Hoje é 23 de janeiro de 2024.
Há 10 anos eu terminava meu dia em um passeio com a Maní, sozinha, curtindo a brisa fresca do entardecer ainda claro.
Foi descendo a Avenida Providência, quase chegando no Clube, que senti uma dor esquisita na costela esquerda. Uma repuxada que acendeu meus alertas e marcou meu cérebro a ponto de eu me lembrar até da luz daquele momento. Cecília vinha chegando.
Voltei pra uma casa agitada, onde recebíamos amigos queridos para uma “noitada de RPG”.
A Sil, minha doula e melhor amiga, já tinha chegado do Brasil. As malas estavam prontas, o médico havia voltado de férias.
Estava tudo certo. Cecília já podia vir.
Eu brinquei que ela escolher aquela noite de jogatina pra sua chegada seria como carimbar “nerd” na própria testa. E foi essa noite que ela escolheu.
Ou melhor, a madrugada em que a noite se emendou foi sua escolha… foi ali que tudo começou.
Já era dia 24 há umas 3 horas quando acordei sentindo as primeiras contrações. E já estávamos na 18a hora do dia quando minha Chinchila chegou.
Minha memória tem tantos, tantos detalhes desse dia…
É muito louco retomar esse relato daqui do futuro, 10 anos depois.
Eu era loucamente apaixonada pela Maní e, enquanto ela não desgrudava de mim durante o trabalho de parto, eu pensava o quanto queria muito que ela vivesse o suficiente pra ser parte da vida e das memórias da minha filha. Uma década depois, o coração se enche de alegria por saber que minha amendoinzinha ainda é parte importante da nossa família!
O parto da Cecília, que eu tanto sonhei e desejei, segue sendo uma das experiências mais incríveis e lindas que já vivi.
O Lucas, parceiro de planos e ações e contrações, meu lar no mundo, pai babão da pacotinha que vinha chegando, segue sendo minha dupla nas aventuras da vida.
Mesmo tantos anos longe dos países hispânicos, meu português segue sendo um portunhol meio bagunçado – como pode-se notar em todos os “segue” dessa lista… hahaha
Esse blog, apesar de ser velho, ultrapassado e bastante abandonado, continua sendo meu refúgio…
Cecília não é mais um desejo, um plano, um sonho… é uma pessoa inteirinha. Há dez anos, alías.
Que coisa linda é assistir aquela bolinha de gente crescer, se descobrir, se tornar ela mesma!
O carimbo de nerd na testa eu até acho que ainda tem validade, mas a parte que mais me encanta (e desafia, talvez) nesses anos de maternidade é a percepção constante de que a Cecília é a Cecília. Ela não é uma projeção, uma idealização, uma massa a ser moldada. Ela não é o que eu gostaria que ela fosse. Ela não é contrário disso também. Não é perfeita, não é (só) impressionante, só difícil… não é o resultado absoluto dos meus esforços, não é espelho dos meus erros ou acertos. Ela não é minha.
Ela é só – e completamente – um ser humano (ainda em formação) dela mesma.
E eu tenho a honra de caminhar ao lado dela – ou embaixo dela, porque ela ainda ama estar em cima de mim hahaha.
Dez anos inteiros de assistir uma vida se fazer, é muita coisa – mas é tão pouco comparado aos meus muito mais do que isso… rs
Uma década é tempo o suficiente pra ela estar também se percebendo, se conhecendo, escolhendo seus caminhos… se aproximando de novas fases…
Em algumas horas fará 10 anos que eu recebi em meu colo aquele pacotinho quente e úmido.
Há 10 anos que eu tenho dificuldade de acreditar que um negócio tão incrível assim é real.
Surreal, aliás, é a palavra que tomou conta da minha cabeça e do meu coração há 10 anos.
Ainda que a cada dia, a cada hora, a realidade e concretude da vida com a Cecília me assombre e encante, é surreal pensar no tamanho da sorte que tenho.
Há 10 anos.
❤
(o relato de 10 anos atrás pode ser lido nesse link )