Argh

Eu tô cansada.
Exausta.

Entre desconstruir minhas lutas internas (oi, terapia) e viver num mundo violento, numa profissão que se propõe a lutar contra violência e “mudar o mundo, um nascimento por vez” and cuidar da roda da vida/casa/família que não para um segundo de girar, eu tô exausta.

Eu quero parar, como sempre precisei na vida, mas sinto que não posso. Que não tem de onde tirar.

Racionalmente eu sei que parar é necessário, importante e “permitido”, até. Mas dessa vez parece que não consigo encontrar a permissão. Em mim, no mundo, sei lá…
O problema é que neste cenário em que não encontro o pause, vai me batendo o desespero de apertar logo o stop.

Cancela isso aí tudo e me devolve a vida mais fácil de antes, faz o favor?!

Ufa! Escrevo aos prantos e já me sinto mais leve. Escrever é parar pra entender e se autorizar a colocar pra fora. P A R A R pra entender e colocar pra fora. Pausei. Escrevi.
Será que agora o play fica possível (talvez agradável?) outra vez? Ou será que essa sensação só virá depois do fim da tpm.. ou das pendências da agenda (aka.: nunca)… ou das violências do mundo (do meu, pelo menos…)?

Coragem é ir com medo mesmo

Pah: toma esse título mega clichê logo de saída.

Mas é que clichês não se tornam clichês à toa…

E recentemente eu andei indo muito com medo mesmo – muito aí se aplicando ao “indo” e ao “com medo”, no caso…rs

E dá um orgulho danado, porque durante muito tempo o medo e as dúvidas me travaram.

Por conta de histórias que eu vivi – e de outras que me foram contadas sobre mim – eu não me achava capaz de ir. E nem de fugir. Eu simplesmente estagnava.

Tantas e tantas vezes.

Talvez esse seja o gosto da maturidade: uma mistura de não ter o privilégio de estagnar com ter a capacidade de se colocar à prova.

Fui. Acompanhada do medo, sentindo seu sussurro no meu ouvido tantas vezes, fazendo às pazes com ele – e comigo.

Fui e continuarei indo. Porque isso é o que precisa ser feito. Porque é só indo é que a gente tem a possibilidade de chegar la. Seja qual for esse lugar.

Eu ainda não sei qual é o meu. Mas sigo indo…

Afinal, isso é viver, não é mesmo?!

Será?

Sábado passado, de martelete nas mãos, quebrando pisos e paredes de tijolos, me peguei pensando: de onde será que vem essa satisfação que sinto ao me descobrir capaz de realizar de verdade as coisas que precisam ser feitas na obra do nosso porão.

Não tenho sido só a assistente que recolhe o lixo ou entrega “o bisturi nas mãos do cirurgião”, como tantas vezes fui nessas “coisas de casa” que o Lucas adora fazer.

Aprendi a usar ferramentas mais pesadas e muita força – ganhando vários hematomas no processo – e tenho me sentido mais parceira do que assistente neste projeto.

E aí bate um baita orgulho.

Orgulho que passa pela concepção machista de que ferramentas e obras são “coisas de homem”, claro. Que atravessa com força os velhos conhecidos preconceitos que tenho contra minhas próprias habilidades. E um orgulho que me lembra deliciosamente das coisas incríveis que meu corpo é capaz de fazer. Uma sensação meio parecida com quando consegui parir pela primeira vez; aquela constatação de que todos (inclusive e principalmente eu mesma) estavam errados quando acharam que eu não seria capaz.

É muito, muito gostoso me perceber capaz na prática. É gostoso ver o Lucas me entregar o martelete e ir embora, confiando que eu farei o trabalho. E mais gostoso ainda poder, de fato, fazê-lo!

Há um tempo atrás tive uma bela conversa com a Cecília sobre o medo que temos de tentar fazer as coisas quando achamos que não vamos conseguir. É algo que vejo constantemente nela e que mexe muito comigo, porque é uma sensação que conheço bem demais.

Um dos exemplos que dei pra minha filha foi meu medo de tentar (mais uma vez) aprender a andar de bicicleta. Falei da vergonha por não saber, do medo de falhar – e me machucar e me envergonhar ainda mais…

Gosto que meus filhos me vejam trabalhando de verdade na obra. Ainda que eles não escutem as mil vozes cheias de dúvidas na minha cabeça, amo que eles vejam as conquistas e o orgulho do trabalho que avança. Amo, ainda mais, vê-los se arriscando a tentar – e conseguir – também umas maluquices no tal porão, que anda tão central nos nossos dias que devia passar a ser chamado de “Main Floor” da casa.

Espero que a coragem e o orgulho que nos cercam – junto ao pó – sejam transpostos pra outros cantos de nossas vidas, assim como o pó é. Nas crianças e em mim.

Quem sabe esta próxima não será a primavera em que aprenderemos, os 3, a andar de bicicleta sem rodinhas?!