“Não dá pra falar muito, não”

Essa noite sonhei que eu e o Lucas estávamos visitando aquela que seria nossa nova casa, recém construída, ainda vazia e cheirando a tinta. Era uma mansão enorme e incrível, com 8 pias no banheiro, pra cada um escolher qual quer usar em qual circunstância e, no quintal, uma espécie de parque de diversões com uns brinquedos muito malucos e divertidos! Mas o mais legal dessa casa era que quase toda a volta dela dava diretamente pro mar, como se ela fosse uma ilha. E de uma das varandas principais, esse mar dava pro Brasil! A gente chamava da janela e nossos amigos e familiares apareciam na praia do lado de lá pra dar um oi, ver a gracinha nova da Cecília ou até dar um mergulho e vir nadando nos visitar! Imagina que sonho?! ❤

Hoje faz 5 anos que nos mudamos do Brasil pela primeira vez. O que significa também que faz pouco mais de 1 ano que estamos morando aqui na Espanha.

Ao longo desses anos escrevi sempre sobre esse nosso aniversário, alguns post que eu gosto muito, aliás e  vocês podem ler aqui, aqui e aqui.
Mas já notaram que eu escrevi pouquíssimo sobre a vida na Espanha?

 A verdade é que eu, que me achava A ADAPTADA, expatriada de profissão (rs), não me adaptei completamente aqui.

Não consigo explicar racionalmente a saudade que sinto do Chile, porque não deve mesmo ser racional, afinal, aqui a qualidade de vida é melhor, é mais seguro, vivemos num bairro que parece de mentirinha de tão charmoso e todas aquelas vantagens famosas de se morar na Europa. Mas a verdade é que deixei um tantão do meu coração lá e esse tantão certamente faz falta pra que o aqui possa me conquistar de vez!

Como eu já disse, essa coisa de se saber tão longe ainda pega forte pra mim.

Sei lá, é psicológico mesmo..rs. Mas era muito mais fácil este longe do meu país e das minhas pessoas quando eles estavam mais perto e mais acessíveis.

Enfim, esse poço de emoções descontroladas que sou eu agora (hahaha) não tem um post emocionado sobre o aniversário de hoje. Acho que não me abri o suficiente pra aprender coisas com a vida na Espanha e vir aqui escrever sobre os aprendizados do último ano. 

O que sim fica claro pra mim é que não importa  quantos anos passem, cada um deles é contado, é sentido e é significativo quando se trata de mudança, de distância e de vida nova – adjetivo, aliás, que parece nunca perder o sentido e o frescor nas aventuras do lado de cá!

"Mais de dez mil anos se passaram-se"

Dois dias: “Começando”

Seis meses: “Pra mim meia dúzia é seis, hein?!”

Doze meses: “Ponha a roupa de domingo”

Dezoito meses: “Brasil, recruta o teu pessoal”

E foi assim, em uma piscada de olhos, em um ou outro passo, em 4 postagens no blog… PUFF! Dois anos se passaram! 2 ANOS INTEIRINHOS!!!
É difícil colocar mais palavras do que essas aí de cima…

No dia 12/02/2011 éramos estes aí:



Dois anos depois, 12/02/2013, e ainda somos estes daí….tão iguais e tão mudados…

Mudei porque aprendi a conviver diariamente com a saudade, aprendi que o amor e a distância não são tão incompatíveis como se costuma dizer, aprendi que morrer de vontade não mata, aprendi que apoio e abraços virtuais também dão conta, mas também aprendi a força de um abraço de verdade.
Aprendi que meu marido é meu lar, aprendi que (meu) cachorro é um ser absolutamente amável, aprendi que a maternidade (mesmo a canina) é de um amor sem tamanho. 
Aprendi que não só a neve tem a capacidade macia de absorver as quedas e ao mesmo tempo gelar até a alma.
Aprendi que minha casa tem minha cara, o cheiro da Maní e o conforto do Lucas.
Aprendi que família se escreve com quantas letras você bem entender. 
Que chuva é bem melhor quando é rara. E que calor é menos pior quando é seco. 
Aprendi que o cérebro faz misturas malucas de idiomas. E que algumas coisas a gente só pode dizer mesmo na nossa língua materna.
Aprendi o significado de pátria e o significado de “hogar”.
Aprendi que clichê não é coisa de linguística, mas de coração.

Foram dois anos “fora de casa”, dois anos no “nosso lugar”.

E que venham agora todos os outros anos que temos pela frente… sejam no Chile, na Croácia, em Ohio-que-o-parta…tanto faz! Porque aprendi que o lugar faz muita diferença, mas que, na verdade, as experiências dependem de como nós as vivemos, como as encaramos e o que levamos delas – pra qualquer lado do mundo…!!!

"Brasil, recruta o teu pessoal"

(Eu sei que eu já passei por aqui hoje, mas um dia de múltiplas ocasiões especiais, pede múltiplos post, sorry…)

Hoje completamos 1 ano e 6 meses de Chile. Um ano e meio. Dieciocho meses!

E eu poderia vir repetir os agradecimentos merecidos e as aprendizagens obtidas nesse tempo por aqui, mas tava assistindo a cerimônia de encerramento das Olimpiadas e me caiu uma ficha muito importante, que divido com vocês agora.

Uma das coisas mais importante que o Chile me ensinou foi a amar meu país.
Pela saudades que eu sinto dele quando estou aqui, pelo amor que os próprios chilenos têm pelo Brasil e pelo espírito de patriotismo que contamina os ares do lado de cá da Cordilheira.

E nos 8 minutos em que o Brasil esteve representado no meio do Parque Olímpico de Londres eu me emocionei. Meus olhos encheram de lágrimas e eu chorei! (E olha que eu nem conheço o Rio pessoalmente!rs)

Enquanto um monte de gente reclamava na internet por causa dos “clichês” de samba, índio e praia (ou outros reclamando porque as passistas usavam muita roupa, ou porque lá fora ninguém conhece a Marisa Monte, ou por qualquer outro motivo (im)pensável – ô povinho que gosta de reclamar!) eu me emocionei. Senti saudades “de casa”. Senti orgulho do samba do gari. Achei nossa bandeira e nosso hino os mais bonitos da apresentação. Achei um charme o calçadão carioca em plena Londres. Cantei as músicas junto com eles. E fiquei imaginando a emoção dos que estavam lá pessoalmente!

Porque se essa é a imagem que as pessoas no resto do mundo têm do Brasil, de algum lugar ela saiu. E por mais que muitos nunca cheguem a admitir, está aí nossa identidade.
E olha que é muito difícil falar de identidade num país como o nosso, não?!
É muita gente, é muita terra, é muita cultura, é muita mistura!

É um “Virado à Paulista” em que se mistura o feijão carioca, com o arroz mineiro, a batata paulista, o ovo…um Virado à Brasileira delicioso!
E em alguma coisa essa mistura dá!
Alguma coisa que a gente (brasileiro comum) despreza, mas que o mundo admira e inveja!

Quando chegar a hora das Olimpíadas no Rio, muito brasileiro vai continuar reclamando, destacando os defeitos e problemas, se rebelando na internet com a bunda no sofá (aaahh, esse jeitinho brasileiro de ser). Mas em um ano e meio de Chile eu já conheci um monte de gente que amaria estar no Rio nessa ocasião! Não porque é pertinho, mas porque é calor, porque o sol é forte, porque o mar é gostoso, porque o verde é vivo, porque as pessoas são receptivas, porque a música é boa, as mulheres são bonitas, a bebida corre solta e a felicidade é quase respirável!

E, acreditem, não é a saudade falando. É o respeito e a admiração – coisas que, confesso, só aprendi a ter de verdade pelo meu país depois que sai dele…

Sabe aquela história de “Brasil: ame-o ou deixe-o”?
Pois é, pela experiência que eu vivi, que outros expatriados que conheço viveram e pelo que acompanho quase diariamente nos estrangeiros que conheço, diria que essa frase está um pouco errada…

Brasil, deixo-o e ame-o!

Não que não dê pra amar aí de dentro, mas estando fora (e, claro, claro…não vivendo os problemas tanto na pele), longe dessa visão preconceituosa que, culturalmente temos da nossa pátria, fica muito fácil!

Queria que mais brasileiros pudessem ver o Brasil com esses olhos…talvez assim tivessem mais vontade de lutar por ele…




"Ponha a roupa de domingo"

É como se tivesse sido ontem. O frio na barriga. Os abraços apertados. O coração na confusão entre o dolorido e o ansioso.  Ainda consigo sentir tudo isso.


O dia em que eu sabia que minha vida mudaria pra sempre. Que eu deixava pra trás o conhecido pra enfrentar o desconhecido acompanhada do meu amor.

5 malas. Duas grandes e três pequenas. Só. Todas as coisas que precisaríamos pra essa nova etapa couberam em 5 malas.

Fora delas ficaram lembranças, histórias, amores…em forma de fotos, CDs, capas de DVD’s (os dvds eu trouxe soltos! rs), bichos de pelúcia, móveis que fizeram parte da minha vida, cômodos que acompanharam minha história e, especialmente, pessoas.

Porque todos essas coisas (e pessoas) que nos fazem ser quem somos de certa forma sempre nos acompanham, estão presentes na memória, na maneira de agir e de pensar, no coração… mas, querendo ou não, há uma parte de tudo isso que fica. Fica longe e faz falta.

E nesse mesmo dia eu sabia que passaria então a conviver com a falta, a lidar com ela, a crescer com ela.
E aprender que a falta de um pode ser, no final, a abertura pra outro novo; ou simplesmente o fortalecimento do amor àquilo que falta.

Era a segunda viagem internacional da minha vida e era um dos momentos mais decisivos dela.

Como já disse por aqui, foi difícil soltar os abraços, foi difícil dizer tchau, virar as costas e passar pelo portão… 
Mas a sensação de chegar do outro lado do portão, a divisão pela qual o coração passa então…. essa parte é indescritível!
Saber que de um lado ficaram aqueles abraços, sentir ainda no coração o calor que eles deixaram e esperar, numa ansiedade sem tamanho, tudo que vem pela frente…. é uma mistura….bom, indescritível, por isso nem vou tentar…rs


Há exatamente um ano.


Terça feira este blog completa um ano (com 6060 visitas! Uhuuu!!!), o que significa que, segundo a contagem que venho fazendo desde então, hoje completamos 12 MESES DE CHILE!

A vida já está mais calma, as novidades já não são mais tão constantes… O que explica também a lentidão na qual este blog se encontra…
Mas foi um ano de tanta mudança, interna e externa que, como disse em dezembro, foi um ano que durou uma vida inteira!

Os seis primeiros meses têm seu pequeno resumo por aqui: “Pra mim meia dúzia é seis”
O segundo semestre foi mais menos a mesma coisa, mais visitas especiais, mais comilança, mais saudade do Brasil e dos meus queridos brasileiros, mais faculdade, mais santander, viagens (pro Brasil e pelo Chile!), mais queridos por aqui e o aqui ainda mais querido!

Foi um ótimo ano! 

Santiago é uma cidade ótima pra morar, a qualidade de vida é incrivelmente melhor do que a tínhamos em São Paulo, o clima nos agrada, a poluição do ar a gente ignora, já escolhemos nossas pessoas pra ter perto, a faculdade (minha) e o trabalho (do Lucas) estão nos ensinando bastante (sobre nós mesmos, inclusive) e o segundo ano só está começando!
É uma cidade ótima e que vai nos acolher por mais um tempo ainda… 
Já temos aqui a NOSSA casa gostosa e a nossa filha chilena vai ser um pedacinho desse país que vai nos acompanhar ainda por muito tempo…

Sendo assim, o dia tem que ser de comemoração e de agradecimento!

Pra agradecer àqueles que nos apoiaram nessa aventura louca de vir morar no desconhecido outro lado da Cordilheira, que nos desejaram boa sorte e desde então vem torcendo por nós (agora) 3, que nos abraçaram no aeroporto nesse dia tão importante, que nos abraçam on line sempre que podem e aos que vieram nos abraçar pessoalmente aqui mesmo!

Agradecer aos que nos receberam tão bem do lado de cá, que nos apresentaram o lugar, nos ensinaram o que a gente precisava saber, que ajudaram nos asados e assaltos (hahahaha), que ajudam a tornar nossa casa num lar acolhedor com a simples presença por aqui, aos que amam a Maní de verdade, aos que fazem parte do nosso dia a dia e tornam todo o caminho menos árido (mesmo com a abençoada falta de chuva desse país)!

Agradecer ao Chile, porque não, esse país tripa comprida, de cultura suficientemente diferente da nossa, pra me fazer encantar com as descobertas e suficientemente parecida, pra tornar essa primeira adaptação não tão difícil. Aos chilenos tão apaixonados pelo Brasil, sempre nos recebendo bem. (às praias brasileiras, responsáveis por todo esse amor!). Aos que não nos recebem tão bem assim também, porque deles dependem nossas maiores aventuras pelo país…hahaha

Agradecer ao Santander, claro! Gostem ou não desse banco, ele é o maior responsável pela situação atual!

E, sei lá..agradecer à vida, por tudo isso, por todos esses à quem agradeço, por tudo que veio e ainda virá!

Então, um brinde ao primeiro ano de expatriados, no Chile, em família e com a vista mais emocionante da vida!

Beijos especiais a todos os vocês, sempre tão queridos e pacientes, que ainda guardam um pouquinho e curiosidade pra esse blog….











ps.: Sabe como comemoramos 1 ano de Chile?
Fomos almoçar coxinha e feijoada no restaurante brasileiro!!! hahahaha




"Deixa chover"

Fala-se muito sobre a poluição do ar de Santiago, ou simplesmente “contaminación”,  como eles chamam.
Sempre é notícia e todos querem saber como está o ar,  se vai ou não haver restrição de veículos ou de lareiras e fogões a lenha; fogos de artifício são proibidos até no ano novo! Da minha janela posso avaliar a cada manhã a qualidade do que vou respirar só por contar quantos dos morros consigo enxergar no horizonte e tem dia que é assustadora a capa marrom que está no meio do caminho!

Mas desde que cheguei aqui o maior impacto que percebi no ar não foi a sujeira, mas sim a falta de umidade! É impressionante como isso aqui é seco!!!
No calor muito forte eu imagino que seja vantajoso você não ficar na dúvida se é você ou o ambiente que está transpirando, ou simplesmente conseguir transpirar e secar em seguida… mas nas temperaturas que peguei até agora…putz! Que seco!!! Nem as mil garrafas de água – que aqui viraram 2.000 – que tomo por dia dão conta de umedecer as coisas…rs

Tive que entrar numa rotina e numa disciplina que nunca tive e nem nunca desejei ter! Nos primeiros meses, enquanto seguia firme na teimosia antiga, minha mão ficou parecendo a de uma mulher de uns 50 anos e quando eu sentava podia sentir a pele da minha coxa se esticando, célula por célula…
Aí não teve jeito! Primeiro comecei a tomar banho com dove, sabe como é, 1/4 de hidratante e tal..torci pra que fosse o suficiente, mas não foi!
Passo seguinte: óleo sève… também fez pouca coisa..
Depois: sabonete líquido para pele extra seca… com esse eu comecei a sentir um pouco de diferença e aí me dei conta de que teria que me render de verdade!
Comprei cremes e mais cremes…uns 4 diferentes só pra mão, que deixo espalhados pela casa (quarto, banheiro, sala e bolsa) pra lembrar de passar o tempo todo! Pelo menos a aparência normal da pele da mão eu consegui recuperar!

Mas o ritual completo eu dou conta de fazer no máximo umas duas vezes por semana…porque…fala sério!
– Creme pros olhos;
– Creme pro rosto;
– Creme pra mão;
– Creme pro pé e
– Creme pro resto do corpo.

Pergunto: pessoas normais conseguem fazer coisas assim todos os dias????

Às vezes eu vou dormir me sentindo um pouco culpada, sentindo a secura no corpo, mas acho que esses são os dias em que meu lado “menininho” prevalece… Aquele mesmo lado que odeia fazer compras, gosta de carros e detesta altas concentrações de mulheres, especialmente conversando sobre assuntos femininos..
É quase como se eu tivesse um Buck – pra quem assiste Unites States of Tara – dentro de mim! (e se você não assiste e não sabe do que eu tô falando, vá assistir! É um dos maiores espetáculos de interpretação da televisão!!!)

E o meu Buck, que eu talvez chamasse de “Gabão” em homenagem a um amigo meu, simplesmente DETESTA os cremes todos!!! Ele lida há anos com o vício da manteiga de cacau e acho que com isso já se acostumou, ou simplesmente deixa a tarefa de reclamar sobre esse assunto com o Lucas…rs

Mas os cremes…ah, os cremes… Fico na dúvida se o Gabão detesta mais os cheiros que se misturam ou a textura macia-artificial que fica na pele! Coitado!
Pelo que parece ele vai que ter que aprender a lidar com essa sacanagem por pelo menos mais uns 15 meses, né?!
Quem sabe ele não se revolta e declara independência…


E falando em independência, domingo, dia 18, comemora-se as Festas Pátrias por aqui (sim, a independência) e desde o começo do mês essa cidade tá pior que o Brasil em Copa do Mundo! Juro!
Carros e casas enfeitados, prédios com suas bandeiras voando, bandeirinhas pelas ruas, gente vendendo coisas temáticas em cada semáforo, a Escuela Militar aqui do lado ensaiando loucamente (eu já sei as músicas da banda deles de cor…hahaha) e etc.

São diferenças assim que me surpreendem no povo Chileno com relação a nós brasileiros… a mesma capacidade que eles têm pra amar o Chile nas comemorações de setembro, eles têm pra ir pra rua brigar pela educação, ou pra se emocionar com a queda de um avião e a morte de 24 pessoas – uma delas, um apresentador importante da televisão.

Acho cada vez mais que as condições externas, além das históricas, claro, influenciam  as pessoas mais do que a gente imagina. O Chile, esse paísinho comprido e bem delimitado, com a Cordilheira o isolando e o protegendo, com esse seu clima seco…
E as coisas aqui se sentem tão intensamente! Talvez porque eles estão só com eles mesmos, em um clima em que nem deles saí “água”… nem o céu Chileno, nem a população Chilena choram..
E da mesma maneira que o céu mantém a secura e a poluição, pra sangrar nossos narizes semanalmente, os chilenos retém as mágoas, as raivas e as dores, de forma que elas continuam a sangrar por ano e anos…

Faz sentido que eles gostem tanto do Brasil…terra de mares forte e quentes, que lavam sua alma, levando consigo seu peso e depois jogam tudo fora em uma bela tempestade de verão…




"nas pedras do seu próprio lar"

No sábado passado tivemos uma experiência super chilena, ou melhor, super chilote por aqui!

O Lucas trabalha com uma equatoriana, filha de chilenos, que morou no Brasil por um ano (fala o melhor português que já ouvi num estrangeiro) e namora um carioca – Contanza e Marcos.
Eles nos convidaram pra ir comer Curanto na Casa Chilote. Explico:

Chiloé é um arquipélago lá pro sul, que durante muito tempo ficou meio isolado e por isso tem uma cultura muito forte e muito própria. Eu conhecia a ilha e algumas histórias de suas tradições pois li, em junho, último livro da Isabel Allende, “El Cuarderno de Maya”.


O livro conta (sem spoilers) a história de uma adolescente americana, de família de origem chilena, que vai morar em Chiloé. Além de ser ter a parte “romance interessante”, o livro fala bastante sobre a cultura do lugar e as impressões dessa estrangeira chegando no Chile me amarraram por identificação…rs

A Casa Chilote é um casarão no centro de Santiago que serve como um centro cultural da Ilha aqui na capital, mas também é a moradia de jovens estudantes Chilotes que vem pra Santiago pra cursar a universidade.

Já o Curanto é uma comida super típica de Chiloé, que é preparada em um buraco no chão. Literalmente, cava-se um buraco, coloca-se toda a comida lá dentro – em camadas e em uma ordem certa – cobre-se (o fundo e o topo) com pedras super quentes e deixa-se ali cozinhando o dia inteiro!
O resultado é esse:





Nesse prato todo temos: mariscos, carne, frango, linguiça, chapalele (uma massa de farinha) e milcao (preparado com batatas cozidas e cruas, e outro ingredientes, como salsicha, linguiça…)

Esse copinho pequeno aí na foto é uma bebida quente feita com vinho, lembra bastante o vinho quente (ou quentão, sei lá, sempre confundo..hahaha).

A combinação de tudo isso é uma maravilha!!! Acho que nunca comi uma carne tão macia e saborosa na vida!! Muito boa mesmo!!!
Sou meio fresca pra comer (ok, MUITO fresca), e apesar de não ter adorado todas as coisas desse prato, provei tudo e foi uma experiência muito bacana!
E é tanta comida que eles entregam sacolinhas pra todo mundo “empacotar” o que sobrou e levar pra comer em casa!


(a xícara que está aí é um caldinho, basicamente o caldo em que tudo isso foi cozido. Os Chilotes nos disseram que é mais energético do que qualquer coisa, mas esse eu só provei mesmo..não deu pra encarar porque era gordura pura…rs)

Na verdade, a experiência completa foi super bacana!!! Chegamos na Casa Chilote graças a uma reserva feita em nome de uma tia da Contanza, que meio que faz parte da comunidade, mas estava doente e não nos acompanhou. E comunidade é a melhor palavra! Estavam lá vários Chilotes, pessoas com saudade de casa e dos sabores de casa, que se reunem uma vez por mês pra fazer esse Curanto.
Os jovens estudantes que moram ali são responsáveis pelo trabalho de garçons, as pessoas mais…digamos…tradicionais fazem a comida e todos se reúnem em uma noite de festa e muita comida!

É uma reunião do povo de Chiloé, mas gente de fora é muito bem vinda! Depois da comilança, um moço responsável pelo lugar subiu no palco e agradeceu todo mundo que estava ali. Falou de nomes importantes pro Chile – como um ex jogador de futebol de um dos maiores times daqui, nomes importantes de Chiloé – como a presidente da coorporação e de todos os amigos que haviam sido levados pra conhecer e compartilhar daquela cultura. O lugar estava cheio de velhinhos Chilotes, mas também estava cheio de estrangeiros: equador, guatemala, costa rica…e nós do Brasil, também fomos apresentados e recebemos nossa salva de palmas!!! hehehe

Aí começou a parte animada da festa! Primeiro, o respeitoso momento do Hino de Chiloé:






Músicas tradicionais daquelas “impossível ficar parado” e o pessoal super animado dançando um monte!!!

(sugiro prestar atenção no senhor que está à esquerda do vídeo, um italiano super animado!)


Teve o momento de cantar parabéns pros aniversariantes do mês:
(esse eu gravei pra vocês conhecerem o cumpleaños feliz)


E o momento da Cueca, dança tradicional chilena:


Segundo a história, a dança seria a representação de uma galinha se oferecendo pro galo, o galo tentando conquistar a galinha e ela se fazendo de difícil. Conseguem enxergar tudo isso na dança? hehehe


O casarão é super charmoso também! Mas faltou uma foto do lado de fora…








O mais bacana disso tudo é que não foi um passeio tipicamente turístico, estávamos no meio de Chilotes, num evento Chilote, feito pra eles matarem a saudade de casa!
Acho que esse é um dos melhores jeitos de se conhecer uma cultura de verdade – claro, nem se compara com o “estar lá” de verdade, mas comparando com um turismo tradicional…

Conversamos com algumas pessoas que estávamos na nossa mesa, todos de Chiloé, uma que morou muitos anos na Alemanha, ficou conversando com o Lucas em alemão e me lembrou algumas histórias do livro, sobre o momento atual da ilha que acaba fazendo com que todas as pessoas da ilha em idades produtivas saiam de lá pra ganhar a vida em outro lugar e ficam por lá as partes muito jovens ou muito velhas das famílias…
A tradição é tão forte que em algumas ilhas lá o comércio não existe, as coisas funcionam na base da troca!
A leitura da Allende, somada à essa experiência do sábado me deram muita vontade de ir ao lugar.
O povo da Ilha de Chiloé costuma dizer que antes de ser chilenos eles são Chilotes. Mas estando aqui no Chile não posso deixar de conhecer esse pedacinho de mundo, meio daqui e meio de si mesmo, não é?!



Ps.: Hoje soubemos que a tia da Constanza,que nos reservou o jantar, está no hospital, então, pensamentos positivos pra que ela melhore logo!!!!



(pronto, dívidas pagas. Já posso partir pros próximos textos…rs)


Beijos a todos!



"Pra mim meia dúzia é seis, hein?!"

Um bebê com 6 meses de idade já tem controle sobre seu próprio corpo, já começa a atender pelo próprio nome, reconhece a própria mãe e já sorri. São conquistas muito importantes desses primeiros meses de vida!


Depois de 6 meses, o funcionário em período de experiência é contratado oficialmente.


Um gato ou um cachorro de 6 meses de vida já está com todas as funções biológicas desenvolvidas, mas continua com a energia e a empolgação de um adolescente.


6 meses é o tempo que um vinho semi-premium fica dentro do barril de carvalho.


6 meses num namoro adolescente parece um recorde.


6 meses longe da pessoa amada pode ser insuportável.


6 meses podem ser muito pouco tempo.


6 meses pode ser uma eternidade!


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Sexta feira, dia 12, completamos 6 meses de Chile, de Santiago, de “expatriação”, de saudade, de conquistas, de “nossa família”, de Futuros Diretivos (e acompanhante), de Cordilheira na janela e neve no quintal…


É impressionante como quando faço as contas parece muito menos tempo do que quando penso em tudo que já vivi aqui, tudo que já aconteceu, tudo que já mudou.






Sei que com a facilidade da internet e do blog todos vocês queridos vêm acompanhando quase em tempo real o andamento da vida por aqui. Mas como  data é especial, acho que vale dar uma resumida no que foi esse período.


Nesses 6 meses fiz um semestre da faculdade e já comecei o segundo, mas minha matrícula oficial só sai essa semana agora.
O Lucas trocou de chefe um monte de vezes, foi promovido e agora tá num período sem chefe, trabalhando por mais de um, enquanto não colocam alguém de volta no cargo.
A Maní completa hoje 9 meses de vida. Continua linda, mimada e fofíssima! Andou aprontando umas por aqui – como picotar umas folhas de jornal e mastigar quase completamente o fone bluetooth do Lucas… mas a gente tem que entender que no fundo, ela só quer atenção! rs

“Mããããeee, pára de escrever e vem brincar comigo. Trouxe todos os meus brinquedos legais pra você!”



Ficamos por muito tempo procurando um apartamento pra comprar, porque seria um bom negócio e porque a obra aqui ao lado incomoda bastante. Em julho achamos um apartamento que gostamos muito, estava num preço bom e tinha essa vista:







Fizemos uma oferta de compra, mas acabou que o dono não querendo vender começou a nos enrolar um monte, aceitou a proposta mas ficou inventando umas cláusulas estranhas pro contrato… Acabou ficando bagunçado demais e achamos melhor desencanar, não entrar em rolo.
Com essa decepção, decidimos dar uma acalmada na procura por apartamento, dar umas melhoradas nas coisas do nosso e compramos algumas coisinhas que faltavam, como criado mudo e um microondas descente!


Criado mudo multiuso: serve também de mesa de centro


Agora cabe um pacote de pipoca no meu microondas!


Desde que começou a temporada de inverno temos aproveitado e subido muito a montanha! Seja pra esquiar, fazer snowboard (o Lucas já está craque!), ou só brincar na neve mesmo… É lindo e é pertinho! Tem que curtir, né?!





Em 6 meses aqui recebemos muitas visits boas! Não tenho fotos de quase nenhum, mas faço aqui uma listinha de homenagem/agradecimento aos que vieram!


– Nanci – minha mãe que veio de surpresa pro meu aniversário e estreou o quarto de visitas;
– Rejane, Claudio e Pedro – sogros e cunhado, que vieram conhecer Santiago antes que chegasse o inverno;
– Aline – a primeira da trupe Santander;
– Celso – também Santander, foi embora e deixou na gente a vontade de conhecer a Ilha de Páscoa;
– Marina – que o vulcão não quis deixar ir embora;
– Samantha – a visita que a gente não viu, mas que cuidou super bem da Maní;
– Andrea e Marcelo – o casal fofo;
– Augusto e João – dupla dinâmica que por pouco não veio;
– Nathalia e Lucas – que me fizeram companhia e trouxeram um pouquinho de Buenos Aires;
– Mari Midori – primeira viagem internacional especialmente pra me visitar;
– Vagner, Patricia, Isabella, Vinicius e Arthur – Família Ramalho em peso pra inesquecíveis momentos na neve!


E esperamos mais!!








6 meses não diminuíram nem um pouco meu encanto com a vista da Cordilheira! Também, como poderia?!?!





Em 6 meses fomos uma vez para o Brasil, numa visita super corrida, gorda e gostosa. Fomos também duas vezes num restaurante brasileiro que tem aqui, matar a saudade de coxinha e outras guloseimas típicas!


Depois de 6 mesess sofrendo com o tema, finalmente encontrei uma faxineira boa nesse país!


Nesses 6 meses descobri a delícia que é fazer pilates e não quero mais parar.


Nesses 6 meses engordei um pouco (juro que foi pouco..rs), mas ainda não consegui me animar pra emagrecer…


Em 6 meses já aprendemos a fazer a compra de mês bem rapidinho. Já tenho todas as minhas marcas preferidas e não me perco mais no mercado..rs. Mas nesse últimos mês experimentamos as maravilhas da “compra de mês on line” e acho que vamos adotar!


Nesses 6 meses fui uma vez ao cabeleireiro e duas ao dentista, as duas coisas na semaninha rápida de Brasil…rs
Mas também fui uma vez na ginecologista, e isso foi aqui em Santiago mesmo!


Mesmo já estando no segundo semestre, continuo preferindo ficar quieta no meu canto, lendo, lá na faculdade; mas já escolhi as pessoas que eu gosto e as que eu não gosto…


Os sentimentos continuam intensos, mas agora com uma intensidade controlada, sensata e sensível…


O casamento está cada dia melhor!


A distância continua dolorida, mas a vida santiaguina compensa até mesmo isso!


6 meses passaram e posso olhar pra trás e ter a certeza de que fiz as escolhas certas, ou me dar o direito de questioná-las, não importa. O que sei é que a vida vai muito bem, obrigada!
Quer ver?
Vem pra cá experimentar! Ou só conhecer e me visitar…também serve!rs






Hoje foi feriado no Chile e aproveitamos a esticada para fazer nossa primeira “grande viagem” por aqui… Fomos até Portillo, uma estação de esqui chilena lindíssima e depois até Mendoza, uma cidade da Argentina famosa pelos seus bons vinhos.
O passeio foi feito de carro, em boa companhia e pela estrada no meio da Cordilheira dos Andes. Portanto, certamente vai ter um post todinho só pra ele!
Foi um jeito lindo de comemorar nosso aniversário Chileno!!!


















As três etapas do desenvolvimento

Um dos primeiros passos da preparação pra mudança de país foi o aprendizado do novo idioma.

Minhas primeiras aulas foram com uma chilena recém chegada ao Brasil e que, no Chile, dava aula pra crianças pequenas. Ela me ensina um espanhol que permitisse que eu virarasse bem quando chegasse por aqui. Ou seja, eram aulas de quase pura conversa, onde eu aprendia vocabulário não só de espanhol, mas principalmente de “chileno”. Eram bastante úteis essas aulas, mas não eram muito suficientes: Eu tinha sede de aprender a gramática do espanhol. 

Em 2004, quando fiz cursinho no anglo, tive aula com o melhor professor de gramática que já conheci. Ele fazia com que as tais regras chatas fizessem sentido e, mais do que isso, fossem úteis! Eu não teria mais dúvida de como pronunciar uma palavra se fosse capaz de indificá-la enquanto oxítona, paroxítona ou proparoxítona. Eu não precisaria mais ficar chutando onde vai ou não a crase, ou a vírgula, se soubesse exatamente pra que elas servem e pudesse escolher quando as queria com tais funções ou não. Foi super revelador e apaixonante estudar nossa língua portuguesa por esse ponto de vista!

Pois bem, era assim que eu queria conhecer o espanhol. Não me bastava decorar quando é com c, z ou s, eu sempre queria saber o porquê das coisas. Por que essa palavra tem acento? Por que nessa conjugação surge essa letra i? Por que? Por que? Por que?
Era uma questão de curiosidade pessoal, mas também uma busca por autonomia; se entendesse as regras, podia tirar sozinha as conclusões e saber o espanhol.
E por um motivo ou por outro fui alimentando minha curiosidade, pesquisando na gramática ou na internet as respostas que a professora não sabia dar, me encantando quando algumas coisas muito básicas de repente faziam todo sentido, me deliciando com as explicações que tornavam mais possíveis minha relação com o idioma… Sentia-me um pouco criança, analfabeta, aprendendo quase que do princípio básico o be-a-ba, mas buscando meu modo construtivista de aprender espanhol.

Quando cheguei no Chile os primeiros contatos com o país seguiram na linha do encantamento: além de achar a Cordilheira linda, eu achava fofo as pessoas falando “chileno”, os movimentos de boca super articulados, a língua que não fica parada nem um segundo… Me divertia com algumas versões em espanhol que encontrava no rádio de músicas velhas conhecidas em português!

Por volta do segundo mês, quando começaram minhas aulas e passei a “viver em espanhol” de fato, entre todas as mudanças efetivas (e afetivas) que ocorreram, mudou também minha relação com a língua. Logo comecei a achá-la pobre – como assim vocês não conhecem mais preposições? Como assim vocês dizem “a lo pobre” e não “ao pobre”, custa tanto assim uma contração? E assim por diante… Várias coisas que os pobres estudantes de colégios odeiam, se matam pra decorar, e consideram as mais difíceis do português eu fui descobrindo como grandes “evoluções lingüísticas, sofisticações que tornam a comunicação muito mais fácil e bonita. Nesse período passei a ter que escrever e falar formalmente o espanhol – não mais “me virar”com ele, e chegava a sentir, literalmente, saudade das conjunções e de alguns tempos verbais. 
Claro que nesse momento não era só disso que sentia saudade, mas essas coisas “bobas e inúteis” engrossavam a lista das “coisas do Brasil que não sabia que me fariam tanta falta”.


No último mês comecei a fazer aulas de espanhol por aqui e essa semana eu estava pensado que vou criar um novo idioma: com as facilidade e coisas fofas que tem o espanhol, mas com as utilidades e sofisticação que tem o português! Simples, não?! rs

Simples ou não, esse desejo me diz um coisa: se, como disse o Caetano, “minha pátria é minha língua”, ao completar hoje três meses de Chile posso dizer que sou agora “bi-patriada”.
Não me sinto mais turista, encantada com tudo que encontro pelas ruas. Não me sinto mais “expatriada”, só sentindo falta e saudade de todas as coisas do meu país.
Finalmente estou em “lugar” que me permite ver as coisas boas dos dois lados e pensar em criar meu próprio mundo com o que eu escolher – visto que tenho as duas experiências e posso avaliar o que prefiro e o que renego. 
E acho que essa é uma das melhores partes não só da experiência de morar em outro país por um tempo, mas da escolha de não viver em seu país de origem!

E viva os 3 meses!!!

Ps.: Ontem fomos na despedida de um FuD brasileiro que, depois de 2 anos e meio de Chile, está indo pra Espanha. A reunião foi em um restaurante brasileiro e aproveitamos pra nos entupir e matar toda a vontade de comer coxinha!!!! Delicioso gostinho de “lá em casa”!


(Obs.: Post escrito ontem, dia 12, quando completamos 3 meses aqui; mas postado só agra porque ontem o blogger ficou fora do ar o dia todo!)