“Que o tempo insiste porque existe o tempo que há de vir”

Já vou logo dizendo: todos os clichês parecem ser mesmo verdade. (talvez por isso eles tenham se tornado clichês?)

Passa voando.

A gente pisca e os dias infinitos de exaustão sem fim viraram um amontoado de anos. As noites de mil despertares, são histórias que a gente não lembra direito, já que no cérebro privado não funcionava tão bem a tarefa de registrar.

O parto, um dia marcante que nos visita uma vez por ano.

A amamentação, uma conquista trabalhosa e deliciosa – e a memória da dor daquele mamilo mastigado, ainda causa arrepios na pele.

Todo mundo avisa que vai passar voando. E ainda que nos dias infinitos a gente possa se esquecer do tamanico que cada ano tem, tem sempre esse fantasma rondando: “aproveita tudo, que passa rápido”.

Aí a gente se pergunta: tudo mesmo? Acho que eu sempre soube que eu sentiria falta até dos “tudo” mais absurdos: milhões de fraldas sujas, doencinhas, birras… todas essas marcas da pequenice das nossas crias… todas elas me fariam falta um dia. (E até que fazem…)

Mas essa consciência não serve – ou não me serviu – exatamente pra gente aprender a aproveitar dificuldade… No meio do furacão, a gente só quer que acabe (ranço do tal do ” vai passar”, aliás!).

Olho daqui do futuro e não sei se é a memória que engana ou o que, mas penso, satisfeita, que entre a pressa e a agonia, vamos vivendo muitos hojes saborosos!

É engraçado isso de chamar o hoje de futuro, aliás. Viver diariamente a sensação de ” caramba, como minhas crianças estão crescidas!” não é muito diferente daquela sensação do primeiro ano de vida dos filhos em que cada dia o bebê parece ter aprendido uma coisa nova e estar diferente do que era na noite anterior.

Só que agora que a exaustão é menor e os anos que já se passaram conservam na boca o gosto doce da nostalgia, fica mais fácil me lembrar que, sim, eles estão crescidos, mas também tem apenas uma infância de vida.

O futuro está sempre à espreita – o bebê que logo vira criança, a primeira infância que fica pra trás, a adolescência que se anuncia…

Mas cuido pra ter como espinha de sustenção dos nossos dias, o passado – com suas (minhas, no caso) escolhas cuidadosas e tropeços inevitáveis.

Não na forma de culpas ou arrependimentos daqueles que prendem, mas como lembretes de urgência da vida. Como prova de concretização da nossa base. Como o hoje que já não é, mas sempre estará, abrindo as portas pra que o futuro, aquele de amanhã, venha com segurança e nostalgia – não com pressa ou ressentimento.

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