No sábado, dia 08/03, Dia Internacional da Mulher, eu comecei a escrever esse post aqui:
“Vi esse vídeo no facebook hoje:
No final rola uma mensagem de “feliz dia das mães”, mas ele tá rodando hoje especialmente com um “Q” de “feliz dia das mulheres”!
Vi e dei risada, como imagino que aconteça com todo mundo – ou toda mulher (rs) – que o assista, mas fiquei com uma pulga atrás da orelha…
Mais tarde, pensando melhor, entendi o que me incomodava: é que um vídeo como esse acaba sendo mais uma ferramenta pra perpetuação do sistema obstétrico como está hoje. Assim como nas novelas e num montão de filme por aí, esse vídeo está dizendo: “olha como parir é horrível e sofrível e sofrido!!!”
Essa noção é mais do que um senso comum, é uma certeza que TODO MUNDO tem!
E essa certeza é um fator super importante no número absurdamente errado e grande de cesáreas que acontecem no Brasil (e no Chile!) atualmente! Porque, afinal, se parir é tão terrível, aproveitemos as maravilhas da medicina moderna e “salvemos” as mulheres desse sofrimento todo, não é?!
Não, não é!
E digo que não é com a propriedade de quem aprendeu muito sobre o assunto nos últimos meses!
Aprendi vivendo na pele, claro, mas também estudando sobre o assunto. Lendo tudo que caísse na minha frente sobre parto, e depois procurando mais pra ler, vendo vídeos de parto, vendo debates, depoimentos, documentários…”
Mas aí Cecília começou a chorar, logo tivemos que sair.. E o negócio acabou ficando na metade, pra eu ir terminando aos poucos…
Eu pretendia seguir o post contando como parir é maravilhoso e como, apesar de ter sentido bastante dor, em nenhum momento eu sofri durante o trabalho de parto! Pretendia contar como é possível – e importante – significar a dor do parto e separá-la totalmente do conceito de sofrimento, vivê-la de uma forma totalmente diferente da que é sempre retratada por aí…
Mas aí, enquanto eu ia escrevendo meu post de picadinho, caíram dois textos incríveis na minha frente, dois textos que diziam exatamente o que eu estava tentando dizer.Ontem a Gabi Sallit, do DáDáDá, publicou esse texto aqui. E hoje a Marina, do Só Até Amanhã de Manhã, lembrou desse texto aqui, da Ligia Moreiras Sena, do Cientista Que Virou Mãe.E essas duas são tão fodas ótimas, que tudo que eu fui escrevendo depois pareceu ruim e/ou insuficiente! Por isso desisti do meu texto esquizofrênico, resolvi deixar os links pra vocês lerem (sério, leiam!!!) e contar um pouquinho de porque parir mudou a minha vida!
Eu, que não consegui nascer de parto normal; eu, que nasci toda torta e tive (tenho) que lidar a vida inteirinha com os problemas da minha coluna com todos os defeitos do mundo (fisioterapia, rpg, natação, colete ortopédico na adolescência, dores crônicas, etc..); eu, que tenho um dedo feio, que tenho um pé enorme, magrelo e cheio de dedos muito longos; eu, que sou toda atrapalhada, que não tenho controle dos meus membros e não sei andar direito; eu, esse corpo defeituoso…
Eu, que sou péssima pra tomar decisões e pior ainda pra assumir meus desejos e brigar por eles; eu, que quase nunca consigo terminar algo que começo, que quase nunca consigo encontrar algo que me apaixone e me faça investir energia de verdade; eu, que nunca descobri uma vocação nessa vida; eu, que sempre fui da passividade, de evitar discussão, de preferir não dar opinião; eu, que cansei de deixar “meu jeito” de lado, pra evita a fadiga ou o conflito…
Eu…
Pois é… eu sou tudo isso aí em cima, mas fabriquei, gerei e pari a bebéia mais linda desse planeta!
Eu, que quando descobri qual era o melhor jeito de trazer minha filha ao mundo, me apaixonei, abracei “a causa”, estudei, me dediquei, briguei, argumentei… Só sosseguei quando achei que tinha garantido tudo o que podia garantir desse momento tão incerto…
E quando chegou a hora de fazê-la vir, encontrei uma força e uma confiança que eu nem sabia que podia ter e agarrada a uma tranqüilidade deliciosa (e ao meu marido querido! rs) fiz minha parte um pouco como tinha planejado, mas, especialmente, fiz respeitando o que eu sentia que tinha que fazer! Encontrei uma Eu sábia, serena, preparada, decidida e capaz! Uma Eu que chegou até ao final exatamente como sonhou chegar – e com um resultado lindo, lindo no colo!
E quando, depois do parto, ouvia das pessoas que tinha sido corajosa e guerreira achava, honestamente, que elas estavam exagerando… E ainda acho!
Não precisei de coragem nem de garra pra parir minha filha num parto natural, sem intervenções e sem anestesia…
Precisei, isso sim, de informação, de conhecimento, de razão, de amor, de apoio, de força, de determinação, de vontade e de mais amor! E encontrei tudo isso em algumas pessoas especiais à minha volta mas, pricipalmente, em mim mesma!
E descobrir que essa outra Eu existe dentro de mim mudou a minha vida!
Mudou a maneira como me vejo, mudou a maneira como me comporto. Mudou a forma como me mostro e como acho que mereço ser tratada. Mudou a forma como me coloco. Definitivamente influenciou minha forma de ser mãe. E de ser filha, de ser esposa..de ser mulher!
E, como disse a Gabi, essa é uma experiência pela qual eu gostaria que muitas outras mulheres pudessem passar! Porque é intenso, porque é delicioso, porque é transformador! Porque nos faz mais fortes e mais mulheres!
Muito mais do que qualquer flor regalada no dia 08 de março ou do que “saber” que os homens não aguentariam a dor, diga-se de passagem…
Falo com a voz da experiência e CHEIA de orgulho das minhas capacidades!!! Eu pude e posso!
Vocês deviam experimentar… 😉