“Um sentimento muito mais servil”

Hoje às 12:15 eu estava esbravejando o quanto estou cansada e não aguento mais brigar, ensinar, repetir, pedir, tirar, separar, gritar…

Tava naquele estado em que me arrependo dessa escolha maluca de ser mãe em tempo integral, em que me arrependo de ter tomado pra mim essa responsabilidade tão grande de botar (DUAS) gente(s) do bem no mundo…

Tava exausta, com vontade de deitar em posição fetal e ficar quietinha ao invés de ter que seguir tocando o dia…

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Aí às 12:22 eu tava vomitando arco-íris, não me aguentando de tanta fofura com essa cena:

E depois de novo às 12:51

Cecília morrendo de orgulho.

Dante “morrendo de diversão”.

E eu olhando de longe e pensando: que sorte eu tenho! Que bom que posso estar aqui vendo de camarote essa relação se construir e essas pessoinhas pentelhas virarem gente que sabe viver junto, sentir e expressar afetos (e tantas outras emoções), ensinar, aprender, brigar, se entender…

Que sorte a minha ter sido maluca e tomado essa decisão que no dia a dia é tão difícil!

Um sorriso deles ou um abraço deles não me fazem esquecer todo o cansaço e toda dificuldade – faço questão de frisar!

A vida anda punk e eu não acho que pequenos charminhos compensem tudo.

A escolha é muito maior, o buraco é muito mais embaixo e o “objetivo” é muito mais complexo.

O caminho é esburacado, cheio de “chorar em posição fetal”, tanto quantos arco-íris vomitados por aí… tem dias que a balança pende mais primeiro lado, em outros dias, pende pro outro…

Existem momentos de equilíbrio, nunca dias de equilíbrio.

Mas essa é minha escolha! E eu achei que tava precisando vir aqui me lembrar dela por escrito!

Por eles:

E por ela:

“Aja duas vezes antes de pensar”

“Filhos,

Se eu tivesse que dar um só conselho pra vocês… não ia concluir nunca essa tarefa, pois não seria capaz de escolher um só! hahaha
Mas se pudesse fazer uma listinha dos mais importantes, esse aqui certamente estaria em destaque: não percam boas chances na vida por medo de experimentar o novo. Ou, em outras palavras: não deixem que frescuras os privem de viver!

Vou contar umas historinhas:

1 – eu não comia amora quando criança. Eu dizia que não gostava de amora, mas a verdade é que nunca tinha tido coragem de experimentar pois tinha nojo, achava que as amoras pareciam taturanas! Quando eu tinha uns 12 anos, numa viagem em família, a tia Marcia ficou inconformada com esse papo e, literalmente, esfregou amora na minha cara até eu sentir o gostinho e me topar experimentar! Aí amei, claro!!! Amei tanto que uns anos depois plantei uma amoreira lá no quintal da casa da vovó e do vovô!

2- eu não gostava de cereja. Também nunca havia provado cereja de verdade, no máximo aquelas falsas (horríveis) que vem em alguns doces…E apesar de ver minha família se esbaldar na frutinhas em algumas ocasiões, nunca cedi a frescura. Fui morar no Chile, terra de umas cerejas maravilhosas, e nunca nem pensei em comprar. Até que a Cecília nasceu…e na primeira refeição que o hospital me deixou comer depois do parto veio de sobremesa umas poucas cerejas. Eu estava absolutamente faminta! Muito mesmo! Tanto que comi tudo o que tinha na bandeja, incluindo as tais bichinhas que, rapidamente viraram paixão absoluta!

Por sorte isso aconteceu antes da mudança pra Espanha, pois eu já cheguei lá sabida e pude comer quilos e quilos (literalmente!) de cereja nos verões que passamos lá!

3 – Hoje, dia 02/10/17, recebemos em casa um saquinho com jabuticabas. E a cena de eu procurando na internet “como comer jabuticabas?” foi tão ridícula que até você, Cecília, notou e comentou…rs
Pois é.. 31 anos nas costas (e na barriga) e eu nunca tinha experimentado jabuticabas… preciso dizer que adorei?!?

Enquanto comíamos um monte delas fiquei pensando nessas histórias aí de cima, inconformada com o tempo e as delícias que perdi por pura frescura, pura falta de flexibilidade… e aí me deu vontade de vir aqui dizer pra vocês: não cometam esse erro! Não “herdem” de mim essa fraqueza, por favor, não vale a pena!

Pelo menos amoras, cerejas e jabuticabas já são conhecidas e adoradas por vocês! Espero que vocês se abram pra vida e se deliciem com ela com mais facilidade do que a mãe de vocês aqui… Espero, de coração, conseguir aprender essa lição o suficiente pra ensinar pra vocês com a alma!

(E aos outros leitores, deixo uma dica: assinei aqui em casa uma cesta de frutas e legumes que chama Fruta Imperfeita. Recebo semanalmente produtos variados que não são, esteticamente, o que os grande vendedores compram e que seriam, então descartadas pelos produtores. Chegam bananas e maçãs pequenininhas, chuchus tortos e etc… Uma forma bacana (e saudável e prática e barata) de colaborar com a diminuição de desperdícios! Mas a parte mais legal pra mim tem sido encontrar  – e comer – uma variedade de coisas que eu não compraria sozinha no mercado(leia ali em cima pra entender o porquê! hahaha)

Recomendo!!

(e juro que não é publipost! Hehehe)