"Deixa chover"

Fala-se muito sobre a poluição do ar de Santiago, ou simplesmente “contaminación”,  como eles chamam.
Sempre é notícia e todos querem saber como está o ar,  se vai ou não haver restrição de veículos ou de lareiras e fogões a lenha; fogos de artifício são proibidos até no ano novo! Da minha janela posso avaliar a cada manhã a qualidade do que vou respirar só por contar quantos dos morros consigo enxergar no horizonte e tem dia que é assustadora a capa marrom que está no meio do caminho!

Mas desde que cheguei aqui o maior impacto que percebi no ar não foi a sujeira, mas sim a falta de umidade! É impressionante como isso aqui é seco!!!
No calor muito forte eu imagino que seja vantajoso você não ficar na dúvida se é você ou o ambiente que está transpirando, ou simplesmente conseguir transpirar e secar em seguida… mas nas temperaturas que peguei até agora…putz! Que seco!!! Nem as mil garrafas de água – que aqui viraram 2.000 – que tomo por dia dão conta de umedecer as coisas…rs

Tive que entrar numa rotina e numa disciplina que nunca tive e nem nunca desejei ter! Nos primeiros meses, enquanto seguia firme na teimosia antiga, minha mão ficou parecendo a de uma mulher de uns 50 anos e quando eu sentava podia sentir a pele da minha coxa se esticando, célula por célula…
Aí não teve jeito! Primeiro comecei a tomar banho com dove, sabe como é, 1/4 de hidratante e tal..torci pra que fosse o suficiente, mas não foi!
Passo seguinte: óleo sève… também fez pouca coisa..
Depois: sabonete líquido para pele extra seca… com esse eu comecei a sentir um pouco de diferença e aí me dei conta de que teria que me render de verdade!
Comprei cremes e mais cremes…uns 4 diferentes só pra mão, que deixo espalhados pela casa (quarto, banheiro, sala e bolsa) pra lembrar de passar o tempo todo! Pelo menos a aparência normal da pele da mão eu consegui recuperar!

Mas o ritual completo eu dou conta de fazer no máximo umas duas vezes por semana…porque…fala sério!
– Creme pros olhos;
– Creme pro rosto;
– Creme pra mão;
– Creme pro pé e
– Creme pro resto do corpo.

Pergunto: pessoas normais conseguem fazer coisas assim todos os dias????

Às vezes eu vou dormir me sentindo um pouco culpada, sentindo a secura no corpo, mas acho que esses são os dias em que meu lado “menininho” prevalece… Aquele mesmo lado que odeia fazer compras, gosta de carros e detesta altas concentrações de mulheres, especialmente conversando sobre assuntos femininos..
É quase como se eu tivesse um Buck – pra quem assiste Unites States of Tara – dentro de mim! (e se você não assiste e não sabe do que eu tô falando, vá assistir! É um dos maiores espetáculos de interpretação da televisão!!!)

E o meu Buck, que eu talvez chamasse de “Gabão” em homenagem a um amigo meu, simplesmente DETESTA os cremes todos!!! Ele lida há anos com o vício da manteiga de cacau e acho que com isso já se acostumou, ou simplesmente deixa a tarefa de reclamar sobre esse assunto com o Lucas…rs

Mas os cremes…ah, os cremes… Fico na dúvida se o Gabão detesta mais os cheiros que se misturam ou a textura macia-artificial que fica na pele! Coitado!
Pelo que parece ele vai que ter que aprender a lidar com essa sacanagem por pelo menos mais uns 15 meses, né?!
Quem sabe ele não se revolta e declara independência…


E falando em independência, domingo, dia 18, comemora-se as Festas Pátrias por aqui (sim, a independência) e desde o começo do mês essa cidade tá pior que o Brasil em Copa do Mundo! Juro!
Carros e casas enfeitados, prédios com suas bandeiras voando, bandeirinhas pelas ruas, gente vendendo coisas temáticas em cada semáforo, a Escuela Militar aqui do lado ensaiando loucamente (eu já sei as músicas da banda deles de cor…hahaha) e etc.

São diferenças assim que me surpreendem no povo Chileno com relação a nós brasileiros… a mesma capacidade que eles têm pra amar o Chile nas comemorações de setembro, eles têm pra ir pra rua brigar pela educação, ou pra se emocionar com a queda de um avião e a morte de 24 pessoas – uma delas, um apresentador importante da televisão.

Acho cada vez mais que as condições externas, além das históricas, claro, influenciam  as pessoas mais do que a gente imagina. O Chile, esse paísinho comprido e bem delimitado, com a Cordilheira o isolando e o protegendo, com esse seu clima seco…
E as coisas aqui se sentem tão intensamente! Talvez porque eles estão só com eles mesmos, em um clima em que nem deles saí “água”… nem o céu Chileno, nem a população Chilena choram..
E da mesma maneira que o céu mantém a secura e a poluição, pra sangrar nossos narizes semanalmente, os chilenos retém as mágoas, as raivas e as dores, de forma que elas continuam a sangrar por ano e anos…

Faz sentido que eles gostem tanto do Brasil…terra de mares forte e quentes, que lavam sua alma, levando consigo seu peso e depois jogam tudo fora em uma bela tempestade de verão…




"No sinal fechado"

Primeiro os fatos:

Terça-feira eu estava no ônibus voltando pra casa, num misto de alívio com irritação (por acontecimentos pontuais e pelo meu espírito da semana), determinada a relaxar e curtir meu livro, sentada na frente da porta. Até que o ônibus pára num ponto, um moleque desce o colega dele agarra minha bolsa e desce correndo atrás dele!

Fiquei alguns micro-segundos parada, sentada ali com uma cara de inconformada, sem acreditar que aquilo tinha acabado de acontecer e por um impulso que não sei de onde veio, desci do ônibus. Mais alguns micro-segundos parada na calçada; tempo suficiente pra pensar: “quais as minhas opções agora? Não tenho celular, nem carteira, nem cartão do ônibus…acho um telefone público (raríssimo nessa cidade) pra avisar o Lucas e vou andando pra casa (não, eu não estava perto)”. Mas aquele mesmo impulso de antes, misturado com um inconformismo ao máximo nível, me fizeram gesticular e gritar qualquer coisa (99% de certeza que em português). Eu ainda via os caras correndo na minha frente, e simplesmente não sabia o que fazer! 
Até que vejo passando por mim, correndo, um menino que, tenho quase certeza que tinha acabado de descer do mesmo ônibus que eu, sacou o que tava acontecendo e saiu correndo atrás dos dois ladrões! Aí percebi que tinha que sair correndo atrás dele, que estava atrás dos ladrões, que estavam fugindo com a minha bolsa, que tinha todas as minhas coisas dentro.
Eles viraram a esquina e nós atrás, mais um quarteirão de correria e o meninos que estava me ajudando pára, me olha e diz: “não estou mais vendo eles!”. Putz, de novo, “e agora?.
Aí me dei conta de que todo mundo na rua tava participando da história. Quando pensamos em parar um cara sai de dentro de um carro forte e aponta “eles foram pra lá” e todas as outras pessoas em volta também apontando e ajudando. Nessa hora surge um outro cara correndo, sei lá eu de onde, muito mais rápido que eu e o outro menino. Nós dois voltamos a correr também, mas já sem fôlego e ficando cada vez mais trás.
Até que esse segundo cara que entrou na correria – vou chamá-lo de Baiano, depois explico – surge dentro de um taxi, me chamando pra entrar. Agradeci o primeiro menino e corri pro taxi, que subiu na calçada, fez uma virada maluca e começou a ir atrás dos moleques.
Tinham sido duas quadras e meia correndo, depois mais uma e meia perseguindo eles no taxi até que vemos os dois virando outra esquina e o farol na nossa frente fechando. Pois o Baiano não pensou duas vezes: pulou do taxi, que ainda não tinha parado de vez, e saiu correndo. Quando o farol está pra abrir vejo que ele pegou uma carona numa moto, que não sei de onde surgiu, e ia, em pé nela, gesticulando e pedindo ajuda de outras pessoas.
Ele conseguiu pegar os dois, o taxista desceu atrás e juntaram mais umas três pessoas que estavam passando – uma delas de carro. 
Eles deitam os dois no chão, o Baiano tira o cinto, o taxista vai até o carro pegar um cacetete e os dois começam a bater muito nos dois moleques.
E foi juntando gente, uns gritando “mata! mata!”, uns gritando pra chamar a polícia e um menino, com uniforme de colégio pedindo pra eles pararem.A ponto de se jogar em cima dos moleques e levar umas pancadas também, pra conseguir fazer a pancadaria parar.
Eu, desesperada, tremendo mais do que sei lá o que, pedia pra alguém chamar a polícia, olhava pra todos os lados e ficava repetindo “que que eu faço? não sei o que eu faço!”
Os moleques já não estavam mais com a minha bolsa, disseram que tinha jogado no meio da caminho durante a perseguição (que nem fez o que roubou minha carteira na primeira semana aqui no Chile, lembram?)
Enquanto eles estavam todos preocupados em bater, xingar ou intimidar os moleques, eu só queria saber onde estava minha bolsa! No meio da correria eles deixaram cair a caixa dos meus óculos escuros, com eles dentro, e eu consegui “parar” pra recolhê-los. Mas e o resto das minhas coisas???

Bom, os moleques já estavam sangrando a essa hora e o Baiano – um cara baixinho e magrela – estava muito puto! Xingava muito os dois, dizia pra eles: “olha como vocês deixaram a menina!”, chutava, gritava…tava bravo pra caramba!!!
Resolveram levar os moleques até uma esquina, sentaram os dois numa banca de jornal, tiraram tênis e cintos dos dois…
Algumas pessoas vinham me perguntar o que eles tinham roubado e se eu estava bem. Mas veio um senhor muito fofo (enquanto levavam os dois pra esquina), pegou no meu braço, pediu pra que eu ficasse calma, chamou uma mulher que estava participando da coisa toda e disse: “você entendeu que é dela que você tem que cuidar agora? Deixa que os outros cuidam dos dois..”. Ela me pegou pelo braço e foi caminhando comigo até a esquina. Achei o gesto daqueles dois uma coisa linda!
Quando cheguei na esquina estavam chamando a polícia.

Bom, eu continuava querendo saber da minha bolsa, os dois apontavam onde tinha jogado e eu fui lá, acompanhada de um outro cara, pra procurar. Reviramos todos os arbustos que encontramos e nada da bolsa! Voltamos pra esquina e os dois insistiam que tava lá, então voltei a procurar. E nada!
 Comecei a perguntar pras pessoas na rua mas ninguém tinha visto a bolsa, só os moleques passando correndo, mas não sabiam dizer se ainda estavam com a bolsa ou não.

O Baiano se irritou de novo e voltou a bater nos dois pra eles falarem onde estava a bendita bolsa; levantou um deles pra que ele fosse mostrar onde estava e eu fui indo na frente. Aí veio uma mulher falar comigo, com uma cédula de identidade na mão, me perguntando o que tinha acontecido. Ela perguntou meu nome, comparou com o documento que tinha na mão e disse que tinha achado a bolsa, jogada numa esquina anterior. Veio um pouco do alívio!
Corri pra trás pra avisar o Baiano que tinham encontrado a bolsa, que ele podia voltar com o moleque. E nessa hora o maldito do moleque vem querer colocar a mão no meu ombro pra me pedir desculpas! Que ódio!!!!

Voltei pra mulher que estava com a bolsa e tinha se juntado a ela uma outra senhora – elas trabalham juntas no lugar onde a bolsa tinha sido jogada – que ficava me dizendo: “eu já liguei pra lucas, você tem que falar com lucas”.  Eu achei que aquilo era algum outro apelido chileno pra “polícia” (serve polícia, carabineiro, paco…pq não lucas?) e respondia: “sim, já chamaram os carabineiros, eles estão vindo”. Até que ela: “Lucas! Não é seu marido?”
Hahahahaha
Naquela confusão toda eu nunca teria pensado sozinha que o Lucas que ela estava falando era o meu Lucas ou como ela tinha conseguido falar com ele..hahaha
Elas acharam meu celular na bolsa e ligaram pra ele pra avisar que estavam com minhas coisas! 
Me recomendaram que esperasse a polícia chegar antes de ir lá buscar a bolsa, pra não voltar pra muvuca com as minhas coisas todas. Me emprestaram um celular, de onde consegui falar com o Lucas, que já estava num taxi indo até mim!

Voltamos então pra esquina e a polícia estava chegando!
As coisas foram se acalmando, conversei um pouco com as pessoas que estavam ali ajudando. Descobri que o Baiano já morou em São Paulo um tempo e é casado com uma baiana – pronto, apelido explicado! Apesar de ele estar muito nervoso e de ter batido muito nos caras (violência com a qual eu não concordo), ele foi muito meu herói, era muito simpático e bacana!

Bom, os moleques foram colocados na viatura da polícia, a multidão se dispersou, o Baiano soltou seu último ato de raiva, jogando os tênis e cintos dos ladrões no meio da rua, um carabineiro foi com a moça buscar minha bolsa..
Os carabineiro pediram que eu fosse com eles até a delegacia, mas antes essa moça que achou a bolsa e o Baiano deram o depoimento deles ali mesmo, assinaram tudo e tal..Me abraçaram e foram cuidar da vida.
Falei com Lucas, passei o endereço da delegacia e combinamos de nos encontrar lá.
Entrei na viatura e só aí respirei fundo. Primeiro me acalmei. Depois fiquei com medo que me levassem pro mesmo lugar que os dois moleques.
Na delegacia não vi os dois, mas soube que estavam lá, que tinham 16 e 17 anos e que não era a primeira vez que roubavam, mas era a primeira vez que os pegavam em flagra, com o item roubado. Os policiais pareciam bem felizes de ter os dois lá.

Aí foi aquela burocracia, espera, depõe, assina, tiram fotos de tudo que tinha na bolsa, estimando preços das coisas mais valiosas…aceitar ir depor em tribunal caso isso vá pra juízo, o aviso de que se isso acontecer eles me fantasiam pra me colocar na frente do tribunal (“que nem filme americano”,  como disse o carabineiro).
E foi isso.



Chamem de mimada ou privilegiada, mas acho que essa foi a situação de maior nervosismo, maior medo e maior violência pela qual já passei. Violência pra todos os lados.
Enquanto os meninos eram espancados eu sentia muita raiva da situação; se não tivesse sentada tão perto da porta, se não tivesse tão distraída, se tivesse visto eles jogando a bolsa lá trás…..Nada daquilo estaria acontecendo!
Odiei e amei os chilenos muito forte ao mesmo tempo! Os dois moleques que me roubaram estavam muito bem vestidos e não eram peruanos ou bolivianos – como diz a lenda/preconceito daqui! Todas as pessoas em volta se envolveram e ajudaram, diziam que eles mereciam ser presos, ou continuariam fazendo a mesma coisa por aí e eu concordo plenamente! Mas não acho que tinham que ter batido tanto nos dois, como também não acho que eles vão de fato ficar presos – não por um roubo, sem ameaça ou agressão – como o policial fez questão de destacar.

Pois foi esse roubo, sem ameaça ou agressão que mexeu horrores comigo! Fiquei algumas horas tremendo. Estou até agora com dores no corpo – pelo nervoso e pela correria! Posso caminhar umas duas horas sem o menor esforço, mas não agüento correr nem 5 minutos. Correr desesperadamente perseguindo minha bolsa, então… destruiu minha garganta, eu sentia muito gosto de sangue na boca e estou ainda com uma tosse de cachorro morto!

Voltando pra casa, saímos pra jantar, tomei um banho e deitei.. achei que já estava mais calma. Mas, não…
Consegui dormir quase rápido, mas tive uma hora inteira cheia de pesadelos e imagens repetitivas rodeando minha cabeça. Aí acordei de vez e não dormia mais. Resolvi levantar e ler pra me distrair, mas quando peguei meu livro me lembrei que, na correria, tinha perdido meu marcador de páginas. E não era um qualquer, era um flyer do primeiro Baile do Baleiro que eu fui, em 2007. Tinha um significado especial pra mim! E eu acho que vi ele caindo e voando pra trás, mas não podia voltar pra buscar.. Que ódio!!! Foi só aí que caíram minhas primeiras, e poucas, lágrimas. 
Logo que desci do ônibus achei que ia chorar, mas não chorei. Quando entrei na viatura da polícia de novo, e de novo, nada.
Na verdade, acho que estou entalada com isso até agora. Continuo sentindo frios desagradáveis na barriga, por exemplo quando liguei meu iPod e percebi que aquela música era a que eu estava ouvindo quando o maldito pegou minha bolsa. Ou quando achei a página do livro em que tinha parado no momento da confusão. Ou quando, em casa, abri minha bolsa pra procurar alguma coisa que eu sabia que poderia não estar lá, ou quando peguei pela primeira vez meus óculos escuros.
Ou quando eu penso que esses caras passaram mais de meia hora comigo, apanhando dos outros, indo presos, sentindo raiva. E que o ônibus em que eles me encontraram é o ônibus que eu pego todos os dias! Continuo vendo a cara de um deles quando penso no assunto e isso me arrepia – no pior sentido possível!


A conclusão dessa história toda é que é melhor eu começar a ir de carro pra faculdade.
Entre um medo e outro… acho que o trauma da violência foi maior. 
Hoje, pela primeira vez, sai de carro, dirigindo, sozinha! Sem ninguém do meu lado pra prestar atenção e me prevenir das cagadas.
Fiquei mega nervosa, tremendo pra caramba. Mas nada comparado com o nervoso de terça feira… Espero que consiga superar os dois medos e que no final, alguma coisa de positivo venha disso tudo! (nessas horas eu invejo quem acredita de verdade que tudo na vida tem um sentido e uma razão de ser)


Ah! Claro que apesar de medo e nervosismo, acabou tudo bem! Recuperei minha bolsa com tudo dentro!





"Branco como coco, branco como leite"

Fala se não é destino:


Hoje de manhã fui pra aula normal,apresentei trabalho e tal… mas depois do intervalo o professor e alguns alunos resolveram ir para o centro de Santiago, pra filmar a marcha de estudantes que estava rolando por lá.
Era perto das 11 da manhã e eu teria aula a tarde e um trabalho pra ficar terminando por lá na hora do almoço, mas como era muito cedo, acabei resolvendo vir almoçar em casa.
Antes de ir embora passei na secretaria pra deixar o contrato da (finalmente) matrícula e a funcionária me disse: “Está nevando, Gabriela”. Achei que era alguma expressão chilena, porque estava realmente chovendo muito e as partes externas da Escuela estavam alagadas…então só dei um sorrisinho e fiquei esperando o papel que ela iria me entregar.
Aí ela me disse: “Não! Tá nevando de verdade!” e me mostrou a tela do computador, onde ela estava vendo notícias ao vivo que mostravam neve em “diversos sectores de Santiago”. 
Abri um sorriso tão grande que ela sacou na hora: “Você nunca viu neve, assim, na cidade, né?”. Pois é, nunca!
Na lua-de-mel fomos pra Europa bem no inverno, passamos frio pra caramba, mas o máximo de neve que eu vi foi um restinho sujo e quase derretido nos chãos de Paris, e uma ameaça de neve em Londres, mas que acabou não vingando…
Na verdade a neve fugiu de mim a viagem inteira: cheguei em Paris uns dois dias depois da neve, sai de Edimburgo um dia antes (imagina que sonho, minha querida Edimburgo com neve!!!) e assim por diante…Aqui no Chile já fui várias vezes pra montanhas nevadas, mas sempre encontrando a neve já no chão…


Bom, entrei no ônibus pra voltar pra casa pensando que chegando aqui iria ligar a televisão pra ver onde estava a neve e avaliar as possibilidades de ir até ela…
Quando, de repente…na metade do caminho…. começo a ver umas coisas caindo do céu. Primeiro achei que eram gotas da chuva interminável refletindo algum traço de sol, mas aí fiquei olhando fixamente pra todas as janelas ao mesmo tempo e confirmei minha hipótese desejada: era neve!!! Fininha, pouquinha, branquinha…neve!!!
Meu impulso imediato foi levantar pra descer do ônibus! Desceria, deixaria alguns flocos caírem no meu casaco preto, tiraria umas fotos e pegaria o próximo ônibus! Parecia simples…mas acabei desistindo – eu tinha que voltar cedo pra faculdade pra terminar um trabalho, lembram?. Combinei comigo mesma que se quando chegasse no meu ponto certo não estivesse mais nevando eu pegaria o ônibus de volta! rs  Como a tal da neve foi aumentando um pouco enquanto o ônibus andava, fiquei tranquila. 
Tranquila e feliz! Tanto que o cara que estava do meu lado percebeu pela minha movimentação que tinha alguma coisa acontecendo, olhou pela janela e comentou comigo, sorrindo “es nieve!”. Ah! Foi ele também que viu que derrubei meu cartão do ônibus na rua quando desci e fiquei maravilhada rodando em torno do meu próprio eixo e filmando tudo! hahaha


Bom, a “nevasca” foi só aumentando, ficando mais e mais linda! A chuva foi parando e deixando só o espetáculo branco!
Juro, lindo!


E eu não era a única caipira encantada, não!


Nevar em Santiago é muito raro e, segundo as notícias, por tanto tempo e com tanta intensidade, MUITO mais raro! Ou seja, turistas e chilenos como bobos pelas ruas tirando foto, filmando, fechando o guarda chuva pra deixar a neve cair em si e sorrindo..todo mundo sorria! Todos olhavam pros desconhecidos pra comentar a beleza do momento!
Acho que foi um momento tão emocionante (ou mais emocionante, não sei bem) quanto o meu primeiro terremoto! hehehe


Tudo isso enquanto esperava “minha segunda condução”… Graças a uma paralisação de algumas linhas de ônibus fiquei uma meia hora nesse ponto, assistindo tudo, vendo a reação das pessoas, vendo as mudanças na intensidade da neve e as conseqüências no cenário…babando muito! E fazendo uns vídeos e postando na internet pra todo mundo acompanhar minha emoção em tempo real! hahaha (pude curtir tranquila porque a essa hora já tinha recebido um email do professor cancelando a aula de amanhã em que eu teria que entregar o tal trabalho por terminar).


Quando finalmente chegou “la micro”, estava lotada pra caramba e só dentro desse aperto é que fui me dar conta de que minha mão que estava sem luva (pra poder segurar o celular e filmar tudo) estava completamente vermelha e congelada e meus pés…nem se fala! A bota que eu achava que era impermeável tinha deixado, em algum momento x, entrar água nos meus pés e eles doíam de tão congelados que estavam!


Cheguei em casa e, depois de tirar foto da varanda e mostrar a neve pra Maní, enfiei meus pés na banheira na água bem quente e, JURO, senti muita dor enquanto meus pés descongelavam! Muita! Só não chorei de dor porque fiquei rindo com a Maní desesperada sem entender o que raios eu estava fazendo, voluntariamente, dentro daquela banheira de tortura! hahahaha


Mas, como eu já disse no facebook, valeu muito a pena! Cada dedo congelado valeu a pena!!! Foi incrível de lindo e emocionante! Pode me chamar de boba, de caipira, o que seja… Foi intenso!
Pra quem ainda não viu no facebook, seguem algumas imagens:

Boneco de neve!!!

(reconhecem meu prédio?? rs)

Escuela Militar






Bom, em casa tomei uma sopinha, coloquei mais meia, troquei de calça.. fiquei no conflito: sapato que não molha X sapato que não derrapa no gelo (sim, porque o chão estava muito escorregadio)…hahaha
Na hora em que precisei sair pra voltar pra faculdade já tinha parado de nevar e voltado a chover, então optei pela bota que não molha, mesmo…rs








E foi isso! Certinho! Exatamente nesse buraco que magicamente ficou livre no meu dia, nevou em Santiago!
Quando saí já não tinha muita neve e quando voltei encontrei a mesma vista da Escuela Militar assim:







Fala se não foi o destino que me liberou … fala!!!





"Pra mim meia dúzia é seis, hein?!"

Um bebê com 6 meses de idade já tem controle sobre seu próprio corpo, já começa a atender pelo próprio nome, reconhece a própria mãe e já sorri. São conquistas muito importantes desses primeiros meses de vida!


Depois de 6 meses, o funcionário em período de experiência é contratado oficialmente.


Um gato ou um cachorro de 6 meses de vida já está com todas as funções biológicas desenvolvidas, mas continua com a energia e a empolgação de um adolescente.


6 meses é o tempo que um vinho semi-premium fica dentro do barril de carvalho.


6 meses num namoro adolescente parece um recorde.


6 meses longe da pessoa amada pode ser insuportável.


6 meses podem ser muito pouco tempo.


6 meses pode ser uma eternidade!


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Sexta feira, dia 12, completamos 6 meses de Chile, de Santiago, de “expatriação”, de saudade, de conquistas, de “nossa família”, de Futuros Diretivos (e acompanhante), de Cordilheira na janela e neve no quintal…


É impressionante como quando faço as contas parece muito menos tempo do que quando penso em tudo que já vivi aqui, tudo que já aconteceu, tudo que já mudou.






Sei que com a facilidade da internet e do blog todos vocês queridos vêm acompanhando quase em tempo real o andamento da vida por aqui. Mas como  data é especial, acho que vale dar uma resumida no que foi esse período.


Nesses 6 meses fiz um semestre da faculdade e já comecei o segundo, mas minha matrícula oficial só sai essa semana agora.
O Lucas trocou de chefe um monte de vezes, foi promovido e agora tá num período sem chefe, trabalhando por mais de um, enquanto não colocam alguém de volta no cargo.
A Maní completa hoje 9 meses de vida. Continua linda, mimada e fofíssima! Andou aprontando umas por aqui – como picotar umas folhas de jornal e mastigar quase completamente o fone bluetooth do Lucas… mas a gente tem que entender que no fundo, ela só quer atenção! rs

“Mããããeee, pára de escrever e vem brincar comigo. Trouxe todos os meus brinquedos legais pra você!”



Ficamos por muito tempo procurando um apartamento pra comprar, porque seria um bom negócio e porque a obra aqui ao lado incomoda bastante. Em julho achamos um apartamento que gostamos muito, estava num preço bom e tinha essa vista:







Fizemos uma oferta de compra, mas acabou que o dono não querendo vender começou a nos enrolar um monte, aceitou a proposta mas ficou inventando umas cláusulas estranhas pro contrato… Acabou ficando bagunçado demais e achamos melhor desencanar, não entrar em rolo.
Com essa decepção, decidimos dar uma acalmada na procura por apartamento, dar umas melhoradas nas coisas do nosso e compramos algumas coisinhas que faltavam, como criado mudo e um microondas descente!


Criado mudo multiuso: serve também de mesa de centro


Agora cabe um pacote de pipoca no meu microondas!


Desde que começou a temporada de inverno temos aproveitado e subido muito a montanha! Seja pra esquiar, fazer snowboard (o Lucas já está craque!), ou só brincar na neve mesmo… É lindo e é pertinho! Tem que curtir, né?!





Em 6 meses aqui recebemos muitas visits boas! Não tenho fotos de quase nenhum, mas faço aqui uma listinha de homenagem/agradecimento aos que vieram!


– Nanci – minha mãe que veio de surpresa pro meu aniversário e estreou o quarto de visitas;
– Rejane, Claudio e Pedro – sogros e cunhado, que vieram conhecer Santiago antes que chegasse o inverno;
– Aline – a primeira da trupe Santander;
– Celso – também Santander, foi embora e deixou na gente a vontade de conhecer a Ilha de Páscoa;
– Marina – que o vulcão não quis deixar ir embora;
– Samantha – a visita que a gente não viu, mas que cuidou super bem da Maní;
– Andrea e Marcelo – o casal fofo;
– Augusto e João – dupla dinâmica que por pouco não veio;
– Nathalia e Lucas – que me fizeram companhia e trouxeram um pouquinho de Buenos Aires;
– Mari Midori – primeira viagem internacional especialmente pra me visitar;
– Vagner, Patricia, Isabella, Vinicius e Arthur – Família Ramalho em peso pra inesquecíveis momentos na neve!


E esperamos mais!!








6 meses não diminuíram nem um pouco meu encanto com a vista da Cordilheira! Também, como poderia?!?!





Em 6 meses fomos uma vez para o Brasil, numa visita super corrida, gorda e gostosa. Fomos também duas vezes num restaurante brasileiro que tem aqui, matar a saudade de coxinha e outras guloseimas típicas!


Depois de 6 mesess sofrendo com o tema, finalmente encontrei uma faxineira boa nesse país!


Nesses 6 meses descobri a delícia que é fazer pilates e não quero mais parar.


Nesses 6 meses engordei um pouco (juro que foi pouco..rs), mas ainda não consegui me animar pra emagrecer…


Em 6 meses já aprendemos a fazer a compra de mês bem rapidinho. Já tenho todas as minhas marcas preferidas e não me perco mais no mercado..rs. Mas nesse últimos mês experimentamos as maravilhas da “compra de mês on line” e acho que vamos adotar!


Nesses 6 meses fui uma vez ao cabeleireiro e duas ao dentista, as duas coisas na semaninha rápida de Brasil…rs
Mas também fui uma vez na ginecologista, e isso foi aqui em Santiago mesmo!


Mesmo já estando no segundo semestre, continuo preferindo ficar quieta no meu canto, lendo, lá na faculdade; mas já escolhi as pessoas que eu gosto e as que eu não gosto…


Os sentimentos continuam intensos, mas agora com uma intensidade controlada, sensata e sensível…


O casamento está cada dia melhor!


A distância continua dolorida, mas a vida santiaguina compensa até mesmo isso!


6 meses passaram e posso olhar pra trás e ter a certeza de que fiz as escolhas certas, ou me dar o direito de questioná-las, não importa. O que sei é que a vida vai muito bem, obrigada!
Quer ver?
Vem pra cá experimentar! Ou só conhecer e me visitar…também serve!rs






Hoje foi feriado no Chile e aproveitamos a esticada para fazer nossa primeira “grande viagem” por aqui… Fomos até Portillo, uma estação de esqui chilena lindíssima e depois até Mendoza, uma cidade da Argentina famosa pelos seus bons vinhos.
O passeio foi feito de carro, em boa companhia e pela estrada no meio da Cordilheira dos Andes. Portanto, certamente vai ter um post todinho só pra ele!
Foi um jeito lindo de comemorar nosso aniversário Chileno!!!


















Rapidinha

Volta de feriado em São Paulo. Esperava pegar um bom trânsito pra conseguir chegar em Guarulhos. Mas não. Pegamos trânsito pra sair de Guarulhos. No avião!
Foi mais de uma hora depois do “Tripulação, portas no automatico” pra conseguir o “Tripulação, decolagem autorizada”. Porque o tráfego aéreo estava caótico em Cumbica.
Depois foram as 4h e pouco de um vôo conturbado. Não por turbulências, mas por grupinhos de pessoas achando que estavam na Vila Madalena. Em pé no corredor, copo de vinho na mão, falando alto e rindo (um deles exatamente na fileira de trás). E crianças fazendo birra. E aeromoças lentas.
Mas a comida tava gostosa.
E chegar em casa e finalmente dormir na minha própria cama… Delícia!
Sem falar na recepção querida da Maní querida!




Bom, a semana de Brasil foi ótima e merece um post com mais atenção – mas sem fotos, porque, pra variar, esquecemos de tirar. Esse de hoje é só pra avisar que estamos em casa.


Dia frio, sol brilhante e a tranquilidade na rua lá fora…. é, de volta a Santiago!

Morando em Santiago eu aprendi que…

Aprendi que todos os dias vc tem que olhar esperançosamente para o horizonte.


Não importa como esteja o tempo, a temperatura, a poluição ou o seu humor. Você tem que olhar pro horizonte.


Muitas vocês você se decepciona, se depara com uma grande massa marrom de poluição que te lembra como é ruim o ar que você respira diariamente.
Às vezes não faz muita diferença, porque você olha e simplesmente não tem nada pra ver.
Mas às vezes…..aaahhh!!!!
Às vezes você olha e simplesmente perde o ar!!! E fica com torcicolo porque não pode parar de olhar. E quase é atropelada. E atropela outros pedestres.


Morando em Santiago eu aprendi que não importa se você vê todo dia ou não. Mesmo assim é importante lembrar que logo ali ao lado está uma montanha de beleza, um muro de confiança, pedras pra te proteger – ou pra te segurar e não deixar que você saia correndo no primeiro sinal de fraqueza.


Eu aprendi que a Cordilheira é ruim para o sistema respiratório não só porque ela retém a poluição no ar, mas porque ela pode assim, inesperadamente, me tirar completamente o fôlego!
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Hoje, pela primeira vez desde que chegamos, a Cordilheira amanheceu branquinha, coberta de neve! Um espetáculo!!!


Nossa visita do momento, a Marina Malta, teve a sorte de ter reservado o dia pra ir fazer o passeio aos Andes e ver bem de pertinho os 40 cm de neve que caíram!









Eu vi só aqui de baixo, mas fiquei boba o dia inteiro!!!


Pena que nas minhas fotos não fica nem de perto tão lindo quanto é pessoalmente… mas acho que dá pra ter uma noção:



(na hora do almoço, quando consegui tirar essas fotos, o céu tava azulzinho, mas a nuvens estavam bem cobrindo a cordilheira.. =/ )