Roda mundo, roda gigante

Esse ano a TPM veio com roupa de saudade antiga.

Do Chile, do espanhol, dos lares passados, até dos suburbios que eu jurava que não sentiria falta…

TPM misturada com ” inferno astral” – vulgo “então é (seu) natal, e o que vc fez?”.

Acho que tenho pensado tanto nas dualidades humanas porque ando me enroscando muito por elas. Talvez esteja há tempo demais sem ler filosofia.

Tá bom, mas não é só bom. É bom, mas cabe um monte de angústia dentro.

Já no tempo, parece não caber quase nada. Essa coisa maluca que escorre e leva junto um monte de possibilidades, enquanto eu tento me agarrar em tantas delas, que fico sem mãos para o corrimão e termino descendo a escada de bunda. Termino o dia com um hematoma assustador. Termino o mês ainda tão desconjuntada que fica ainda mais difícil me agarrar no tempo, ou nas coisas que ele insiste em levar embora.

A rodinha não para de girar e a hamster que às vezes se ilude pensando que descobriu a fórmula mágica pra não enlouquecer, se vê mal-e-mal mexendo as perninhas e causando (também, mas não só) o movimento da tal rodinha.

“Por isso às vezes ela cansa, e senta um pouco pra chorar”. Ou ela foge pro cinema (onde sempre rolam umas visitas ao passado). Ou ela tenta fugir da cabeça.

Do corpo não dá pra fugir (nem da rodinha). E lutar (com ele) não é saudável.

Como é que ativa sistema nervoso parassimpático se enquanto as perninhas giram, sem fim, as rodinhas, o cérebro entende que o perigo vem sempre chegando por trás?
Métodos de meditação são mesmo a fabricação de calmas abstratas e ficcionais numa realidade humana (e capitalista e patriarcal e etc) que gira em ciclos infinitos de up and down.

Que saco.

É bom. Mas é um saco.

O ontem e o hoje (e a semana passada)

Essa semana por aqui está rolando o ” March Break”, uma espécie de “semana do saco cheio”, em que as crianças não tem aula e muita gente aproveita pra fugir do frio e pegar calor em algum lugar tropical. Mas por conta do El Niño o clima anda muito maluco nessas terras e mesmo sem ter ido viajar, deu pra curtir juntos sol e muito ar livre nos últimos dias – uma delícia!

Aí ontem veio a chuva. E um dia de ficar em casa, de boa, na preguiça. Mas, aparentemente, no memorando das crianças veio faltando (que expressão maravilhosa hahaha) a parte do “de boa”. E tivemos um daqueles dias em que tédio vira provocação entre irmãos e brigas sem fim.

Ali, no meio do caos, convidei os dois pra fazer cookies – numa tentativa de entreter, adoçar, conectar….

Nos poucos minutos em que os biscoitos assavam e as crianças, curiosas, estavam de olhos atentos no forno, abri meu tablet e me deparei com uma “lembrança” de 5 anos atrás.

2019, March Break, crianças em casa, caos, muffins assando e crianças curiosas de olhos atentos no forno.

Impossível não sorrir e não refletir – sobre o quanto a vida é dos ciclos.

`As vezes me esqueço disso e fico achando que o caminho é só pra frente, que a gente avança em linha reta. E aí, quando me vejo num cenário com gosto de passado me frusto achando que estagnei, que os progressos sentidos foram todos ilusórios.

Só que as crianças estão aqui, crescendo e evoluindo bem na frente dos meus olhos, de uma forma que não deixa dúvidas do quanto o futuro já é hoje mesmo. E se olhando pra eles me lembro de que a vida é de constante movimento, me surpreendo também ao perceber o quanto algumas receitas são eternas – e acabam, então, sempre voltando.

Escrevi outro dia que conforme eles crescem o que eu sabia já não serve mais. Mas essa é só meia verdade. Os desafios aumentam e eu preciso aprender mais, mas tem uma porção de saberes e construções que ainda nos acompanham.

Da mesma forma que o colo dos meus pais me acalenta, do alto dos meus 37 anos, meus filhos, tão crescidos, ainda precisam de conexão e relações adocicadas.

Me parece que a vida tem cara de valsa – dois pra lá, dois pra cá. Espero, então, poder sempre apreciar o ritmo e o movimento. Ir e vir com as ondas do tempo. E assar um bolinho quando for hora de parar e se recompor.

(o “essa semana” e “ontem” do texto já estão passado. hahaha
Ainda que as crianças estejam crescidas, a presença dos dois por tantos dias em casa bagunça minha rotina e as coisas ficam meio penduradas por aí…

No final o atraso foi bom porque uma conversa com uma amiga hoje teve super influência em como esse texto se concluiu 🙂 )