“Risonho e terno”

Segunda feira dessa semana a Grazi , secretária da escola do Dante veio me contar que, sem querer, tinha descoberto (e adorado! ❤ ) esse blog!

Hoje a Pati, uma amiga querida, me disse que as coisas que eu escrevo plantam sementinhas que reverberam em forma de muitas coisas positivas… ah, que amor, gente!!!

E esses dois acontecimentos me deram força (e cara de pau) pra reaparecer aqui como se não tivesse sumido por tantos meses, sem me desculpar, justificar nem nada do tipo…

Vim continuar esse papo sempre tão bom que temos, como se ele nunca tivesse sido pausado… Vamos?!
E vou retornar contando que tenho usado esses tempos sombrios que estamos vivendo pra ter umas conversas muito lindas e importantes com a Cecília.

Enquanto eu acompanho os bafafás acabo abrindo vídeos barulhentos que chama a atenção dela. Ela vem correndo se pendurar em mim pra ver junto e, claro, as perguntas surgem: “porque ela está cantando “ele não”?”, “porque essas pessoas estão gritando?”

“o que é protesto?’ , etc…

E eu tenho tentado explicar pra ela o que está acontecendo…

Já disse que estamos em período de eleição, expliquei que estamos escolhendo presidente (entre outros), mas que está bem difícil porque há muita briga e muitas opniões opostas em jogo. Também contei que tem um homem querendo ser presidente e que tem muita gente – eu inclusive – achando que ele não deveria ser, porque ele fala coisas muito, muito erradas.

Claro que ela quis saber quais coisas (por sorte as perguntas vão chegando aos poucos e dá pra ir conversando devagar, explicando uma parte por vez…rs).

Conversamos então sobre racismo, sobre homofobia , sobre feminismo!

Sim, ela não tem nem 5 anos. E, sim, estou tendo essas conversas com ela.

Uso, claro, argumentos e vocabulários que caibam no seu entendimento e na sua experiência (aproveitando pra expandir um pouquinho onde dá) e tenho o apoio de um livro maravilhoso:

 

 

 

E sabe o que é mais legal?! Cecília adora esse livro, vive escolhendo histórias pra ler, mulheres pra conhecer… às vezes chega com várias de uma vez marcadas, ansiosa pra saber quem são…

E é ela mesma que está fazendo as associações das histórias dessas mulheres com os preconceitos que eu vou explicando, não eu, juro! Às vezes surge quando estou explicando um tema como as questões LBTQ+  (“sei, sei..tipo aquela menina que era um menino mas se sentia menina então era menina”). Às vezes é lendo a história à noite que ela se lembra da explicação da manhã…

É uma delícia ver a cabecinha dela funcionando, entendendo o mundo, entendendo o que é (ou deveria ser) justiça, igualdade, honestidade…

Hoje eu disse pra ela com todas as letras: “a coisa mais importante que eu quero te ensinar é respeito! Que vc respeite aos outros e que respeite a si mesma – pra também ter direito de ser respeitada!” ( tudo bem que foi depois de ela dar umas pancadas no Dante…ética é um negócio que a gente vai ensinando mil vezes ao dia, né?! hehehe)

 

Enfim, esse texto sou eu respirando fundo, encontrando força, comendo chocolate (como bem orientou a maravilhosa Eliane Brum nesse texto aqui, tão, tão necessário), dando um jeito de não ser engolida pela desesperança e pela tristeza!

As conversas com a Cecília (e em breve com o Dante) são um grande de jeito de fazer também algo pelo mundo, espero!

Esse blog é um jeito de fazer algo por mim. É o meu refúgio, mas também meu ativismo.

É meu lugar de gritar #elenão.

 

É minha casa e é uma delícia estar de volta ao lar!

 

 

 

“Educação Sentimental “

Há muito que quero ensinar à minha filha nessa vida e sei que a maioria das coisas importante se ensina não por discurso e/ou imposições, mas através de exemplos…

Sem dúvida foi assim que aprendi com meus pais a amar livros e músicas e é assim que venho “contaminando” a Cecília.

Do alto de seus nove meses a pequena tem um monte de livros (a maioria presente da vovó Nanci) e os adora, seja pra ler com a mamãe e o papai ou pra “introjetar” os conteúdos:

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E música?!?
Ela ouve comigo e curte desde a barriga e reconhece algumas músicas preferidas (sorrindo ou se acalmando) desde muito pequeninha!!! Agora já aprendeu a dançar e muitas vezes capta uma música no ambiente e começa a balançar os bracinhos antes que eu tenha escutado qualquer coisa!

Hoje comecei a dar uma nova lição. Lição que minha mãe começou a me passar muito cedo, quando eu tinha meus poucos 1 ano e 10 meses. Lição que eu não esqueci nunca, que mora no meu coração desde que me conheço por gente!
Hoje levamos a Cecília pra assistir seu primeiro show!!!

Fomos eu e minha mãe com ela, pra relembrar os velhos tempos e recomeçar uma tradição. O show era da Banda Estralo, “Estórias de Cantar”, recheado de poesias, musicas de qualidade e muita gracinha pra criançada, muito gostoso!!!

Estávamos receosas que ela se assustasse, que fosse muito novinha pra aproveitar… Se acertamos ou não?!
Da uma olhadinha no vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=tE1CkOhxTJ4&list=UU7Yer89BLpCSKu-RtaWt0tg

Acho que estamos no caminho certo!!! =)

(ps.: alguém aí me ensina a colocar vídeos no wordpress??rs)

"Com açúcar, com afeto"

As teclas nas quais eu mais bato nesse blog, traduzidas num documentário lindo!!!


http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=4JSvrCf_aU4#!



– Amor à língua portuguesa;
– Expatriação;
– Bilinguismo.



(infelizmente não estou conseguindo colocar o vídeo aqui, mas é só clicar no link e correr lá pra assistir, ok?!)

Depois vocês me contam se fui a única que chorou assistindo…
hahahaha

"Tô lhe contando que é pra lhe dar água na boca"

“Chico é como um parente distante, que chega de repente e penetra na intimidade do nosso lar.”



A frase é no Nelson Rodrigues, o livro é da Regina Zappa, a biografia é do Chico Buarque, o presente eu ganhei do Lalo.

Mas quem se delicia sou eu. Quem está ainda mais apaixonada, sou eu!
Sério, dá vontade de ler esse livro infinitamente, pra sempre, todos os dias…

Ele traz a sensação de que estou do ladinho do Chico, escutando ele e amigos muito próximos a ele narrarem lindas histórias sobre uma vida que eu queria ter vivido; ou pelo menos acompanhado de perto.
(como eu sempre digo, nasci na época errada!)

É só a sensação, mas já é tão gostoso!!!Acho que isso é o que todo livro deveria proporcionar ao seu leitor…
Esse acertou na mosca!

No final, as histórias são do Chico e sobre o Chico, eu não estava lá pra ver e contar, a Beneton não gravou tudo e a globo só passou umas partes…mas o bom é poder abrir o livro e tê-las ali, pra hora que eu quiser relembrar, como se elas quase fossem minhas!





Ah! Não preciso nem dizer que nos dias em que estou lendo não consigo ouvir nenhuma outra coisa, né?! 

Feijoada Completa

“Feijão podre! Um símbolo de nosso regime, da podridão de nossos governantes e políticos. O Brasil, Clare, é um país saqueado. De fora para dentro. De dentro para fora. De cima para baixo… Ninguém nunca é responsabilizado por coisa alguma. Ninguém vai para a cadeia. Ó não! Somos encantadores, temos corações de ouro maciço! Inventamos as anedotas mais engraçadas do mundo. Achamos que todos devem nos adorar, pois não somos hospitaleiros e bos causeurs? Fazemos troça de todos, inclusive de nós mesmos. Temos remédios infalíveis para os males de todos os países, menos para os do nosso. A simpatia no Brasil é a grande panacéia. E é nessa simpatia, Clare, nesse nosso bom-mocismo (que torna o convívio com o brasileiro individualmente tão agradável), que reside nossa desgraça como nação! No Brasil tudo está bem se um sujeito é simpático. Por simpáticos (e também irresponsáveis e levianos) esperamos que as coisas no caiam do céu. Por simpatia votamos em homens incompetentes e ou desonestos para os cargos públicos. Se somos governantes ou políticos, por simpatia dizemos sim a tudo que nos pedem, embora depois não cumpramos o prometido. Por simpáticos damos empregos ou concessões rendosas (nem sempre lícitas) a parentes, amigos, compadres, afilhados, protegidos… e, que diabo!, por simpáticos fazemos as maiores concessões a nós mesmos, e satisfazemos a todos os nossos apetites. E essa nossa simpatia, sinal, repito, dum coração de açúcar, nos impede de fazer cumprir a lei, de sorte que bandidos e ladrões andam às soltas e podem ser senadores, deputados, governadores e até presidentes da República. Por simpáticos achamos que todos nos devem ajudar sem nunca no pedir contas de nada. Por simpáticos (ah! e por inteligentes, espertos e mestres na arte da improvisação) não panejamos, e confiamos sempre nas soluções mágicas. Porque no Brasil se acredita que até o deus ex machina é brasileiro. Ah, Clare! Como somos simpáticos! Você já tinha notado isso, não? Pois é. Somos tão simpáticos que nos acostumamos à miséria em que vivem mais de dois terços da população total do país… uma miséria abjeta que, no nosso Nordeste, é igual ou pior que a asiática… E como somos simpáticos e caridosos e, às vezes, vamos aos domingos à missa, durante a qual sorrimos e acenamos de longe pra Deus (que deve ser um sujeito simpático), de vez em quando damos esmolas aos mendigos, vagamente convencidos de que assim estamos contribuindo para resolver o problema social…”

Trecho do livro “O Senhor Embaixador” de Erico Verissimo, de 1965

Um belo tapa na cara de nós brasileiros, não é?!

Fiquei pensando que talvez um pouco por isso eu seja tão anti-social e antipática… Faz sentido se juntar com essa vontade toda de morar fora do Brasil…

Mas aí o tapa na cara é maior ainda!
Aquele velho blábláblá: “você pode tirar o sujeito do Brasil, mas não pode tirar o Brasil do sujeito”…

Aliás, ganhei o livro do meu tio Milani, depois de ter pedido um “clássico que não se pode deixar de ler”. Escolha perfeita!
Tapa na cara dolorido, daqueles que a gente precisa tomar de quando em quando…

Acabo de terminar a leitura e adorei! Recomendo muito!

Quem dera Kundera

Os trechos abaixo pertencem ao livro “A insustentável leveza do ser” (ou “La insoportable levedad del ser”), do Milan Kundera. Estão em espanhol porque só tenho esta versão aqui e não ouso traduzir um livro desses! rs




“Ésa es la imagen de la que nació. Como dije ya, los personajes no nacen como los seres humanos, del cuerpo de su madre, sino de una situación, una frase, una metáfora en la que está depositada, como dentro de una nuez, una posibilidad humana fundamental que el autor cree que nadie ha descubierto aún o sobre la que nadie ha dicho aún nada esencial.
Acaso no es cierto que el autor no puede hablar más que de sí mismo?
Mirar con impotencia el patio y no saber qué hacer; oír el terco sonido de las propias tripas en el momento de la emoción amorosa; traicionar y no ser capaz de detenerse en el hermoso camino de la traición; levantar el puño entre el gentío de la Gran Marcha; hacer exhibición de ingenio ante los micrófonos secretos de la policía; todas esas situaciones las he conocido y las he vivido yo mismo, sin embargo de ninguna de ellas un personaje como el que soy yo, con mi curriculum vitae. Los personajes de mi novela son mis propias posibilidades que no se realizaron. Por eso los quiero por igual a todos y todos me producen el mismo pánico: cada uno de ellos ha atravesado una frontera por cuyas proximidades no hice más que pasar. Es precisamente esa frontera (la frontera tras la cual termina mi yo), la que me atrae. Es más allá de ella donde empieza el secreto por el que se interroga la novela. Una novela no es una confesión del autor, sino una investigación sobre lo que es la vida humana dentro de la trampa en que se ha convertido el mundo. Pero basta. Volvamos a Tomás.””


(…)


“Y se le vuelve a ocurrir una idea que ya conocemos: la vida humana acontece sólo una vez y por eso nunca podremos averiguar cuáles de nuestras decisiones fueron correctas y cuáles incorrectas. En la situación dada sólo hemos podido decidir una vez y no nos ha sido una segunda, una tercera, una cuarta vida para comparar las distintas decisiones.””




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Estou em pensando em começar a escrever ficção…

"Agora sabes que sou verme…"

Nestas duas últimas duas semanas devorei dois livros: “O Físico – a epopéia de um médico medieval” de Noah Gordon, que ganhei de presente de despedida do amigo Pedro Mosca (e que tem 588 páginas!) e o “Bala na Agulha – reflexões de boteco, pastéis de memória e outras frituras”, livro de crônicas rápidas e boas de ler do Zeca Baleiro. Sim, em menos de 15, tendo aulas de segunda a sábado, li e me deliciei com os dois! Ambos são ótimos e merecedores de comentários à parte (quem sabe num outro post), mas independente dos livros, sou bem grandinha (e suficientemente analisada) pra saber que mergulhar loucamente nas páginas e nos pensamentos dos outros é o meu jeito mágico de fugir dos meus próprios pensamentos – é normal, de tempos em tempos faço este afogamento literário…
Mas aí eu percebi (ou assumi) também que estar afundada adorando um livro é mais um motivo pra poder ficar só comigo no meu mundinho, com uma boa desculpa pra que as outras pessoas atrapalhem!


Mas pera lá, não é pra culpar o livro, não! A “culpa” é só minha mesmo!!! Sou anti-social cada vez mais assumida, tenho preguiça de fazer amigos e, muitas vezes, tenho preguiça de conviver com os amigos já feitos.
Como disse uma estranha que encontrei no twitter outro dia: não é timidez, mas sim espontaneidade seletiva (via @bnclarissa). É isso, sabe, eu GOSTO de ficar sozinha! Quase sempre e desde sempre! A espontaneidade é seletiva porque de vez em quando me dá uns surtos de sociabilidade em que quero meus amigos perto (só os já amigos, vejam bem!) pra rir e falar bobagem e ficar bêbada de coca-cola, etc…


Mas são muito poucos os que eu sempre prefiro à solidão, poucos mesmo!


A Gilda, mãe da Patricia – minha madrasta – diz até hoje que não se conforma com as horas que eu era capaz de passar em baixo de uma mesa brincando sozinha quando criança. 
Entendeu? Desde sempre!
Não é pessoal, não é porque eu tô num país novo em que não falo muito bem a língua, não é porque tô com saudades de São Paulo, não é que eu não goste das pessoas. Não é porque todas elas fumam.
Eu “ainda não fiz amigos” na faculdade nova porque essa sou eu!
Até porque, acho que eu não faço amigos…eu observo de fora, por um bom tempo, até saber onde tô disposta a entrar de vez em quando. E, claro, eventualmente, acabo sendo fisgada e conquistada por pessoas interessantes e queridas!
Mas eu prefiro ficar em silêncio no meu canto, muitas horas por dia, mesmo estando em São Paulo, com as pessoas em volta falando português… É por isso, por exemplo, que no CTR eu preferia ficar no meu banquinho secreto do lado de fora e não na sala de produção! É por isso que 80% das vezes eu escolho ir pra casa à “dar uma esticadinha em algum lugar”. É por isso que eu fico offline no gtalk, no msn, no bate papo do facebook.
Desculpe se alguém se ofende com isso. De verdade, desculpe. Mas agora vocês já sabem: essa sou eu!



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Hoje conversei um pouquinho por skype com a minha filha querida, Silvinha, e ela tava me contando que vai fazer um curso de meditação em que ficará 10 dias SÓ meditando. Sem falar com ninguém, sem ver televisão, filmes, sem ler, sem usar o telefone, sem internet, sem nenhum tipo de contato com o mundo exerior. Só meditando!
Tenho certeza de que será uma experiência incrível pra ela, acho ótimo que ela vá! Mas a primeira coisa me passou pela cabeça foi: eu nunca conseguiria uma coisa dessas! (Por isso, Sil, se você consegue, aproveita!!!rs)

Depois mais a noite fiquei pensando: ué, se eu gosto tanto de ficar sozinha, só eu comigo, porque será que tenho tanta certeza de que não conseguiria fazer uma coisa dessas? Fácil! Lá eu não poderia usar nenhum método mágico de escape: sem mil livros seguidos pra ler compulsivamente; sem episódios de uma série bacana pra assistir seguidos, até doer o corpo todo na cadeira; sem nem uma musiquinha pra colocar bem alto e cantar, cantar, cantar…
A conclusão é que nessas circunstâncias eu teria muitas brigas comigo mesma! Não sei se eu me suporto tanto tempo e com tanta intensidade….rs
Mas confesso que fiquei curiosa pra saber…