O que será

Dia desses eu assistia uma família nascer e pensava em como é maluca essa coisa de a gente se apaixonar completamente por uma pessoa que a gente não conhece – que nem bem pessoa é, até…

Vira e mexe eu vejo na minha menina crescida os olhos doces e o sorriso sapeca, que registro em seu rosto desde seus primeiros dias de vida. Mas comecei umas viagens filosóficas sobre o quanto é que ela já era ela desde aqueles primeiros momentos, dentro e fora de mim. 

A paixão enlouquecida se transmuta em entrega, desencontros, não-saberes – sangue, suor, lágrima, leite. O bichinho que acabou de chegar precisa ser a coisa mais importante do nosso mundo e nosso mundo vira aquilo por inteiro.

Tão dentro daquele mundo talvez a gente não se dê muito conta de que está, de fato, assistindo uma pessoa se fazer. A gente fabrica primeiro e depois assiste o fazer-se. Todo dia, cada dia um pouco.

Talvez porque agora minha bichinha caminhe em direção ao fazer-se não apenas gente, mas gente grande, as reflexões sem respostas e sem pé, nem cabeça me visitam quando revivo a familiaridade surreal do primeiro encontro de um bebê com seus pais.

Olho pra eles e nos vejo. Nos olhares curiosos por reconhecimento imagino quem eles serão em 10 anos mais. Imagino (mais do que lembro) quem é que nós éramos 10 anos atrás.

10 anos parece pouquíssimo. Mas nos 10 primeiros minutos de vida – que não canso nunca de admirar – cabem tantas vidas inteiras.
Termino essa reflexão de botequim desejando que cada golden hour que testemunho me ajude a lembrar de quão incondicional é esse tal desse amor e de quanta importância de vida tem em 1 hora de vida. Quantas horas douradas já couberam nos nossos quase 11 anos e quantas ainda caberão.

(mesmo nas manhã de mau humor, nas tardes de protestos e nas noites que não demorarão muito pra ser de espera)