Bis

Depois do encerramento decidido e anunciado, volto pra um rápido bis.

Antenada na moda do momento – ui! – decidi dar um novo lar para os meus escritos.

Agora eles serão publicado la no famosinho Substack:

https://substack.com/@queridoscuriosos

Como uma tentativa de chegar em um pouco mais de gente e, principalmente, com o objetivo de me fazer escrever assumidamente para as pessoas lerem, agora estou nesse tal aplicativo de newsletter.

Não prometo novidades ou indicações, como as pessoas costumam fazer.

Mas prometo colocar as mensagens nas garrafas agora de forma um pouco mais endereçada, digamos…rs

Ando até com vontade de voltar a explorar a ficção um tiquinho…

Pra quem recebe estes textos do blog por email (e quer continuar me lendo hahaha) vou pedir o favor de que vcs cliquem no link acima e se cadastrem pra recebê-los a partir da nova plataforma.

Não sei se um dia decidirei tirar esse site do ar ou não. No momento planejo que ele continue a existir na rede, como um lugarzinho seguro onde posso voltar pra me reencontrar nas leituras mas, pelo menos por enquanto, não mais na escrita.

Veremos o que esses novos caminhos e movimentos reservam a esta que vos fala com tanto carinho!

Beijos, beijos

Será que alguns textos começam pelo título?

Nessa última semana ouvi uma série de episódios de um podcast de entrevistas com escritoras e, claro, muitos pensamentos me povoaram a partir disso.

Os principais deles giram em torno dos motivos da escrita. Há muito eu digo que escrevo pra me entender: pra processar os processos, acender as luzes, chorar os choros, registrar as memórias…

Mas há muito (mais) tempo também eu sei que a escrita se fez na minha vida como uma forma de ser coletiva, de sair de mim e chegar no outro. Como quando eu queria brigar ou pedir ou declarar… saía tudo em palavras no papel – pro outro. (tem até um post velho aqui que eu adoro contando um pouco dessas historinhas)

Este blog mesmo, só surgiu porque eu queria dividir com quem estava longe as experiências e tantas novidades que vivia do outro lado da Cordilheira, conhecendo o Chile, a vida de expatriada e tudo o que veio naquele comecinho de pacote.

Foi aqui, escrevendo sempre Aos meus Queridos, aos que se mantém curiosos e os que não se cansaram de mim, que eu retomei esse pedaço meu – da palavra para o outro. Naquele momento as palavras na tela eram minha conexão com a vida velha e a validação de tudo o que era descoberta. As palavras escorriam, a alma pedia mais espaço e eu ia vazando…pro outro, mas a partir de mim.

E escorri e vazei tanto que inundei este espaço de mim e ele se tornou (talvez, apenas) a bóia pra mim mesma.

Talvez, então, afogada na experiência de por pra fora, mergulhada em tudo que era meu, de dentro, mas que agora eu via existir para o mundo, eu tenha perdido o ar, e ficado lá, me segurando no próprio colete salva-vidas… Talvez tenha sido assim que me esqueci que a escrita e as palavras são aquela corda que liga a bóia ao barco.

Flutuar ao invés de se afogar é, obviamente, vital. Mas se a gente não agarra a corda que os outros jogam, o resgate nunca acontece e a gente fica viva, mas à deriva.

Sinto uma gratidão imensa ao tanto de ar, de espaço e extravazamento que este blog-bóia me deu. Pelas tantas e tantas vezes que ele foi a bordinha da piscina onde me segurei.

Escrevo agora e as lágrimas escorrem – “só porque é triste um fim”, mesmo quando ele é necessário e bonito. Eu não comecei esse texto (e, putz, que bonito que ficou aquele título agora que eu cheguei nesse ponto) sabendo que ele era, na verdade um encerramento. Mas conforme as palavras fluem e as ondas vêm, fica de um azul cristalino aos meus olhos o fato de que eu preciso assumir que este espaço (obsoleto) já não conecta nada a lugar nenhum. E atualmente eu ando cansada de estar à deriva.

Quero voltar a escrever segurando a cordinha. Jogando a latinha pela janela e vendo quem é que pega o outro lado da corda pra me responder no telefone.

Percebo que cansei de soltar mensagens em garrafas na imensidão de um mar vazio, na parca esperança de que alguém as encontre – e na até na expectativa de que algumas nunca sejam vistas.

Quero voltar a assumir (pra mim mesma e pro mundo) que minhas palavras são de mim para o outro. E, pra isso, preciso descobrir onde é que estão os outros agora.

Seria o momento de criar a tal newsletter? Tenho um certo ranço do termo. Mas também tenho pouquíssima disponibilidade agora pra pensar em alimentar algoritmo de rede social pra que meus textos sejam distribuídos e mostrados por aí.

Na minha primeira semana no Chile fiz uma pergunta no facebook: “qual a melhor forma de mandar as notícias daqui, uma lista de email enorme ou um blog?” Quase 15 anos atrás o blog era a escolha da moda; moderno, assustador (morria de vergonha de me dizer blogueira)… foi uma amiga “xóven” que me puxou a orelha e me mostrou o caminho.

Essa mesma amiga hoje é uma escritora incrível e segue me inspirando nas ousadias…

Parece que falta justamente ousadia pra querer o que todo mundo parece querer.

Ousada, concluo: o texto, o raciocínio, o blog…

O que mais vem depois daqui?

Vertigo

O cansaço não parece condizente com a realidade.

O relógio marca uma imensidão de passos, andares e distâncias percorridos.

O corpo cansado – e sentido e pesado – dá conta de coisa pra caramba, as de dentro e as de fora. Haja treino de força pra sustentar tanta carga nessa vida.

Mas vira e mexe o tamanho da exaustão me soa como um sintoma –  pós covid,  anemia, depressão, idade?

Hoje estava pensando no que mais estou carregando quando subo as escadas, o que mais vai e vem pela cidade em que tanto circulo… não à toa resolvi reler meu querido Kundera. 

Que bonito o quão abstrato podem ser os conceitos de peso e leveza quando a gente olha pra eles com lentes coloridas…

A vida pode pesar mesmo quando tá tudo bem.
(E que curiosa essa sensação de não estar vivendo uma crise profissional e de identidade hahahaha)

Às vezes o peso é o que nos segura no chão, outras é preciso leveza pra sair do lugar. E às vezes é exatamente o contrário.

E o cansaço? O que ele me conta, o que me pede, o que me cobra, o que me tira?

Do que nos alimentamos – eu, meus monstros, minhas cargas e minhas baterias?

A frase de encerramento da terapia hoje foi “que difícil esse negócio de ser gente”. 

Perguntas não são respostas, mas abrem cada porta dentro da gente, que sobra até espaço pra espalhar móveis, colocar quadros, trocar o ar… e a canseira depois de um dia de mudança é um negócio que eu conheço muito bem!

Boa noite!

O que será

Dia desses eu assistia uma família nascer e pensava em como é maluca essa coisa de a gente se apaixonar completamente por uma pessoa que a gente não conhece – que nem bem pessoa é, até…

Vira e mexe eu vejo na minha menina crescida os olhos doces e o sorriso sapeca, que registro em seu rosto desde seus primeiros dias de vida. Mas comecei umas viagens filosóficas sobre o quanto é que ela já era ela desde aqueles primeiros momentos, dentro e fora de mim. 

A paixão enlouquecida se transmuta em entrega, desencontros, não-saberes – sangue, suor, lágrima, leite. O bichinho que acabou de chegar precisa ser a coisa mais importante do nosso mundo e nosso mundo vira aquilo por inteiro.

Tão dentro daquele mundo talvez a gente não se dê muito conta de que está, de fato, assistindo uma pessoa se fazer. A gente fabrica primeiro e depois assiste o fazer-se. Todo dia, cada dia um pouco.

Talvez porque agora minha bichinha caminhe em direção ao fazer-se não apenas gente, mas gente grande, as reflexões sem respostas e sem pé, nem cabeça me visitam quando revivo a familiaridade surreal do primeiro encontro de um bebê com seus pais.

Olho pra eles e nos vejo. Nos olhares curiosos por reconhecimento imagino quem eles serão em 10 anos mais. Imagino (mais do que lembro) quem é que nós éramos 10 anos atrás.

10 anos parece pouquíssimo. Mas nos 10 primeiros minutos de vida – que não canso nunca de admirar – cabem tantas vidas inteiras.
Termino essa reflexão de botequim desejando que cada golden hour que testemunho me ajude a lembrar de quão incondicional é esse tal desse amor e de quanta importância de vida tem em 1 hora de vida. Quantas horas douradas já couberam nos nossos quase 11 anos e quantas ainda caberão.

(mesmo nas manhã de mau humor, nas tardes de protestos e nas noites que não demorarão muito pra ser de espera)

Chover, pescar, chorar

Aproximadamente 95 ideias borbulhando. Flutuando em pedaços. Leves, pois incompletas. Passam rapidamente por mim sem que eu consiga alcançar nenhuma por inteiro.

Nenhuma nunca ficará pronta por inteiro se eu não tentar pescar, apreender, compreender…

Curiosa a sensação de que elas já existem, mas ainda precisam que eu olhe pra elas pra que possam nascer de verdade.

Pra olhar pra elas, preciso de atenção, de silêncio, de entrega, de coragem…

Não sei nem qual me falta mais…

Sento pra materializar pelo menos alguma dessas gotas que ameaçam chover em mim. E a máquina de secar roupas me chama. A criança me pede um pão. O gato mia. A cachorra treme.

Meu cérebro pede fuga.

Eu como, re-assisto séries antigas, releio livros (ou até leio novos). O tempo todo.

Sempre ocupada, me ocupo de nunca poder.

Se nunca posso, nunca pesco. Se nunca olho pra elas, elas nunca se condensam e nunca chovem. Apenas flutuam, como nuvens, às vezes inapreensíveis, leves e rápidas. Às vezes pesadas e densas – daquelas que até derrubam umas gotas pelo caminho, mas que vão tempestoar só em outro lugar.

A secadora segue apitando e me chamando. Molhada por alguma gota de ideia que toquei, encerro a escrita de mais um texto sobre a ausência de textos pensando que se juntar todos eles, nesses últimos 13 anos, já deve dar pra escrever um livro sobre como não escrever um livro.

E a ideia do parágrafo de encerramento me escapa. Fico sem fim. Assim como sem tantos outros começos. Sem-fins.

Bom tempo

Chegou a época do ano em que parece que o ano já acabou e que eu não fiz nada dele ainda.

E um pouco nesse clima de música de natal da Simone – 8 de outubro, Gabriela, socorro! – fui reler textos que publiquei nos últimos meses.

Achei divertido e curioso o tanto de “hoje” e “futuro” que povoou meu primeiro semestre. Eu estava realmente me sentindo a dona do tempo, a madura das ansiedades, a mãe do viver e (não) deixar passar.

Há!

Corta pra: “8 de outubro, Gabriela, socorro!
E pra agonia das promessas (de escrita, inclusive) que não cumpri, das oportunidades que não aproveitei (quais mesmo?), da decepção de “já não foi esse ano que realizei aquele sonho”.

Quando o futuro atropela o agora já sei que estou passando tempo demais no celular, que estou botando responsabilidade extra em coisas que mal mereciam a mínima e que estou precisando sacudir a cabeça com mais força, pra ver se uns parafusos voltam a se afrouxar um pouquinho…

E como não sou dona, madura ou mãe dessas coisas que vivem me afogando, às vezes eu esqueço que, importante mesmo é continuar a nadar nesse rio, sem perder de vista a margem que me mostra o caminho, o silêncio da minha própria companhia nesse mundo submerso e o ar, que precisa continuar fluindo pra vida continuar existindo com prazer.

(inspira bem fundo e solta bem devagar…fecha o olho…ouve o nada…ouve e nada.)

“Amoras silvestres no passeio público”

A casa nova tem uma amoreira enorme na esquina. Tão enorme que quase não conseguimos alcançar as amoras pra comer. Fico na ponta dos pés, as crianças sobem na cerca do prédio e, então, saboreamos o gosto de lar. Todos os dias vou passear com a Maní de havaianas, e volto com a língua e o dedão do pé bem roxinhos. Com cara de lar.

A casa nova é três ruas pra cima da velha. E um pouquinho pro oeste. Mudamos, mas ficamos no mesmo bairro – como um desmame gradual da vida nômade, depois das tantas outras mudanças enormes que fizemos.

A casa nova permite que as crianças continuem na mesma escola de antes – uma dádiva considerando-se o mercado imobiliário dessa cidade que escolhemos viver. Ainda sinto meus ombros relaxarem cada vez que me lembro desse fato. Ufa! Uma mudança a menos pros filhos dessa família com rodinhas nos pés.

Arrumei a mudança pra casa nova apreensiva com o espaço que, supunha, iria faltar. Nas madrugadas insones dos dias exaustivos, meu cérebro se inquietava por não saber onde guardaríamos as toalhas ou como faríamos pra cachorra não rolar escada abaixo. Mas a casa nova nos recebeu com braços perfeitamente abertos e em cada canto seu coube uma das nossas coisas.

Ajustes possíveis e encaixes perfeitos foram alargando em meu peito os espaços que me pediam – e possibilitavam – os suspiros aliviados; minha alma vai, agora, pedindo: “favor aterrar por aqui”.

As mudas de amoreiras (que sigo tentando fazer pegar, agora, da enorme amoreira da esquina) pretendo plantar em vasos. Vasos onde caibam raízes profundas.

Na casa nova sinto vontade de ter raízes. A casa nova me convida a plantar – ontem já plantamos dois tomateiros.

A casa nova já tem quase tudo no lugar: meus livros nas estantes, gatos um tiquinho mais donos do espaço, crianças felizes lendo e ouvindo músicas por horas a fio em seus novos quartos, a cachorra ceguinha quase menos perdida, marido usando bastante suas ferramentas hahaha

A casa nova já é tão nossa que já dá pra deixar o ” nova” de lado e chamar de “nossa casa”. Com amoreira em vasos e gosto de lar!

“Que o tempo insiste porque existe o tempo que há de vir”

Já vou logo dizendo: todos os clichês parecem ser mesmo verdade. (talvez por isso eles tenham se tornado clichês?)

Passa voando.

A gente pisca e os dias infinitos de exaustão sem fim viraram um amontoado de anos. As noites de mil despertares, são histórias que a gente não lembra direito, já que no cérebro privado não funcionava tão bem a tarefa de registrar.

O parto, um dia marcante que nos visita uma vez por ano.

A amamentação, uma conquista trabalhosa e deliciosa – e a memória da dor daquele mamilo mastigado, ainda causa arrepios na pele.

Todo mundo avisa que vai passar voando. E ainda que nos dias infinitos a gente possa se esquecer do tamanico que cada ano tem, tem sempre esse fantasma rondando: “aproveita tudo, que passa rápido”.

Aí a gente se pergunta: tudo mesmo? Acho que eu sempre soube que eu sentiria falta até dos “tudo” mais absurdos: milhões de fraldas sujas, doencinhas, birras… todas essas marcas da pequenice das nossas crias… todas elas me fariam falta um dia. (E até que fazem…)

Mas essa consciência não serve – ou não me serviu – exatamente pra gente aprender a aproveitar dificuldade… No meio do furacão, a gente só quer que acabe (ranço do tal do ” vai passar”, aliás!).

Olho daqui do futuro e não sei se é a memória que engana ou o que, mas penso, satisfeita, que entre a pressa e a agonia, vamos vivendo muitos hojes saborosos!

É engraçado isso de chamar o hoje de futuro, aliás. Viver diariamente a sensação de ” caramba, como minhas crianças estão crescidas!” não é muito diferente daquela sensação do primeiro ano de vida dos filhos em que cada dia o bebê parece ter aprendido uma coisa nova e estar diferente do que era na noite anterior.

Só que agora que a exaustão é menor e os anos que já se passaram conservam na boca o gosto doce da nostalgia, fica mais fácil me lembrar que, sim, eles estão crescidos, mas também tem apenas uma infância de vida.

O futuro está sempre à espreita – o bebê que logo vira criança, a primeira infância que fica pra trás, a adolescência que se anuncia…

Mas cuido pra ter como espinha de sustenção dos nossos dias, o passado – com suas (minhas, no caso) escolhas cuidadosas e tropeços inevitáveis.

Não na forma de culpas ou arrependimentos daqueles que prendem, mas como lembretes de urgência da vida. Como prova de concretização da nossa base. Como o hoje que já não é, mas sempre estará, abrindo as portas pra que o futuro, aquele de amanhã, venha com segurança e nostalgia – não com pressa ou ressentimento.

Quero colo! Vou fugir de casa…

Todos os dias, quando termina o jantar, ela me pede colo.

Ou melhor, vem de braços esticados, biquinho estratégico, abrindo caminho com seu corpo enorme e depositando seu peso no meu corpo desavisado. Às vezes ela vem ainda mastigando a última garfada. Muitas vezes, quando eu ainda estou comendo. Sempre sentando no meu estômago recém cheio e ocupado na digestão.

Essa carência com hora marcada – não por mim! – costumava me irritar. Eu me sentia desrespeitada e não vista. “Estou no meio do meu jantar! Será que dá pra respeitar meu espaço e meu corpo?”

Acontece que um dia desses, acho que a partir de uma conversa com uma cliente querida – mãe de uma bebéia recém nascida – me caiu um ficha: Se aconchegar no meu colo, com meu peito de travesseiro, logo depois de comer – mamar! – foi um ritual repetido milhões e milhões de vezes na nossa dupla. E eu finalmente entendi que esse colo de depois da janta pode estar justamente buscando a reprodução desses momentos.

A comida já não vem de dentro de mim – ainda que continue sendo entregue pelo trabalho do meu corpo. Ela tampouco se alimenta grudada na mamãe – ainda que adore esticar uma perna pra encostar na minha por baixo da mesa.

Mas naquele momento, imediatamente após a refeição, quando seu sistema nervoso parassimpático precisa se ativar no mais puro estado de relaxamento pra que seu cérebro e seu corpo se ocupem da digestão, é em cima de mim que ela vem parar.

A bichinha, comprida que só, já está vivendo dentro e fora mudanças que anunciam a chegada de uma nova fase – se bem que nem acho mais que é questão de anúncio apenas, mas sim da vivência de uma fase de meio do caminho.

Eu ando chorando de soluçar com propaganda de seguro que mostra criança virando adulto. Ando me divertindo com as conversas e até com as crises dessas mudanças. Ando me irritando (às vezes chorando também hahaha) com algumas rebeldias e novas dificuldades.

O tempo da vida que corre alimenta a ânsia por agora enquanto o futuro dá as caras no horizonte – de uma forma que quase não tem cabido nostalgia nos nossos dias.

Mas esse colo de depois do jantar precisou que eu encontrasse as memórias do ontem pra poder ser acolhido no hoje.

O peso excessivo no meu estômago me conta que esse ritual provavelmente não durará muito mais tempo. A vontade de fugir de casa já nos ronda um pouco. hahaha. O cheiro de cabeça de filha, me conta que esse corpo grande ainda é o da minha filhote. Os pedidos por respeito e espaço que sinto por dentro, já podem ser verbalizados pra que ajustes sejam feitos e a demanda dela possa ser atendida sem que as minhas sejam atropeladas ou percam suas importâncias.

Que coisa linda é ver filho crescer, minha gente!
Que coisa mágica é se alimentar de passado, presente e futuro numa só fungada de cangote.

From far and wide

Hoje nos tornamos oficialmente cidadãos canadenses!

Já são 5 anos e quase 4 meses morando aqui no ” True North”, dá pra acreditar?

Não sabemos até quando ficaremos aqui. Temos um total de zero planos de mudar de país outra vez, mas também temos alguma dificuldade de nos ver “pra sempre” num mesmo lugar.

Provavelmente por isso foi tão curiosa a experiência de jurar fidelidade – ao rei e ao país.

Tanto tempo me sentindo (d)expatriada, carregando a sensação agridoce da escolha pelo afastamento, a culpa pelo “abandono”, o prazer pelas experiências proporcionadas aqui, longe…

As mudanças mil são meio que parte de quem somos enquanto família. Ainda que a cada vez a gente escolha ficar onde está, me sinto apegada à ideia de que há liberdade na possibilidade de simplesmente escolher ir.

Quando chegamos aqui fizemos o combinado de ficar nessas terras pelo menos tempo suficiente pra nos tornarmos cidadãos. Naquele momento, 5 anos parecia uma eternidade imensa.

Mas os dias foram passando. Os meses, os anos, a pandemia, as mudanças, as casas, os gatos, as reformas, os amigos, a família canadense… fomos assentando e talvez eu nem tenha bem me dado conta disso. Talvez 5 anos já não pareçam uma eternidade porque encontramos aqui muitos hojes que fazem sentido e valem a pena.

Que dá pra ir embora de onde há amor, eu já sei há mais de 13 anos.

Hoje me lembro mais uma vez de que temos muita sorte de encontrar amor pelo caminho de andanças.

E, com bandeirinhas vermelhas por onde olho, percebo que há liberdade em jurar que escolho ficar – ainda que possa, também, às vezes, querer ir.

Da terra gigante, linda e complexa que nos fez e forma. Na terra gigante, gelada e misturada que nos recebe.

Por enquanto, diga ao povo que fico. Com lágrimas nos olhos, gratidão no coração e disposição pra quantas eternidades couberem nos nossos hojes canadenses. Oficialmente, fico. Oficialmente, pertenço.