Uma década

Hoje é 23 de janeiro de 2024.

Há 10 anos eu terminava meu dia em um passeio com a Maní, sozinha, curtindo a brisa fresca do entardecer ainda claro.

Foi descendo a Avenida Providência, quase chegando no Clube, que senti uma dor esquisita na costela esquerda. Uma repuxada que acendeu meus alertas e marcou meu cérebro a ponto de eu me lembrar até da luz daquele momento. Cecília vinha chegando.

Voltei pra uma casa agitada, onde recebíamos amigos queridos para uma “noitada de RPG”.

A Sil, minha doula e melhor amiga, já tinha chegado do Brasil. As malas estavam prontas, o médico havia voltado de férias.

Estava tudo certo. Cecília já podia vir.

Eu brinquei que ela escolher aquela noite de jogatina pra sua chegada seria como carimbar “nerd” na própria testa. E foi essa noite que ela escolheu.

Ou melhor, a madrugada em que a noite se emendou foi sua escolha… foi ali que tudo começou.

Já era dia 24 há umas 3 horas quando acordei sentindo as primeiras contrações. E já estávamos na 18a hora do dia quando minha Chinchila chegou.

Minha memória tem tantos, tantos detalhes desse dia…

É muito louco retomar esse relato daqui do futuro, 10 anos depois.

Eu era loucamente apaixonada pela Maní e, enquanto ela não desgrudava de mim durante o trabalho de parto, eu pensava o quanto queria muito que ela vivesse o suficiente pra ser parte da vida e das memórias da minha filha. Uma década depois, o coração se enche de alegria por saber que minha amendoinzinha ainda é parte importante da nossa família!

O parto da Cecília, que eu tanto sonhei e desejei, segue sendo uma das experiências mais incríveis e lindas que já vivi.

O Lucas, parceiro de planos e ações e contrações, meu lar no mundo, pai babão da pacotinha que vinha chegando, segue sendo minha dupla nas aventuras da vida.

Mesmo tantos anos longe dos países hispânicos, meu português segue sendo um portunhol meio bagunçado – como pode-se notar em todos os “segue” dessa lista… hahaha

Esse blog, apesar de ser velho, ultrapassado e bastante abandonado, continua sendo meu refúgio…

Cecília não é mais um desejo, um plano, um sonho… é uma pessoa inteirinha. Há dez anos, alías.

Que coisa linda é assistir aquela bolinha de gente crescer, se descobrir, se tornar ela mesma!

O carimbo de nerd na testa eu até acho que ainda tem validade, mas a parte que mais me encanta (e desafia, talvez) nesses anos de maternidade é a percepção constante de que a Cecília é a Cecília. Ela não é uma projeção, uma idealização, uma massa a ser moldada. Ela não é o que eu gostaria que ela fosse. Ela não é contrário disso também. Não é perfeita, não é (só) impressionante, só difícil… não é o resultado absoluto dos meus esforços, não é espelho dos meus erros ou acertos. Ela não é minha.

Ela é só – e completamente – um ser humano (ainda em formação) dela mesma.

E eu tenho a honra de caminhar ao lado dela – ou embaixo dela, porque ela ainda ama estar em cima de mim hahaha.

Dez anos inteiros de assistir uma vida se fazer, é muita coisa – mas é tão pouco comparado aos meus muito mais do que isso… rs

Uma década é tempo o suficiente pra ela estar também se percebendo, se conhecendo, escolhendo seus caminhos… se aproximando de novas fases…

Em algumas horas fará 10 anos que eu recebi em meu colo aquele pacotinho quente e úmido.

Há 10 anos que eu tenho dificuldade de acreditar que um negócio tão incrível assim é real.

Surreal, aliás, é a palavra que tomou conta da minha cabeça e do meu coração há 10 anos.

Ainda que a cada dia, a cada hora, a realidade e concretude da vida com a Cecília me assombre e encante, é surreal pensar no tamanho da sorte que tenho.

Há 10 anos.

(o relato de 10 anos atrás pode ser lido nesse link )

“Risonho e terno”

Segunda feira dessa semana a Grazi , secretária da escola do Dante veio me contar que, sem querer, tinha descoberto (e adorado! ❤ ) esse blog!

Hoje a Pati, uma amiga querida, me disse que as coisas que eu escrevo plantam sementinhas que reverberam em forma de muitas coisas positivas… ah, que amor, gente!!!

E esses dois acontecimentos me deram força (e cara de pau) pra reaparecer aqui como se não tivesse sumido por tantos meses, sem me desculpar, justificar nem nada do tipo…

Vim continuar esse papo sempre tão bom que temos, como se ele nunca tivesse sido pausado… Vamos?!
E vou retornar contando que tenho usado esses tempos sombrios que estamos vivendo pra ter umas conversas muito lindas e importantes com a Cecília.

Enquanto eu acompanho os bafafás acabo abrindo vídeos barulhentos que chama a atenção dela. Ela vem correndo se pendurar em mim pra ver junto e, claro, as perguntas surgem: “porque ela está cantando “ele não”?”, “porque essas pessoas estão gritando?”

“o que é protesto?’ , etc…

E eu tenho tentado explicar pra ela o que está acontecendo…

Já disse que estamos em período de eleição, expliquei que estamos escolhendo presidente (entre outros), mas que está bem difícil porque há muita briga e muitas opniões opostas em jogo. Também contei que tem um homem querendo ser presidente e que tem muita gente – eu inclusive – achando que ele não deveria ser, porque ele fala coisas muito, muito erradas.

Claro que ela quis saber quais coisas (por sorte as perguntas vão chegando aos poucos e dá pra ir conversando devagar, explicando uma parte por vez…rs).

Conversamos então sobre racismo, sobre homofobia , sobre feminismo!

Sim, ela não tem nem 5 anos. E, sim, estou tendo essas conversas com ela.

Uso, claro, argumentos e vocabulários que caibam no seu entendimento e na sua experiência (aproveitando pra expandir um pouquinho onde dá) e tenho o apoio de um livro maravilhoso:

 

 

 

E sabe o que é mais legal?! Cecília adora esse livro, vive escolhendo histórias pra ler, mulheres pra conhecer… às vezes chega com várias de uma vez marcadas, ansiosa pra saber quem são…

E é ela mesma que está fazendo as associações das histórias dessas mulheres com os preconceitos que eu vou explicando, não eu, juro! Às vezes surge quando estou explicando um tema como as questões LBTQ+  (“sei, sei..tipo aquela menina que era um menino mas se sentia menina então era menina”). Às vezes é lendo a história à noite que ela se lembra da explicação da manhã…

É uma delícia ver a cabecinha dela funcionando, entendendo o mundo, entendendo o que é (ou deveria ser) justiça, igualdade, honestidade…

Hoje eu disse pra ela com todas as letras: “a coisa mais importante que eu quero te ensinar é respeito! Que vc respeite aos outros e que respeite a si mesma – pra também ter direito de ser respeitada!” ( tudo bem que foi depois de ela dar umas pancadas no Dante…ética é um negócio que a gente vai ensinando mil vezes ao dia, né?! hehehe)

 

Enfim, esse texto sou eu respirando fundo, encontrando força, comendo chocolate (como bem orientou a maravilhosa Eliane Brum nesse texto aqui, tão, tão necessário), dando um jeito de não ser engolida pela desesperança e pela tristeza!

As conversas com a Cecília (e em breve com o Dante) são um grande de jeito de fazer também algo pelo mundo, espero!

Esse blog é um jeito de fazer algo por mim. É o meu refúgio, mas também meu ativismo.

É meu lugar de gritar #elenão.

 

É minha casa e é uma delícia estar de volta ao lar!

 

 

 

“Flores e espinhos”

Hoje eu tive uma manhã difícil.

Gritei, briguei, bufei, saí de perto, tive vontade de chorar, senti muita, muita raiva.

Dos meus filhos. Por motivos totalmente questionáveis, tipo uma bagunça que dois dias atrás eu deixei ser feita e não arrumada. Uma bagunça que não me causou nada há dois dias, mas que hoje me tirou do meu “normal”.

Hoje eu explodi.

Gritei, briguei, bufei, “saí de perto”, tive vontade de chorar, senti muita, muita raiva.

De mim.

Hoje eu explodi.

Às vezes acontece. Cada vez menos já, ufa!

Essa explosões – por motivos questionáveis – começaram quando o Dante era bebezico.

Até hoje suspeito de uma depressão pós parto.

(Na verdade, com o tal bebezico beirando os 2 anos (sim, juro, ele tá beirando os 2 anos!) eu me pergunto se ainda dá pra chamar de “pós parto” esses “ataques de nervos” que me acometem às vezes.)

Estou me tratando, acho que já contei aqui que voltei pra análise há um tempo, lá atrás, quando percebi que as tais explosões eram minhas e não “por causa dos outros”. Desde então elas diminuíram muito, mas às vezes ainda acontecem.

E às vezes ao invés de vir como raiva, vêm como falta de energia ou como tristeza mesmo.

Quando ele vem, ainda é difícil sair do turbilhão. Por mais que eu perceba no meio da gritaria que não é com/pelas crianças que eu estou gritando, ainda não consigo respirar fundo e virar a chavinha, sair daquilo e voltar a ser mais “normal”. Sair do caos é lento, envolve muita respiração e uma mudança gradual de humores. Normalmente consigo chegar pra deixá-los na escola exausta e triste, mas já sem toda aquela raiva me revirando.

Hoje foi assim.

Quando me vi sozinha na rua, soube que não queria voltar pra casa, pra “cena do crime”; saí andando, precisava passar a tarde sozinha e longe da (minha) realidade. Acabei parando num café e fiquei lá lendo, terminei meu livro e me debulhei em lágrimas. Senti meu peito mais leve a cabeça latejando. Senti uma vontade louca de ir correndo abraçar a Cecília (a mais atingida pela tempestade matinal). Mas me segurei até a hora da saída. rs

Então, quando me viu de longe ela veio correndo com gosto, se pendurou no meu pescoço e me agarrou, parecia até que ela sabia do meu desespero! Que alívio! Que emoção!

Voltamos pra casa e passei o resto da tarde/noite pedindo – e ganhando sem pedir – muitos abraços e beijos dela.

Mais tarde, antes do banho eu precisava cortar sua franja e ela começou a insistir pra que eu cortasse o cabelo todo. Fui cortando e Cecília pedindo pra cortar mais e mais curto! Ela queria na altura da orelha e eu dizendo que não conseguia, que não confiava, mas ela continuava pedindo.
E aí me caiu a ficha: ela confia! Em mim! Totalmente!

Mesmo quando eu explodo. Mesmo quando “eu chovo” nela. Ela confia seu cabelo Chanel nas minhas mãos, como confia seu abraço no meu e sua vida inteira em mim!

Ufa!!!

Caramba!!!

Que forte isso! E que lindo e que rico e precioso e gratificante!
E que baita responsabilidade!

Escrevendo agora percebo que é porque ela confia que eu posso querer ser – e sou – melhor! Ufa!

O mínimo que posso fazer é tentar merecer e retribuir essa confiança, né?!

Por ela. Pra ela. Por nós. E por mim.

Que importante é ser amada e acreditada com tanto coração, não é?!

❤️

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O cabelo novo – que mesmo com muita confiança dela, não tive coragem de cortar na altura da orelha..rs

“You’re shaking my confidence daily”

Então que no dia 24/01 dona Chinchila completou 4 aninhos de vida!

E eu que fiquei esperando o texto perfeito chegar, acabei não escrevendo nada…

Tá delicioso DEMAIS acompanhar a minha menina se tornar cada dia mais menina!

Ela tá tão crescida, tão moça… parceira, conversadeira, boa de papo, solta, cheia de amigos e amigas, suas relações próprias, externas a nós, nos fazendo babar com sua imaginação admirável, adorando nos ajudar em tudo e ser a irmã mais velha!

Mas ainda tem seus momentos de oscilação e de vontade de voltar a ser a bebê da casa… aí haja manha, haja bagunça pra conseguir nossa atenção… e haja paciência, né?!

Os 3 anos foram bem difíceis por aqui! Foi uma fase de muita mudança – das mais concretas até as mais subjetivas – e, claro, ela sentiu e expressou!

E eu também! rs

Os 4 anos chegam com cada vez menos dessas oscilações aí de cima, cada dia um pouquinho mais fácil que o anterior… e eu me pego voltando a babar muito nas deliciosidades dela! Ufa!! Que gostoso também esse reencontro!!

Te amo tanto, tanto minha bichinha! Feliz aniversário por escrito atrasado!

Que você continue deliciosa e terrível! E que precise e queira os meus abraços pra dormir melhor por muuuuuuitooooo tempo ainda!

“Se há dores tudo fica mais fácil”

Há pouco mais de duas semanas, Cecília “rachou” a testa.

Estávamos terminando de brincar no bosque aqui do lado de casa quando ela resolveu correr até o bebedouro, mas no caminho tropeçou na raiz de uma árvore e foi de testa na mureta de cimento do tal bebedouro.

Ouvi de longe o “cloc” do osso batendo contra a pedra dura! Enquanto acolhia o choro (e colocava Dante e Maní no carrinho) tentava avaliar o estrago e escolher as providências…

Vi o risco roxo, no formato da mureta, abrir num corte sangrento enquanto embaixo dele um galo enorme subia. Não consegui decidir se era caso de hospital ou não, então pedi a opinião do Lucas (que tava no trabalho..rs) e achamos melhor levá-la!
No processo de voltar pra casa, limpar o machucado, colocar gelo e fazer o caminho até o hospital já vi que a coisa não era grave e chegando lá só precisamos de um curativo mesmo (ponto falso, talvez?!)

Mas, óbvio que com o susto, o sangue, a dor, os curativos e etc, teve muuuuuuitooooo choro também! E muita história sofrida pra ela contar pra todo mundo! rs

Agora já está tudo bem e não vejo a hora de ela virar fã de Harry Potter pra amar o raio que passou a ter na testa! 😉


Mas, tô aqui escrevendo esse post pra contar outra parte dessa história:

Depois do dia desse acidente ficamos muito tempo sem conseguir voltar no bosque, porque veio pintura da nossa casa, internação do Dante (pois é, depois volto pra contar!), nossa mudança chegando (pois é, depois volto pra contar!x2! Hehehe)…

Enfim, ontem foi o primeiro dia que pisamos lá. E quando chegamos no portão eu pensei em dizer “filha, cuidado pra não tropeçar, lembra que vc caiu aqui”. Eu quase disse. Cheguei a abrir a boca pra dizer. Me contive por um milésimo de segundo. Ainda bem!!!

Porque ela entrou sem hesitar nem um pouquinho! Entrou e me desafiou pra uma corrida. E foi, correndo, na minha frente. Se sentindo em casa, se sentindo livre!

E eu senti um alívio enorme por não ter colocado nela um trauma que ela não tinha. E por não ter tirado dela a coragem e a leveza que lhe caem tão bem! Ainda bem!!!

“Barulhinho Bom”

Quero colocar esse som num mp3, pra dar o play sempre que meus pensamentos forem mais barulho do que clareza. 
Colocar esse som numa caixinha pra eu poder abrir e espiar sempre que estiver com dificuldade pra enxergar as belezas da vida. 
Coloca-lo num spray pra eu dar uma bela respirada nele quando meu peito estiver muito pesado. 
Quero esse som num comprimido, pros momentos em que a vida parecer não ter lá muito remédio.
Quero que esse som me acompanhe, dentro de mim, se confundindo com as batidas do meu coração. 
Que é pra me lembrar todo o tempo da melhor coisa que já fiz na minha vida! ❤️

(ps.: o post de 10 meses do Dante virá um pouquinho atrasado pq ontem o dia foi mais meu do que dele – completei 31 aninhos! 😉)

“Uma luz, uma certa magia”

Filha, anota aí: o amor faz mágica!
Vou te contar:

Ao final de 5 deliciosas semanas no Brasil, tinha chegado o dia de voltarmos pra casa. Mas depois de toda a trabalheira de malas, aeroporto, despedidas doídas, perrengue no raio x… por uma dificuldade burocrática não conseguimos embarcar no avião. Perdemos o voo e “ganhamos” mais uma semana por aqui.

Apesar do cansaço e da saudade – especialmente do papai, que já estava por lá nos esperando ansioso – logo nos demos conta de que esse atraso significaria que você passaria seu aniversário no Brasil.
E foi aí, filha, que a mágica aconteceu!

Uma porção de cabeças, mãos e corações começaram a trabalhar (muito!) e em aproximadamente 30h a Elza, nossa rainha do gelo, ganhou uma festa LIN-DA …… do Toy Story! rsrs
Foi emocionante ver as pessoas que te amam tanto se desdobrando pra fazer acontecer a coisa mais linda desse mundo: sua felicidade!

E, olha, conseguimos, viu?! Porque você estava TÃO feliz no seu “parabéns de Toy Stor” que meus olhos marejaram um monte de vezes com suas gargalhadas escandalosas e seus sorrisos profundos!!!

Agora me diz, em 30h fazer acontecer uma festa dessas, é ou não é mágica?! É ou não é a materialização desse tantão de amor e de saudades que esse povo tem por você?!

Não tenha nunca dúvidas, Cecília: é!!! (só uma das formas de prova ematerialização 😉)

Eu nunca vou terminar de agradecer essa ajuda toda, essa empolgação, essa dedicação, todas as presenças, as vontades, as ideias compradas e dadas, a disposição, o trabalho, a tentativa de enganar um tiquinho a falta que seu pai fez nesse dia especial, enfim…
Então, filha, quando você ler isso aqui, corre e agradece a eles mais um pouquinho, tá?!

Eles merecem os agradecimentos tanto quanto você mereceu a festa!
Você, minha pequena, que nos traz tanta luz, tanto riso, tanta cor, TANTO amor! Você merece toda a alegria que couber aí! 

Feliz aniversário, meu amor!! Nesses seus 3 anos quero escutar muito, todos os dias, as risadas deliciosas que você tanto deu hoje!
Olha só quanta lindeza:

“Te vejo dormir”

Estava aqui me perguntando o que raios acontece dentro da gente quando nossos filhos dormem.
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Não deve acontecer só aqui em casa…

 

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Eu olho pra esses olhinhos fechados, escuto a respiração profunda e sou arrebata (ainda mais) por um amor visceral! Uma coisa louca! Uma vontade, física, irresistível, de cheirar, de acariciar, de beijar (sim, mesmo correndo o risco de acordar os pobres coitados), de ficar ali olhando, namorando, velando o sono… uma força de amor tão forte, que vem como uma onda da qual eu não posso (e nem quero) escapar. Todos os dias. Quando eles dormem.
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Cheguei a conclusão de que deve ter uma explicação.
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Uma explicação muito maior do que o óbvio “quando eles estão dormindo não dão trabalho, não choram, não se fazem de desentidos, não fazem cocôs explosivos…” rs

 

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Acho que deve ser uma coisa evolutiva. Assistir nossas crias dormindo deve ativar esse gatilho de amor louco pra garantir que esses filhotes descansando tão lindamente não ficarão sozinhos e abandonados, expostos aos perigos da natureza enquanto a mãe está caçando o almoço ou tomando um banho de espuma!
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Aposto que Carlos Gonzalez concordaria comigo! 😉

 

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“Um brilho cego de paixão e fé” (parte 3)

Levei a manhã normalmente, ainda que me sentindo super podre da gripe. Cecília voltou da escola bem jururu… Comecei a desconfiar que tínhamos poucas chances de conseguir ir à noite no evento que tínhamos programado no MBA do Lucas…
Quando por volta de 2h30 tarde me deitei no chão ao lado da cama da filhota, pra esperar que ela embarcasse na soneca, notei que as contrações estavam frequentes (“ainda ou outra vez?”) e ardidas.

“Ardidas!?!”

Me faziam lembrar perfeitamente das dores das contrações do primeiro parto – dores que eu havia esquecido há muito tempo.

Umas 3 e pouco, comecei a contar as idas e vindas delas no aplicativo e  ficou claro que elas não paravam de vir, mas vinham sem ritmo nenhum!

Na minha cabeça até que fazia sentido, afinal, “eram só os pródromos” – comecei, aliás, a me preparar psicologicamente pra ter uns 10 dias de pródromos (esperando o dia 21) e me preocupava, “putz.. Será que fica direto ardido desse jeito?”

Não conseguia mais não marcar cada contração que vinha… 20 minutos de intervalo, depois 9, depois 20, depois 13, depois 22, depois 6… Os intervalos não faziam nenhum sentido, mas elas continuavam a vir, ardidas, incômodas, seguidas…

Eu conhecia aquela dor. Da última vez que a senti, terminei o dia com uma bebéia no colo. Mas da última vez ela já tinha começado ritmada. E esse “tempo X intensidade” tão contraditório (quanto os meus desejos) me deixou confusa…

Racionalmente eu tentava me convencer de que não era nada “vc não cansou de ler relatos de parto com diaaaas de pródromos? Te prepara, que é a tua vez!”

Mas lá dentro eu sentia… Eu sabia que era mais!

Depois de uma hora dormindo no quarto, a Cecília veio me encontrar na sala, ofereci meu colo e ela logo voltou a dormir. Eu aproveitei e abracei forte, beijei, (tentei) senti(r) seu cheirinho… E comecei a chorar!

Eu sentia.. Eu sabia… Tinha chegado a tal hora das mudanças que esperávamos há meses! Queria aproveitar o máximo desse resto de tempo que tínhamos de “só nós duas” e fiquei lá, mais de uma hora numa posição absolutamente desconfortável, respirando fundo a cada contração que continuava a arder!

fiz questão de registrar, porque sabia que era um momento especial…

 

Umas 17:30 achei que seria de bom tom avisar o Lucas que “algo estava acontecendo”… Eu continuava discutindo comigo mesma – “é pródromo!”; “não é!”, mas “vai que…”, né?!

Mandei mensagem contando que estava há horas com contrações, mas que não era nada, que podia ficar dias assim. Pfff! O bichinho ficou nervoso! rs “vou pra casa!” – não precisa!. “Liga pra médica” – não é hora ainda. “Pede pra alguém ir ficar com você” – não quero!
Eu só queria continuar ali, deitada com a Cecília… Continuar meu dia normal e não ficar ansiosa, pra poder descobrir de verdade o que estava acontecendo.

E foi o que fiz! Quando ela acordou fui lavar e pendurar roupas, fizemos nosso lanche da tarde e entramos no nosso banho, como sempre! Só que dessa vez tudo temperado com contrações e muita tosse. E o banho com uma função especial: “se for pródromo, o chuveiro acalma!”

Entre me lavar e dar banho na Cecília, uma contração sem dor nenhuma: “há! Não disse que não era de verdade?!” com aquela satisfação por estar certa e aquela chateação por estar errada… rs

Mas justo quando ia abaixar pra fechar o chuveiro vem outra, ardida, forte. Uma que não deu pra ignorar; que pediu que eu me mexesse pra deixar ela passar… Então rebolei! rs

E a Cecília, curiosa:  “O que vc tá fazendo, mãe?” “Tô rebolando “. “Porque tá doendo sua barriga?” “É, filha!” “Então rebola, mãe, é melhor”!!! ❤ !!!

(Já contei pra vocês que ela viu vários vídeos de parto comigo ao longo da gravidez?!? rs)
Enfim, concordei que era melhor o Lucas vir pra casa, mas continuei na rotina normal com a Cecília. Contradição, lembram?! Hehehe

Ele chegou em casa rindo, tinha visto o gráfico do aplicativo das contrações que mandei pra ele

(Monicas Gellers que estejam lendo, maior legal esse aplicativo de control freaks, recomendo! Hahahaha)

E abriu a porta falando “só você acha que não tá em trabalho de parto!” Hahahaha

Que alívio ouvir essa frase! Tecnicamente eu sabia que não era TP, mas … Eu também sabia que era! Que bom sentir que eu não estava sozinha na tal percepção! rs

Só aí me permiti entrar no “modo parto”: fui terminar o que faltava nas malas, ligar pra médica, ajudar o Lucas a definir com os amigos a questão da Cecília, explicar pra ela que o Dante ia nascer(!!!), etc.

Quando falei com a médica as coisas continuavam na mesma: dor ardida e contrações sem ritmo. Como já estava assim há mais de 4 horas ela me sugeriu três opções: 1- esperar em casa pegar ritmo;2- ir pro hospital avaliar e se fosse cedo ainda ficar ali por perto, talvez só subir pro quarto ou 3- ir pro hospital e já internar mesmo. Optei pela segunda, pela distância do hospital e aquele medo de a coisa estar muito avançada na estrada…rs

 

Ainda demoramos mais 1h pra sair de casa, deixamos a Maní com uns amigos, a Cecília com outros e fomos pra Madrid. Nesse meio tempo também avisei a fotógrafa e uma parte da minha família – até porque a agitação fez com que as contrações finalmente ganhassem ritmo – ainda que 1 a cada 9 minutos não fosse lá sinal de TP ativo…rs

No carro elas já tiravam minha concentração, mas estavam absolutamente suportáveis – “ainda bem que viemos agora!”. Mesma coisa no cardiotoco que tive que fazer na chegada ao hospital – “se eu tivesse em TP mais avançado estaria puta de ter que ficar deitada aqui esse tempo todo”

Eram umas 10 da noite. “Contrações a cada 7 minutos. 4 cm de dilatação. Com certeza você tem que passar a noite aqui!”
“Uia! Não é que é mesmo?!”rs

Um misto de surpresa, com “eu já sabia”, com “ufa! Que bom!”, com “putz.. Já, filho?!”
Ok, ok.. Mas a gente pode ir jantar antes??
Fomos num bar ali do lado. Lucas quis um hambúrguer, eu, uma salada (“pode ir jantar, mas nada muito pesado”)

Lucas pediu pra não demorarem e já trazerem logo a conta também  “ela está em trabalho de parto, a gente pode ter que sair correndo a qualquer momento!”

A garçonete deve ter ficado nervosa, porque minha salada chegou voando, mas toda mal feita, alface super molhada, lavada às pressas, imagino, eca!.. Morri de inveja do hambúrguer e devorei as batatas fritas do Lucas. “Salvadoras batatas!”

No bar constatei que depois do exame de toque o intervalo das contrações tinha caído pra 5 minutos e tinha começado a sair o tampão “será que essa mulher descolou membranas???”  (depois a minha matrona disse que conhece a médica que me examinou e que ela não faria isso sem me falar nada..)

De qualquer forma, fiquei meio ansiosa e quis voltar logo pro hospital. Chegamos de volta junto com a Eva, fotógrafa e subimos para o quarto.

O plano era ficar por ali, de boas, como se estivéssemos num hotel, esperar o TP engrenar mais pra descer pro paritorio. Mas o quarto era tão minúsculo e apertado que assim que a médica e a matrona chegaram e deram essa opção, quis descer pra “começar a brincadeira num lugar mais legal”!!!

Continua….