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‘xô contar um causo: Há alguns meses Maní começou a tomar todos os dias, duas vezes por dia, uma remédio pra dor na coluna. Diariamente o alarme do meu celular toca nos horários indicados e eu fico apertando o “soneca” algumas vezes, até conseguir ir de fato empurrar o remédio na goela da bichinha. Duas vezes por dia. Se o alarme é cancelado antes, as chances de eu esquecer de dar a dose daquela vez são enormes.

Pois então que outro dia o alarme tocou no meio de uma arrumação gigante da obra aqui de casa e, depois de vários “sonecas”, uma das vezes do toque eu aproveite que estava na cozinha e fui la realizar a tarefa.

Corta pra uns 20 ou 30 minutos depois, em que eu me vejo outra vez na cozinha, com Maní por perto e começo a pensar “estranho…desliguei o alarme, mas não tenho memória de ter enfiado o remédio na boca dela…Mas acho que me lembro de ter cortado o comprimido…”(ela toma só metade por vez)
Fui la checar e, de fato, só tinha metadinha na caixinha… Eis que me vem “hmmm…. mas teve aquela hora em que pensei ‘nossa, que estranho esse remédio salgado’…”.

Sim, minha gente, eu tomei o remédio da Maní ao invés de dar pra ela! hahahahahhahahahaha

Quando cheguei nessa conclusão tive uma crise de riso tão forte que não conseguia nem explicar pro Lucas o que tava acontecendo… uma crise de riso que se misturou com choro – choro de rir, mas choro também de perceber o absurdo da coisa que o cansaço físico e mental me levaram a fazer! Eu tomei o remédio da cachorra e só percebi uma meia hora depois! Que loucura! Que perigo!

Foi o Lucas quem pensou que precisavamos saber o que fazer, aí corri pro google pra fazer a rídicula pergunta “humanos podem tomar o remédio x?”… hahahaha Por sorte, sim, é um remédio que humanos tbm tomam, e numa dose bem pequenininha, pra minha amendoizinha, então ficou tudo bem! rs

Na terça feira agora fiz outra cagada, ainda maior e mais séria, fruto de cansaço, de cabeça a mil por hora, de 957 “mãããããeeeee” por segundo. Mais uma vez, por sorte, ficou tudo bem.

Mas, assim… eu queria saber: onde é que a gente aperta o pause da vida, galera?

Alô, alô

Eu fico esperando a ideia genial aparecer e quando as “apenas interessantes” passam por mim, fico sempre sentindo que não as consegui agarrar. Enquanto espero escrever as grandes coisas, vou caindo no vazio de não escrever coisa nenhuma.

Sinto saudades diárias de quando conseguia simplesmente sentar e registrar o que quer que fosse que estivesse no meu dia, na minha cabeça, nos meus planos…

Entro no instagram e, observando stories alheios tem me vindo muito uma pergunta: “o que será que nos faz nos expor?”. Porque será que cada uma daquelas pessoas escolheu publicar cada um daqueles stories?

Eu escrevo pra me entender e pra “me existir”. Mas por onde passa a escolha sobre onde publicar? Pra quem eu escrevo?

Em tempos de redes sociais, em que a exposição parece quase servir pra validar a existência de cada experiência, tenho encontrado mais gosto e “palpabilidade” naquilo que não posto. É curioso reler minhas “lembranças do facebook” e encontrar o que antes me motivava a postar. Ou reler este blog e simplesmente me reencontrar.

Hoje em dia eu faço exercício e não posto. Leio livros e não posto. Tomo sorvete e não posto. Porque postar? E porque não postar?

O blog surgiu pra compartilhar minhas experiências com quem estava longe. Eu continuo longe e, talvez, cada vez mais distante, já que agora também ausente das redes sociais. Quando escolho postar no blog e não no instagram, o que estou buscando? Se a ideia é escrever pra mim mesma, porque clico no botão de “publicar” depois? Porque não escrever só num documento e salvar por aqui? Escrevo onde alimento a ideia ilusória de que ninguém lê, mas sinto um prazer enorme quando sei que alguém leu…oras?!

Por que eu escrevo? Pra quem eu escrevo, afinal?
Hoje foi dia do escritor e eu senti várias vezes um apertinho no peito por me perceber tão distante desse lugar que por um tempo eu ocupei e que ainda anseio.

Li em algum story uma frase de um autor famoso (esqueci qual..hahaha) que dizia que todos somos escritores, mas apenas alguns de nós escrevemos. Não sei o que levou alguém a compartilhar tal frase, mas sou grata que ela tenha chegado até mim. E tem sido por aí um pouco os rascunhos de respostas que encontro no turbilhão de perguntas. Como um naufrago gozando de minha solitária ilha deserta, gosto de soltar minhas palavras ao mar, em pequenas garrafas de vidro chamadas de post em blog abandonado, na esperança, mas tentando não alimentar expectativas, de que elas cheguem a alguém que sinta gratidão ao encontrá-las.

Escrevo pra mim, é verdade. Mas escrevo desde sempre aos meus queridos, aos que são curiosos e aos que não perdem a paciência comigo. Sou muito grata a quem ainda se interessa nas minhas palavras e venho, pela milésima vez na vida, me prometer soltar mais garrafas “enmenssageadas” por aí…

Chegar

Há dias estou engasgada (não estamos todas?!) com o caso nojento do anestesista preso em flagrante abusando sexualmente de uma paciente sedada durante uma cesareana.

É mesmo o absurdo escancarado e este homem merece ser punido de muitas formas diferentes. Mas tem um lado dessa história que tava me doendo sem nome e que eu acabo de entender:
O fuzuê que este flagrante causou me mostra o quanto ainda são invisíveis as violências cometidas sistematicamente nos cenários de parto – e que eu vivo testemunhando…

Li em diversos lugares: “o cara abusou da mulher durante a cesarea. As mulheres não estão seguras no momento sagrado de ter seus filhos”. Não, elas definitivamente não estão!
Ainda que as outras Violências Obstétricas não sejam “literalmente” um abuso sexual, elas não o deixam de ser, porque, sim, o parto é um evento sexual. E diariamente as mulheres que o vivem são violentadas ali. Os exemplo que vejo o tempo todo vão desde as micro violências – comentários sutis que acusam, assustam ou desencorajam…até ações físicas, em seus corpos vulneráveis de quem tenta por o filho no mundo, que geram dor, medo e feridas (físicas e emocionais).

Enquanto doula, me sinto de mãos atadas. Me sinto violentada com elas, me sinto um pouco cúmplice por reconhecer a violência (muitas vezes antes de as próprias parturientes) e não poder fazer praticamente nada a respeito.

Das mil vezes que escrevi neste blog em 2022 que estou exausta, grande parte delas foi por esse motivo. Estou exausta de viver e assistir violências. Sinto raiva, mas o sangue que me sobe aos olhos não vira combustível para lutar. Ele vira uma vontade desesperada de me cegar e fugir correndo.

Fraca, covarde, incapaz…. vulnerável…anestesiada. Sou mulher também. E não sei quanto mais disso vou aguentar em pé.

Torço pra encontrar amparo em outras mulheres. Que a gente possa se revezar entre a luta indispensável e o (necessário) despencar.