo ficar sorrindo!

Aí lembrei que eu não tinha dormido nada e que o processo seria demorado, eu precisava descansar! Voltei pra cama pra tentar dormir, mas quando vinha a contração, deitada, eu não conseguia ignorar, porque já incomodava bastante…ficava me mexendo, procurando uma posição confortável, mas não encontrava…
Achei melhor ir pro sofá, pra não acordar o Lucas (antes da hora..rs), o forrei com uma toalha (“por si acaso…”) e deitei com a Maní…



Quando começava uma contração eu levantava e caminhava pela sala, depois deitava e tentava dormir… mas eu tava muito empolgada e muito encantada com o processo, não conseguia desligar a cabeça! Tava achando o máximo e queria sair gritando pela janela: “Estou em Trabalho de Parto!!!” rsrsrs – mas a gente tinha combinado que só avisaríamos as pessoas sobre o que estava acontecendo quando estivéssemos indo pra clínica, pra não ficar muita pressão, muita gente perguntando…

Umas 4 e pouco da manhã (5 e pouco no Brasil) vi minha mãe curtindo coisas no facebook e tive vontade de mandar uma mensagem só pra jogar conversa fora, aproveitar que tinha mais alguém acordado aquela hora (rs), mas achei que ia dar muita bandeira e segurei a empolgação! hahaha

Fiquei nessa (de deita-levanta) até umas 6 da manhã, quando encontrei um jeito de levantar e balançar a perna, ainda deitada no sofá, que aliviava bastante, aí consegui ficar deitada direto e pude descansar de verdade…
Notei que assim, sem levantar, as contrações se espaçaram (estavam vindo quase a cada 8 minutos e assim os intervalos aumentaram pra mais de 10), mas achei que o descanso valia a pena, então finalmente consegui dormir nos intervalos entre as dores por um pouco mais de 1 hora!

Acordei um pouco antes das 8 da manhã, hora em que tocaria o despertador do Lucas e fui praticamente esperar na porta pra ele acordar e eu poder dar a notícia! O problema é que ele nunca acorda no primeiro toque do despertador e depois de ele apertar o “soneca” pela terceira vez eu não aguentei e fui lá acordar ele! hahahaha
Disse pra ele: “amor, você não vai poder ir na reunião das 9…Estou em Trabalho de Parto” (agora sim, em voz alta!) e ele respondeu “ótimo, então vou dormir mais uma horinha!” hahahahahaha
Ele até virou pro lado e colocou o travesseiro em cima da cabeça, mas CLARO que não conseguiu continuar dormindo! rs Logo levantou, acordou a Silvia (“tá na hora de começar a trabalhar!”) e aí nosso dia começou!

Nesse momento as coisas ainda estavam iguais: contrações mais ou menos a cada 10 minutos, totalmente suportáveis, quase não “sentíveis” se eu estivesse andando… Então comemoramos, tomamos café da manhã tranquilos, arrumamos as últimas coisinhas que faltavam (coloquei a data nas lembrancinhas) e eu voltei a deitar no sofá…

Por volta das 11h30, quando eu estava conseguindo voltar a dormir um pouco, junto com uma contração senti sair um liquido e achei que tinha feito um pouco de xixi por causa da bexiga cheia contraída involuntariamente, mas quando levantei pra ir pro banheiro reparei que a “águinha quente” continuava saindo, então enquanto tentava correr de pernas fechadas (hahaha) pro banheiro, anunciei: “acho que rompeu a bolsa!!!”

E foi aí que a brincadeira começou a ficar interessante! 😉


Doula por escrito…rs




Ps.: tô escrevendo assim dividido, mas juro que não é pra fazer suspense…rs… São dois motivos: primeiro porque está complicado parar pra escrever tudo de uma tacada só e segundo que  quero registrar como lembro, com todos os detalhes que conseguir, e aí vai ficar bem gigante o negócio…
Paciência, paciência…rs

(continua aqui)