“E a gente faz um país”

Eu costumava achar que o segredo pra estabelecer uma amamentação de sucesso era a mãe se entupir de informação. Achava que uma mãe que estudasse MUITO durante a gravidez, que soubesse as técnicas corretas e os mitos perigosos estaria pronta pra amamentar lindamente – e sem dificuldades – ao seu filho recém chegado ao mundo.

Mas quanto mais eu me aprofundo nesse tema, mais eu tenho certeza de que estava enganada. O que uma mãe que quer amamentar precisa é  APOIO!

Apoio do marido, responsável por manter o “ambiente preparado” – à lá montessori, mesmo, no sentido de deixar tudo pronto e seguro pra que o natural tenha espaço pra acontecer; a mãe alimentada, sem sede, podendo descansar o máximo que der…

Apoio da família e dos amigos, do máximo das pessoas que a rodeiam, que não venham questionar sua capacidade de amamentar, que não venham sugerir mamadeiras diante das dificuldades (tão comuns) desse começo e nem muito menos reduzir e/ou tirar importância de esforços daquela mulher!

E, obviamente, apoio da equipe de saúde, que em sua maioria tem se mostrado muito despreparada pra lidar com esse assunto – no comecinho da vida dos bebês e lá pra frente também!

O puerpério – também conhecido como “grande mar de hormônios e sono e novidades e inseguranças” – é um período de muita fragilidade em que tudo o que uma mãe precisa é ser deixada em paz! Não é hora de ter que ficar lembrando (a si ou aos outros) das recomendações da OMS, ou de técnicas ou de posições mais recomendadas! Não é hora de ter que ficar se defendendo de palpites enfraquecedores! E definitivamente não é hora de travar luta contra o pediatra que quer dar fórmula seilaeuporque quando deveria orientar corretamente e proteger o aleitamento!

Aliás, tenho ouvido cada barbaridade de orientações de médicos – a maioria pediatras, claro – que não sei se tenho mais vontade de chorar ou de bater!

Pediatra mandando desmandar abruptamente bebê de 9 meses porque o leite já não alimenta nessa idade; pediatra dando remédio pra “secar o leite” de mãe de bebê com cólica, justificando que o leite artificial resolveria o problema; pediatra de maternidade receitando fórmula porque o bebê “chora muito” ou porque o bebê está hipoglicêmico, enfermeiras de maternidade dando chupeta E mamadeira de presente pra mães; pediatra dizendo que se a mãe vê o leite mais “aguado” é porque ele já não serve pra bebê de 3 meses; ortopedista me mandando desmamar bebéia porque “1ano e 5 meses já tá bom, né?!”…. E, pasmem, boa parte desses exemplos são aqui da Espanha!!!

Penso em algumas medidas urgentes necessárias: a primeira e mais óbvia é reciclagem e formação específica na área de aleitamento pra todos os profissionais que lidam com mães e bebês – será que é sonhar muito alto?

Mas além disso, acredito que amamentar precisa voltar a ser cultural, sabe aquelas coisas, ensinadas de mãe pra filha, de irmã pra irmã, de amiga pra amiga e de medic@ pra paciente?! Então….  (e vale o mesmo pro parto, né?!)
Me pergunto quantos anos de “ativismo e campanhas” serão necessários pra que isso volte a acontecer…

E tenho certeza que, pra isso, precisamos nos despir dos mitos, nos livrar do bando de informação errada que está por aí (inclusive na boca de muito médico)…precisamos falar sobre isso, repetidamente, pra que todos escutem! Precisamos naturalizar o aleitamento (e o parto!) nas nossas casas, nas nossas vidas…estilo trabalho de formiguinha, pessoa a pessoa, família a família, sabe?!

Se pra isso eu acabar virando “eco-chata” (como gosta de dizer meu marido), paciência…  Estas (parto e aleitamento, pra ninguém ficar na dúvida!rs) são as causas nobres pelas quais escolhi trabalhar e militar! =D

um ps. importante: assim como no caso do parto, acredito que o desejo de saber mais e melhor deve vir de dentro…de cada mãe e cada família! Por mais “eco-chata” que eu me torne, nunca me meto ou me meterei onde não sou chamada pra explicar pra uma mãe recente as vantagens de um parto sem intervenções desnecessárias ou vantagens e mitos sobre aleitamento materno, por exemplo! O que não consigo é ficar calada quando sinto a angústia pela má informação e por aquela sensação (de mãe, pai ou outros membros da família) de que tem “algo errado naquilo que me disseram ou naquilo que vivi” .. aí eu abraço e falo mesmo! rs

“Você me abre seus braços

E a gente faz um país”

Aaaah!!! Tá rolando um financiamento coletivo para o projeto de um documentário bem bacana sobre aleitamento, o “De Peito Aberto”! O “Renascimento do Parto” já provou que um filme bem feito é uma excelente maneira de trazer pra um público maior essas discussões de saúde pública tão importantes! Corre lá e vê se consegue ajudar um pouquinho!