Nessa última semana ouvi uma série de episódios de um podcast de entrevistas com escritoras e, claro, muitos pensamentos me povoaram a partir disso.
Os principais deles giram em torno dos motivos da escrita. Há muito eu digo que escrevo pra me entender: pra processar os processos, acender as luzes, chorar os choros, registrar as memórias…
Mas há muito (mais) tempo também eu sei que a escrita se fez na minha vida como uma forma de ser coletiva, de sair de mim e chegar no outro. Como quando eu queria brigar ou pedir ou declarar… saía tudo em palavras no papel – pro outro. (tem até um post velho aqui que eu adoro contando um pouco dessas historinhas)
Este blog mesmo, só surgiu porque eu queria dividir com quem estava longe as experiências e tantas novidades que vivia do outro lado da Cordilheira, conhecendo o Chile, a vida de expatriada e tudo o que veio naquele comecinho de pacote.
Foi aqui, escrevendo sempre Aos meus Queridos, aos que se mantém curiosos e os que não se cansaram de mim, que eu retomei esse pedaço meu – da palavra para o outro. Naquele momento as palavras na tela eram minha conexão com a vida velha e a validação de tudo o que era descoberta. As palavras escorriam, a alma pedia mais espaço e eu ia vazando…pro outro, mas a partir de mim.
E escorri e vazei tanto que inundei este espaço de mim e ele se tornou (talvez, apenas) a bóia pra mim mesma.
Talvez, então, afogada na experiência de por pra fora, mergulhada em tudo que era meu, de dentro, mas que agora eu via existir para o mundo, eu tenha perdido o ar, e ficado lá, me segurando no próprio colete salva-vidas… Talvez tenha sido assim que me esqueci que a escrita e as palavras são aquela corda que liga a bóia ao barco.
Flutuar ao invés de se afogar é, obviamente, vital. Mas se a gente não agarra a corda que os outros jogam, o resgate nunca acontece e a gente fica viva, mas à deriva.
Sinto uma gratidão imensa ao tanto de ar, de espaço e extravazamento que este blog-bóia me deu. Pelas tantas e tantas vezes que ele foi a bordinha da piscina onde me segurei.
Escrevo agora e as lágrimas escorrem – “só porque é triste um fim”, mesmo quando ele é necessário e bonito. Eu não comecei esse texto (e, putz, que bonito que ficou aquele título agora que eu cheguei nesse ponto) sabendo que ele era, na verdade um encerramento. Mas conforme as palavras fluem e as ondas vêm, fica de um azul cristalino aos meus olhos o fato de que eu preciso assumir que este espaço (obsoleto) já não conecta nada a lugar nenhum. E atualmente eu ando cansada de estar à deriva.
Quero voltar a escrever segurando a cordinha. Jogando a latinha pela janela e vendo quem é que pega o outro lado da corda pra me responder no telefone.
Percebo que cansei de soltar mensagens em garrafas na imensidão de um mar vazio, na parca esperança de que alguém as encontre – e na até na expectativa de que algumas nunca sejam vistas.
Quero voltar a assumir (pra mim mesma e pro mundo) que minhas palavras são de mim para o outro. E, pra isso, preciso descobrir onde é que estão os outros agora.
Seria o momento de criar a tal newsletter? Tenho um certo ranço do termo. Mas também tenho pouquíssima disponibilidade agora pra pensar em alimentar algoritmo de rede social pra que meus textos sejam distribuídos e mostrados por aí.
Na minha primeira semana no Chile fiz uma pergunta no facebook: “qual a melhor forma de mandar as notícias daqui, uma lista de email enorme ou um blog?” Quase 15 anos atrás o blog era a escolha da moda; moderno, assustador (morria de vergonha de me dizer blogueira)… foi uma amiga “xóven” que me puxou a orelha e me mostrou o caminho.
Essa mesma amiga hoje é uma escritora incrível e segue me inspirando nas ousadias…
Parece que falta justamente ousadia pra querer o que todo mundo parece querer.
Ousada, concluo: o texto, o raciocínio, o blog…
O que mais vem depois daqui?