Chover, pescar, chorar

Aproximadamente 95 ideias borbulhando. Flutuando em pedaços. Leves, pois incompletas. Passam rapidamente por mim sem que eu consiga alcançar nenhuma por inteiro.

Nenhuma nunca ficará pronta por inteiro se eu não tentar pescar, apreender, compreender…

Curiosa a sensação de que elas já existem, mas ainda precisam que eu olhe pra elas pra que possam nascer de verdade.

Pra olhar pra elas, preciso de atenção, de silêncio, de entrega, de coragem…

Não sei nem qual me falta mais…

Sento pra materializar pelo menos alguma dessas gotas que ameaçam chover em mim. E a máquina de secar roupas me chama. A criança me pede um pão. O gato mia. A cachorra treme.

Meu cérebro pede fuga.

Eu como, re-assisto séries antigas, releio livros (ou até leio novos). O tempo todo.

Sempre ocupada, me ocupo de nunca poder.

Se nunca posso, nunca pesco. Se nunca olho pra elas, elas nunca se condensam e nunca chovem. Apenas flutuam, como nuvens, às vezes inapreensíveis, leves e rápidas. Às vezes pesadas e densas – daquelas que até derrubam umas gotas pelo caminho, mas que vão tempestoar só em outro lugar.

A secadora segue apitando e me chamando. Molhada por alguma gota de ideia que toquei, encerro a escrita de mais um texto sobre a ausência de textos pensando que se juntar todos eles, nesses últimos 13 anos, já deve dar pra escrever um livro sobre como não escrever um livro.

E a ideia do parágrafo de encerramento me escapa. Fico sem fim. Assim como sem tantos outros começos. Sem-fins.

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