Lo-bo-bo-lo

Essa coisa de ser humana e complexa é difícil, né?! rs

Os dias bons que se misturam com os mais ou menos que se misturam com aqueles em que nos sentimos caquinhos de gente…
Hoje eu tô assim, meio quebrada…


Eu odeio os cacos que não sei nomear, as peças do quebra cabeça que não sei onde encaixar. Lido bem com a dor em si, contanto que eu saiba exatamente (ou o mais próximo disso) de onde ela vem.

A angústia de hoje é dessas que chega na surdina, meio tímida até. Tipo aquelas ondas que você não vem vindo, mas chegam logo dando caldo…

Eu até desconfio o sobrenome dessa aqui e tô na dúvida se não quero olhar pra cara dela ou se a bichinha está mesmo de máscara, disfarçada de outra coisa.

Corro pro papel em branco, como se usasse o brilho dele de lanterna. Como a Chapeuzinho Amarela que precisa falar do lobo até ele virar bolo. Ainda que eu não tenha certeza de qual é o monstro, acendo a lanterna e lhe aponto na cara: Tô aqui, pode doer. Dói logo e vai embora, que é pra eu poder voltar a ser só complexa e difícil e mais ou menos e até boa mesmo.


A girar…

Depois de viver uma fase gostosa de retomar a escrita nesse espaço, meu último texto foi um sobre exaustão. Sobre play, pause e stop. Sobre precisar e não conseguir.
E aí – stop. Sumi.
Acho que de alguma forma sumi aqui de dentro também. A tal da roda viva precisa continuar girando e, aparentemente, nessa coisa de vida adulta e madura, pra ela girar, às vezes a gente precisa fechar os olhos uns minutinhos e fingir que não está sentindo cada nova volta dela.
Eu sigo num movimento infinito. Sigo exausta. Me sentindo um pouco um hamster correndo na rodinha que não leva a lugar nenhum. A cada noite risco as pendências da to do list e a cada manhã, lá está ela toda cheia. O itens que não consigo riscar me assombram e ocupam espaços importantes. Mas tem tanto outros no caminho precisando pro check que a roda vai girando, eu vou riscando e riscando e riscando… As pausas, quando podem existir, continuam cheias de gerúndios. Girando, riscando, girando, riscando…

E aí, além de exausta, me pego vazia. Porque quando eu fecho os olhos, eu não me vejo. E se eu abro uma frestinha que seja, eu perco o sono e perco a paz.

E o hamster percebe melhoras. Talvez a gaiola agora seja mais espaçosa, mais bonita, mais “imóvel próprio”, mas eu tô aqui, com essa sensação de estar na rodinha infinita dessa minha vida.

Roda essa que à vezes parece, também ela, melhorada e aprimorada enquanto outras vezes parece a mesma de sempre.

Falta descobrir: essa percepção depende do ponto de vista, da fase da lua ou do ciclo hormonal?

Argh

Eu tô cansada.
Exausta.

Entre desconstruir minhas lutas internas (oi, terapia) e viver num mundo violento, numa profissão que se propõe a lutar contra violência e “mudar o mundo, um nascimento por vez” and cuidar da roda da vida/casa/família que não para um segundo de girar, eu tô exausta.

Eu quero parar, como sempre precisei na vida, mas sinto que não posso. Que não tem de onde tirar.

Racionalmente eu sei que parar é necessário, importante e “permitido”, até. Mas dessa vez parece que não consigo encontrar a permissão. Em mim, no mundo, sei lá…
O problema é que neste cenário em que não encontro o pause, vai me batendo o desespero de apertar logo o stop.

Cancela isso aí tudo e me devolve a vida mais fácil de antes, faz o favor?!

Ufa! Escrevo aos prantos e já me sinto mais leve. Escrever é parar pra entender e se autorizar a colocar pra fora. P A R A R pra entender e colocar pra fora. Pausei. Escrevi.
Será que agora o play fica possível (talvez agradável?) outra vez? Ou será que essa sensação só virá depois do fim da tpm.. ou das pendências da agenda (aka.: nunca)… ou das violências do mundo (do meu, pelo menos…)?

Coragem é ir com medo mesmo

Pah: toma esse título mega clichê logo de saída.

Mas é que clichês não se tornam clichês à toa…

E recentemente eu andei indo muito com medo mesmo – muito aí se aplicando ao “indo” e ao “com medo”, no caso…rs

E dá um orgulho danado, porque durante muito tempo o medo e as dúvidas me travaram.

Por conta de histórias que eu vivi – e de outras que me foram contadas sobre mim – eu não me achava capaz de ir. E nem de fugir. Eu simplesmente estagnava.

Tantas e tantas vezes.

Talvez esse seja o gosto da maturidade: uma mistura de não ter o privilégio de estagnar com ter a capacidade de se colocar à prova.

Fui. Acompanhada do medo, sentindo seu sussurro no meu ouvido tantas vezes, fazendo às pazes com ele – e comigo.

Fui e continuarei indo. Porque isso é o que precisa ser feito. Porque é só indo é que a gente tem a possibilidade de chegar la. Seja qual for esse lugar.

Eu ainda não sei qual é o meu. Mas sigo indo…

Afinal, isso é viver, não é mesmo?!

Será?

Sábado passado, de martelete nas mãos, quebrando pisos e paredes de tijolos, me peguei pensando: de onde será que vem essa satisfação que sinto ao me descobrir capaz de realizar de verdade as coisas que precisam ser feitas na obra do nosso porão.

Não tenho sido só a assistente que recolhe o lixo ou entrega “o bisturi nas mãos do cirurgião”, como tantas vezes fui nessas “coisas de casa” que o Lucas adora fazer.

Aprendi a usar ferramentas mais pesadas e muita força – ganhando vários hematomas no processo – e tenho me sentido mais parceira do que assistente neste projeto.

E aí bate um baita orgulho.

Orgulho que passa pela concepção machista de que ferramentas e obras são “coisas de homem”, claro. Que atravessa com força os velhos conhecidos preconceitos que tenho contra minhas próprias habilidades. E um orgulho que me lembra deliciosamente das coisas incríveis que meu corpo é capaz de fazer. Uma sensação meio parecida com quando consegui parir pela primeira vez; aquela constatação de que todos (inclusive e principalmente eu mesma) estavam errados quando acharam que eu não seria capaz.

É muito, muito gostoso me perceber capaz na prática. É gostoso ver o Lucas me entregar o martelete e ir embora, confiando que eu farei o trabalho. E mais gostoso ainda poder, de fato, fazê-lo!

Há um tempo atrás tive uma bela conversa com a Cecília sobre o medo que temos de tentar fazer as coisas quando achamos que não vamos conseguir. É algo que vejo constantemente nela e que mexe muito comigo, porque é uma sensação que conheço bem demais.

Um dos exemplos que dei pra minha filha foi meu medo de tentar (mais uma vez) aprender a andar de bicicleta. Falei da vergonha por não saber, do medo de falhar – e me machucar e me envergonhar ainda mais…

Gosto que meus filhos me vejam trabalhando de verdade na obra. Ainda que eles não escutem as mil vozes cheias de dúvidas na minha cabeça, amo que eles vejam as conquistas e o orgulho do trabalho que avança. Amo, ainda mais, vê-los se arriscando a tentar – e conseguir – também umas maluquices no tal porão, que anda tão central nos nossos dias que devia passar a ser chamado de “Main Floor” da casa.

Espero que a coragem e o orgulho que nos cercam – junto ao pó – sejam transpostos pra outros cantos de nossas vidas, assim como o pó é. Nas crianças e em mim.

Quem sabe esta próxima não será a primavera em que aprenderemos, os 3, a andar de bicicleta sem rodinhas?!

O medo do medo do lobo bolo

Era um dia de semana no meio das férias de dezembro e decidimos levar as crianças pra ver o novo filme infantil do momento, “Coco”. Antes da metade, antes das caveiras, até, Cecília, na época com quase 4 anos, começou a sentir muito medo do que (ela achava que) estava por vir. Miguel, o personagem principal, desrespeitava ordens diretas da família pra correr atrás do seu sonho. Minha bichinha começou a se desesperar e, numa tentativa de respeitar seu medo e não obrigá-la a ficar ali sofrendo, topei que minha mãe saísse com ela do cinema. Enquanto eu, o Dante e uma amiga terminamos o filme, Cecília foi andar de carrossel e tomar sorvete com a avó.

Isso foi há uns 4 anos. Desde então, todas as vezes que eu invento de assistir um filme em família, é o maior bafafá. Choros escandalosos e protestos infinitos, mil negociações, trailers assistidos, propostas feitas (e de vez em quando uma certa chantagem, de ir ao cinema pra comprar chocolate, por exemplo..hahaha). O “trauma” da Cecília contaminou o Dante e os dois se juntam no motim, dificultando muito minha vida de “mas eu adoro filme, até fiz faculdade disso, vocês tem que gostar de filme comigo!”.

Já estamos há tanto tempo vivendo essa história que hoje em dia penso que a briga é mais pra “não sair do personagem medroso” do que pelo medo em si. E então eles fogem e gritam “não quero filme! filme nãooo! não quero!”

Mas o que eu acho mais interessante dessa história é que Cecília tem medo de sentir medo.

Talvez, lá atrás, quando tentamos lhe dizer “nós te respeitamos, você não precisa passar por isso se não quiser” a mensagem que chegou a ela foi “nós não achamos que você dá conta disso aqui, melhor sairmos.”.

Não é que ela tenha medo de bruxa ou de ladrão. Ela briga porque não quer se colocar no risco de se deparar com algo difícil de enfrentar. E foi ao notar isso que eu comecei a insistir pra vermos novos filmes, porque quero que ela veja que eu acredito, sim, que ela é capaz. Quero que ela saiba, como eu sei, que está tudo bem sentir medo, que a gente pode enfrentar, seguir e até aprender com o medo. Que ela pode!

Aos pouquinhos vejo que vamos evoluindo nesse ponto, as brigas diante da proposta estão cada vez mais curtas e de vez em quando os dois até aparecem com algum desejo de filme pra ver, quem diria!

Corta para: eu na terapia hoje, sem me lembrar dessa história toda aí em cima, me perguntando “como é que eu sei se eu não quero mesmo ou se a vontade de sair correndo vem de um lugar de medo, profundo e, às vezes, não conhecido?

Como é que eu sei se desisti (ou se quero desistir) para respeitar meus direitos e desejos ou se o instinto de sair correndo “serve” pra não correr o risco de ter medo, de errar, de me expor, de gostar, etc.

O medo do medo que dá.

Depois que perdi meu primeiro bebê, senti muito medo de engravidar de novo e, ao invés de curtir e ficar feliz, congelar os outros sentimentos com medo da dor de outra possível perda. Precisei de um respiro pra entender que, ali, o desejo era maior e a entrega era necessária. Me joguei, com medo de sentir medo mesmo. E depois do mergulho não encontrei o que temia, pelo contrário, encontrei força, realização, amor…encontrei a mim mesma.

Quando volto pra essa pergunta hoje, falando da bendita – e aparentemente infindável – busca profissional, não consigo ainda chegar numa resposta, mas uma coisa eu já sei: eu não sou uma criança de 4 anos. Eu não vou sair do cinema pra tomar sorvete. Dessa vez, pelo menos, eu fico até o final do filme. Eu sigo de olhos abertos, sentindo tudo o que tiver pra sentir. E depois de atravessada essa experiência talvez, e só talvez, eu consiga entender se eu não quero ou se eu quero tanto que eu escolho nem arriscar querer.

Tpm, que chama?

Hoje eu quase chorei quando o moço do aplicativo não encontrou no mercado nenhum pão sem gluten.
Veja: não sou nenhuma fanática e sei que existem outras opções de café da manhã além da minha torrada de sempre, mas é quem tem sido chato e difícil (especialmente na tpm) lidar com essa nova restrição/intolerância…
Acho um saco não ter certeza do que é que me faz mal, odeio ter que ficar olhando todas as embalagens e descobrindo gluten oculto nos lugares menos imagináveis e me dói um pouquinho o coração ver as crianças internalizando as restrições da mãe.

Além de ser chatíssimo viver em privação de coisas gostosas, tenho percebido bem claramente como a restrição mexe com meu humor e com as outras decisões alimentares que eu tomo – p.e.: Batata Ruffles não tem gluten, portanto pode ser aceito como um jantar bacana, certo?! Pfff
Justo agora, que eu estava feliz e satisfeita com a minha relação com a comida, descobrindo gostos em alimentos que antes eu não me imaginava nem sequer experimentando… justo agora que (esta parte) estava em paz…

Enfim…pequeno desabafo em forma de colocar palavras pra fora ao invés de injetar chocolate pra dentro.
Seguimos…

(Re)viver

Como mencionei outro dia, estou revendo Sex and the City.
Tudo começou com o tal retorno da série, o “And just like that…”, que eu corri assistir naquele misto de curiosidade e carinho pelos personagens que me acompanharam no passado. Foi uma experiência gostosa! Gostosa a ponto de me dar vontade de ir assistir ao making off e, em seguida, voltar lá para o primeiro episódio, da primeira temporada, em 199 e bolinha. E cá estou, revivendo essa experiência tantos anos depois.
Eu gosto muitíssimo de rever séries, reler livros, ouvir sempre as mesmas músicas e parte dessa mania vem pela possibilidade de revisitar de outro ponto de vista aquele que havia vivido antes.
No caso de Sex and the City chega a ser chocante o tanto que me sinto mais madura agora! hahaha
Em certo ponto me peguei pensando aquele clichê básico de “ah, se a gente já soubesse lá atrás as coisas que sabemos agora”….
Dá vontade de gritar e chacoalhar aquelas mulheres, de sair por aí alertando a juventude… hahaha #alouca De fazer, sei lá, um canal no youtube em que vamos assistindo e comentando as imaturidades, as falhas gravíssimas de comunicação nas relações, os machismos que carregamos dentro da gente a vida toda, etc, etc.

Mas no fundo, no fundo eu já sei que nenhuma dessas ideias não seriam boas por dois motivos: 1- as gerações atuais já estão muitos passos à frente, muito mais atentos e cuidadosos com um monte dos embolos que viram tramas importantes na série. 2- tem um tanto da vida que só a vida mesmo pode nos ensinar…

Sigo assistindo, não para poder salvar outras meninas/mulheres de sofrimentos futuros, mas porque vejo que, além de me orgulhar da minha maturidade, posso aprender eu mesma, trazendo pra consciência – e pra minha experiência – questões que talvez ainda estivessem meio confusas dentro de mim.

Veremos… rs

Vislumbre

Quando no meio do mês de fevereiro você ganha um dia lindo, de céu azul e temperaturas POSITIVAS quase chegando nas duas casas, existem duas possibilidades:

Ou você abraça esse dia como uma novidade, como o começo de uma nova temporada e se enche de alegria, otimismo e esperança. Ou você entende o presente como um lembrete, como se a natureza te dissesse “não desista, a primavera sempre volta, espera mais um pouquinho!”.

Vivendo meu quarto inverno canadense, já não caio mais na armadilha imediatista de guardar os casacões e me preparar para as flores. Eu já sei que ainda tem chão, ainda preciso de tempo, ainda preciso me resguadar…

Vivendo quase meu 36º ano de vida, eu já deveria saber que a vida é assim mesmo… na caminhada – normalmente com alguns passos pra frente e um ou outro pra trás – vislumbrar o futuro serve pra dar fôlego. Mas a ansiedade de chegar lá não deveria nunca nos tirar da experiência do aqui e agora. Mesmo quando o agora parece pouco acolhedor ou zero animador, passar por ele é parto do caminho, parte do que nos possibilita avançar. Parte do que nos faz simplesmente SER.

Mas é tão mais fácil falar (ou escrever) do que viver, né?! rs

Assim como o poeta só é grande se sofrer

“Assim como a canção só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem só acontece se chover”

Tem acontecido uma coisa nessa minha vida adulta que é escutar canções de amor e pensar só em mim.

hahahaha

Explico:
Antes eu ouvia essa aí de cima e sonhava com o encontro romântico em que “não há você sem mim. Eu não existo sem você”.

Hoje quando ouço penso naquela tal história de que falava outro dia do “tudo ou nada”; na ilusão de que seria possível o encontro com a satisfação perfeita, a carreira perfeita, a família perfeita, a resposta perfeita. Canto ao berros no carro enquanto penso no quanto eu ainda busco isso em áreas muito específicas da vida; no quanto me prendo e me perco e me travo. E até no fato de que, mesmo conseguindo me destravar, eu volto de tanto em tanto pra essa expectativa.

Curioso perceber como minha busca pelo amor ideal é na profissão e não no relacionamento romântico. Talvez pela sorte de ter encontrado um relacionamento (não perfeito, mas bacana e possível) há muito tempo, talvez pelas histórias de onde eu venho, não sei…

A minha busca de conto de fadas não é pelo príncipe encantado, mas pelo “resto que esperam de mim”, aquilo que as mulheres precisam pra se satisfazer, pra ser elas mesmas, pra ser inteiras, etc.

Ando meio irritada comigo mesma nos últimos dias e, provavelmente por isso, esse texto termina assim:
que saco, Gabriela!