Lar

Acho curioso como algumas coisas simplesmente não nos abondonam…

A escrita é assim pra mim.. às vezes quem a abandona sou eu. Às vezes parece que nunca mais vou sentar e escrever um texto, que desaprendi, perdi o gosto… mas acontece que escrever é, pra mim, uma necessidade. Então ela sempre (me) volta. Quando me dou conta, estou andando por aí narrando a vida dentro da minha cabeça. Explicando a realidade pra mim mesma com palavras que pedem pra serem escritas.

Agora em abril deveria acontecer a renovação do plano de assinatura desse blog e eu me perguntei porque mesmo mantenho isso daqui ativo.. Se fosse pelo simples apego às histórias registradas por tanto tempo, eu poderia apenas salvar os escritos, quem sabe até formatar, imprimir, como tantas vezes pensei em fazer.

Mas acabo de entender que preciso dessas portas aqui abertas. Preciso do botão “novo post” disponível. Preciso poder voltar e desaguar quando internamente as tempestades de verão ou as garoas gentis estiverem pedindo vazão…

Voltar pra casa. Voltar pra dentro. Voltar pro meu lugar no mundo: as palavras.

E depois sair outra vez. E voltar. E sair. E voltar. Quantas vezes forem necessárias.

Fica assim então…

Vez ou outra me lembro do ótimo texto de um amigo querido em que aprendi que prioridade é singular e, portanto, uma só.

Fico pensando na onda de importâncias que nos afogam, na constante exaustão e na certeza de que não estou “dando conta” (seja lá o que isso signifique). Na sensação triste de acordar todos os dias esperando o próximo (o fim de semana, o encontro, a folga, o trabalho, a responsabilidade, o alívio, a notícia…)

Quero o próximo porque no hoje parece sempre precisar caber mil prioridade(s): coma direito; faça exercício; mantenha a casa funcionando, a comida fresca, as crianças saudáveis, educadas e amadas, os bichos bem cuidados, as plantas aguadas na medida, as clientes bem atendidas, as parceiras atualizadas, os amigos escutados, a burocracia em dia, a pele protegida, as mensagens respondidas; tome água; lave a roupa; faça as compras; troque as toalhas; recolha cocô; tire o pó; durma horas suficientes a noite; passe fio dental….

Em 2023 eu finalmente virei uma pessoa que passa fio todos os dias. Porque é importante e se eu não passar fio dental todos os dias, corro o risco de sofrer perda óssea na boca, pasme.
Quando resumo aí em cima as coisas que ocupam meu tempo o tempo todo começo a entender o cansaço e me desespero um pouquinho. Porque prioridade não deveriam ser plural, mas não sinto que posso soltar nenhum desses pratinhos sem que a vida desmorone.

Quando, com esforço, me dou uma pausa e fujo pro cinema em plena hora do almoço, até consigo ir sem culpa, mas volto devorada pelos atrasos a serem compensados.

Chego a conclusão de que ser adulto é lidar constantemente com a sensação de impotência, de que não vai dar, mesmo… não vou ler todos os livros que gostaria, não vou dormir como precisaria, não vou terminar todos os cursos tão bons, não vou dar todos os abraços… vou só cumprindo as tarefas, encaixando uns prazeres no meio e me afogando um tiquinho mais pelo caminho…

Essa nova lista me traz a pergunta: o problema é a realidade que é curta, as exigências que são surreais ou a expectativa que é delirante?

Fica assim então…

quando passar minha TPM talvez eu volte com uma conclusão um tiquinho mais otimista…