“O sal da terra, o chão, faca amolada”

Vamos falar de coisa boa??

Não, não de iogurteira (até porque nem ando me dando muito bem com os lácteos ultimamente..hahaha)… Mas quem já leu um tiquinho só esse blog deve estar agora se perguntando “COMO RAIOS ela ainda não veio falar do segundo parto”, né?! Sim ou não? rs

Então vamos falar! 🙂

Bom, desde que cheguei aqui na Espanha, muito antes de pensar em engravidar,  já comecei a fuçar sobre o tema. Queria saber como era a realidade obstétrica por aqui e o que eu descobri foi o seguinte:

  • o país tem uma taxa até que bonitinha de cesáreas, pra gente que tá acostumada com as porcentagens brasileiras: 21% na rede pública e 35% na privada, de acordo com números divulgados (com preocupação!) ano passado.
  • Acontece que apesar de se ter boas (ou melhores..rs) chances de ter um parto vaginal por aqui, as chances de que esse parto seja  “bacana” são muito pequenas! A coisa funciona no esquema “linha de produção”, seja na rede particular ou pública as intervenções estão todas “incluídas no pacote” – todas! – e os relatos de violência obstétrica não param de aparecer! Quando comecei a ler cheguei até a ter pesadelos com alguns deles…
  • A “solução” pra parir com respeito e tranquilidade, assim como no Brasil, é pagar equipe particular e com indicações seguras.

 

Quando engravidei já seguia mil páginas e profissionais espanhóis no facebook e tinha alguma referência do que queria fazer. Meu desejo e plano iniciais eram ter uma gravidez menos medicalizada, por isso queria fazer o acompanhamento com uma matrona (o equivalente a uma enfermeira obstétrica) e ter um obstetra “qualquer” como referência, fosse pra pedir exames ou pra recorrer se fosse necessário.

Minha primeira tentativa foi com a matrona da rede pública aqui da cidade… mas eu odiei o tratamento dos funcionários do centro de saúde… além de me passarem informações equivocadas, senti que nas poucas vezes que fui lá fui tratada não só com falta de vontade, mas com preconceito. E esse não era o clima que queria viver nos próximos meses que viriam. Além disso descobri que fazer o acompanhamento pela rede pública seria meio enrolado e demorado, eu teria que passar com um médico de cabeceira, que me encaminharia pro hospital, que me derivaria de volta pra matrona no centro de saúde e aí eu ficaria com esses dois pontos de referência e  blablabla… Até entendo a lógica da coisa, mas achei que não valia o trabalho já que eu nem sabia se iria até o final com eles…

 

Passei então com uma obstetra qualquer, pelo convênio, de uma clínica particular aqui do lado de casa e foi aquela coisa típica de convênio… Eu tinha certeza que não era isso que queria pro meu pré-natal, mas pensava nela como um plano B, então “ok” (#sqn, tanto que não voltei nem pra levar os resultados de exames que ela pediu..rs)

 

Em seguida fui procurar uma “matrona independente”, que me atenderia em consultas particulares durante todo o pré-natal, que poderia me acompanhar durante o pré-parto e o trabalho de parto (dilatação em casa), que me daria apoio também no pós parto… o único problema era que pro parto em si ela não poderia estar, a menos que fossemos pra um hospital beeemm longe de casa, onde permitem que ela entre, mas onde acaba ficando mais como acompanhante do que profissional responsável OU que fossemos ter o parto em casa. Cheguei a fazer uma primeira consulta com ela, gostei muito e estava sonhando mesmo em ter um parto domiciliar! Mesmo! Mas marido não estava convencido… nem um pouco!

Então acabamos pedindo pra essa matrona indicações de médicos bacanas, com uma visão “diferenciada” do parto e tal, pra conversarmos, vermos outras opções, pensarmos melhor juntos, etc.

No começo eu até achava que poderia tentar convencer o Lucas do domiciliar com bons argumentos e artigos científicos (ainda acho que poderia, aliás), mas teve um argumento “contra” que me sacudiu: se precisássemos de transferência, teria que ser pra um dos dois hospitais aqui do lado de casa, claro…e aí seria aquele filme de terror que eu já conhecia e temia! Eu estaria disposta a correr o risco???

 

Enquanto matutava essa pergunta, passamos em consulta com uma obstetra alemã, indicada pela matrona como “super pró parto em casa” e gostamos bastante! Um discurso bem parecido, diria que até melhor, com o do médico que eu tinha no Chile, respeitadora da fisiologia do parto, “um bom parto é que aquele em não tenho que fazer nada”, etc. Ela trabalha em um hospital que fica longe daqui, mas que tem 3 salas de parto natural super legais e ela é a responsável por tais reformas (foi ela que trouxe amigas arquitetas alemãs pra fazer). Mas ela não foi “super pró parto em casa”, disse que respeita a escolha, mas que não atende pois se sente mais segura no hospital. (Lucas concordou, claro! rs)

 

Ficamos então entre duas opções: matrona particular e talvez/quemsabe um parto domiciliar OU a tal médica alemã no hospital com salas bacanas. Mas aí fiquei com medo de que o medo da tal transferência pro hospital medonho travasse a evolução do meu parto, fiquei com medo do marido ficar com medo, amarelei no que eu sabia que seria um enfrentamento com a família, enfim… Senti que todos esses medos e poréns seriam empecilhos importantes e que parto cheio de pedra no caminho não era o que eu tava com vontade de viver! Além disso a médica cobria bem a minha demanda, a única coisa que eu não gostava na escolha (além da distância do hospital) era o fato de fugir do meu plano inicial de “gravidez menos medicalizada”…

Por isso pensei então em fazer o pré-natal com a matrona e parir com a médica, ambas topariam, mas a médica destacou que algumas (várias) consultas seriam importantes que fossem feitas com ela (porque coincidiam com exames, por exemplo) e no final ficaria tipo metade das consultas com a médica e a outra metade com a matrona. Achei muito pouco esse 50/50 e vimos que financeiramente também não ia rolar ter que pagar as duas pelo pré natal quando cada uma faria, na verdade, metade dele…

 

Conclusão: decidimos por acompanhar  pré e  parto só com a médica mesmo. Sendo a parte de hospital e exames pelo convênio e a equipe (médica e matrona que a acompanha) pagos a parte.  E vou parir aqui, oh que bonito:

 

Fotos daqui e daqui

 

Agora que já temos essa decisão tomada, estou agora lidando com outras ainda no quesito “parto”, mas essas eu volto pra contar depois, ok?!

4 pensamentos sobre ““O sal da terra, o chão, faca amolada”

  1. Que hospital lindo!!!
    O meu maior empecilho pro PD é o quintal com a família e depois o marido, que assim como o seu acha hospital mais seguro.
    Parto é um assunto que não cessa, eu vou voltar a falar nisso também, acho até que de agora em diante muito vou falar nisso ainda..

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  2. Lindo o hospital Gabi, tem cara de casa, muito aconchegante.
    Fui bem cabeça dura nesse quesito, não teve muito papo, o pessoal teve que se convencer porque eu não mudaria de opinião. Meu pai e meu sogro morrem de medo de eu engravidar de novo justamente por causa do parto…rsrs.
    Mas o hospital era perto da minha casa e o meu GO ficaria de backup, ou seja, prepararia minha internação antes mesmo da minha chegada ao hospital, isso foi primordial para que eu lutasse pelo meu parto domiciliar, a possibilidade de sofrer violência obstétrica por conta de transferência com certeza pesaria muito na decisão.
    Assim como disse para a Mari, tenho certeza que seu parto será lindo, isso porque vocês estão informadas, empoderadas, cercadas de pessoas que querem o bem de vocês e buscando por profissionais que auxiliem da forma mais humana possível vocês a terem o parto que desejam e planejam, não tem como ser de outra forma com esses elementos tão importantes presentes =)
    Bjs

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