Merda

Este é, sem dúvida, o post mais difícil que já escrevi – não só no blog, mas talvez na vida. O frio na barriga de clicar no “postar” acho que vai ser quase uma gastrite, mas publicar este texto é justamente o que dá sentido à ele, e como sentido é justamente o que venho buscando, vamos lá!


Recebi alguns elogios com relação à minha sinceridade aqui no blog, com quem lê e comigo mesma, mas a verdade é que a grande coisa que não sai da minha cabeça nas últimas semanas só foi muito levemente comentada… Mas sei lá, acho que resolvi que “chega de esconder minhas fraquezas”, chega de covardia… Até porque estou farta da minha covardia, então vamos começar a luta contra ela por aqui, contando pra todo mundo que quiser ler o grande caos que sou!
Já tô avisando de antemão pra que possam desistir já da leitura se o objetivo da sua presença neste blog é saber sobre o Chile, sobre vida no exterior, ou qualquer outra coisa. Porque este post vai ser pessoal! Muito pessoal. Talvez até melodramático. Mas ele vai sair!


Há anos e anos venho tentando descobrir o que eu quero “ser quando crescer”, procurando ter na vida profissional a mesma tranquilidade que tenho na vida pessoal. Encontrei o Lucas e casei com ele na certeza de quero estar ao lado dele e tê-lo comigo todos os dias da minha vida, pra sempre! 
Mas não consigo encontrar uma profissão que eu deseje, um sonho pelo qual valha a pena as dificuldades do dia a dia. Não era a T.O., não é o AV (isso mesmo, não é o AV – primeira confissão do post)…e é o que então??? 
Levar a faculdade na USP estava cômodo, porque, diferente da TO, estar ou não satisfeita com a profissão afetava só à mim (e não há possíveis pacientes) e continuar fazendo só pra me formar, ter uma profissão e trabalho e depois ir atrás do tal segredo mágico era bastante possível.
Mas aí, chegando na faculdade nova, tendo que encarar mais dois anos (ah! talvez 3, veja só…) de muitas aulas – muito mais crédito do que faria antes – muito trabalho, provas, professores mais chatos e mais exigentes do que os que eu tinha e gostava… bom, digamos que isso acabou cutucando minha ferida que tava quietinha… Cutucando não, tirando toda a casquinha e deixando sangrando pra caramba!
Ir para aquelas aulas com os simples objetivos de “me socializar no Chile”(fail, btw) e tirar o diploma (que agora corre o risco de ser fail tb) tá difícil… quase torturante, na verdade! (já que estamos na verdade…) Estudar cinema aqui tem me exigido uma energia que não tenho de onde tirar e a crise tá braba (avisei que seria melodrama).
Saio e chego em casa super de mau humor, choro e só me recupero depois de algum tempinho podendo esquecer essas coisas e curtindo a “vida pessoal”. Sinceramente, acho que nem o Lucas, nem a Maní, nem a faxineira e nem eu merecemos essa Gabi em casa 6 dias por semana!


Mas o problema maior da crise é – de volta a 2006 – não saber o que fazer no lugar disso…ou o que fazer pra amenizar isso – visto que preciso, de um jeito ou de outro, de um diploma logo!
Fico me sentindo presa num buraco sem saída, no qual eu sei que não quero seguir em frente, mas em que não consigo encontrar uma saída alternativa.
Me falta energia pro AV porque não é aquilo que eu amo fazer. Mas afinal, o que eu amo fazer???
Pensei em alguma coisa com os animais (desde aqui) , mas também não era exatamente uma resposta…




Mas. sabe, a verdade é que lá trás, eu não parecia sofrer desse problema:






Esse vídeo é da gravação da primeira peça que fiz no Teatro Escola Macunaíma, “O Brasileiro”, essa é a roda do “Merda!”de antes da peça.
Faz 10 anos! E 10 anos é tempo à beça, mas o que será que mudou?


Bom, aproveitei a vinda da minha mãe pra conversar bastante, inclusive sobre isso, claro!
Não há dúvidas de que o eu sentia quando fazia teatro era amor! Talvez justamente por saber como era sentir isso por alguma atividade é que seja tão difícil viver em uma na qual eu não sinto…
Não sei dizer por que ou quando esse encantamento todo passou, mas o fato é que em 2004 decidi parar de fazer teatro – parar o curso profissionalizante que faltava pouco mais de 6 meses pra terminar e parar de vez com a atividade.


Desde que entrei na tal crise profissional, em 2006, ousava pensar muito rapidamente que devia tentar voltar pro teatro.. que talvez tivesse deixado alguma coisa lá…


Mas eu nunca tive coragem! A verdade é que sou uma grande cagona! Tenho medo de entrar numa turma nova, que eu não conheço, tenho medo de me decepcionar com a turma (porque a minha era incrível!), tenho medo de decepcionar as pessoas em volta, tenho medo de me decepcionar comigo, tenho medo de não ser boa o suficiente, tenho medo de ir lá experimentar, buscar essa tal coisa que deixei pra traz, e não encontrar e ficar sem alternativa depois…
Mas, como disse lá no começo, tá na hora de enfrentar todos estes medos: Resolvi procurar um curso de teatro aqui!!!! 
Começar no começo, só como distração e ver, afinal, o que vou encontrar…
Dei uma olhada na internet, mas ainda é difícil saber qual escola é boa e qual não é, então entrei em contato com o sindicato de atores daqui… Ainda não tive uma resposta, mas vamos ver…
Tinha pensado em escrever sobre essa decisão aqui no blog só depois que já estivesse matriculada no tal curso, mas me dei conta de que tornar público agora vai ter uma função maior: agora que todo mundo sabe, não posso mais fugir! Sou bem boa em me des-convencer de algumas coisas.. Mas dessa vez eu quero enfrentar, eu quero tentar! Por isso vou avisando, talvez eu precise de ajuda, talvez precise que me cobrem, que não me deixem desistir antes de chegar lá – juro que estou me esforçando bastante!


Não tô achando que vai ser uma solução mágica, que vai me tirar de todas as angústias com a vida e com a faculdade, pelo contrário, sei que será bem difícil, mas finalmente resolvi tentar!
Que diferenças isso vai fazer ou não na prática, não faço ideia… Como dizem meus amigos do AV: vamos acompanhar!


Mas a parte mais legal disso tudo é que, um dia depois de ter tomado essa decisão importante, chegaram pra nos visitar meus sogros e trouxeram com eles um pequeno tesouro: antes de vir pro Chile deixei alguns VHSs com eles pra passarem, um dia, pra DVD pra mim…  e o trabalho não só foi feito com rapidez e eficiência, como já chegou em minhas mãos! Resultado: passei horas do último fim de semana assistindo esses DVDs! 
Um deles é uma festinha da minha escolinha no ano de 1989, eu com 3 anos mostrando nas danças que minha descordenação é de nascença! hahahaha
Outro é um curta metragem que fiz nas épocas de atriz, bem ruinzinho por sinal…
E os outros são quase todas as peças que fizemos no Macunaíma filmadas!!!
A coincidência foi incrível! Essas peças não poderiam ter chegado em melhor momento, porque deram um apertão na saudade e um empurrão na decisão!!!

Acho que era isso que eu tinha pra dizer…apesar da dificuldade de dizer tudo isso, apesar de ainda achar que meio que não é da conta das outras pessoas, que é um problema meu e pronto…
Mas quer saber, já que resolvi mesmo ter um blog e falar mesmo sobre mim nele: tá tudo aí! De verdade! Sinceramente! Doídamente! Ridiculamente! Mas, espero, corajosamente!


Obrigada aos que realmente dedicam tempo a ler minhas baboseiras! Conto com vocês nestas empreitadas! (a do blog-bobo e a do retorno ao teatro)


Um beijo mais leve,
(próximo post: Milan Kundera!)


Gabi

10 pensamentos sobre “Merda

  1. Oi Gabi

    Tambem entendo muito bem o que você esta falando.
    Por muito tempo eu nao sabia o que fazer da vida, ou achava que nao sabia. Cinema sempre foi uma paixão, quando era mais jovem eu sempre tava com uma câmera na mao e ainda fiz vários workshops de video.
    Mas pra mim cinema nao era profissão por que nao ia dar dinheiro
    Tambem tinha medo de nao conseguir entrar numa boa faculdade no Brasil, tinha medo de pagar uma faculdade aqui no UK e nao entender o inglês dos professores e tinha ate vergonha por que todo mundo ia ser mais novo que eu.
    No meu caso, fugir do que eu realmente queria me levou a depressão.
    Mas depois de terapia e tratamento e finalmente investir nessa profissão, eu percebi que nao tem volta, que se eu decidi fazer algo que nao gosto eu vou acabar depressiva de novo.
    Na minha opinião eu poderia ter continuado fugindo pra sempre mas a vida acabou me dando um empurrão.

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  2. Karencita,
    Tenho certeza que fujo há muito do teatro…
    Ainda não sei se vou me re-encontrar nele, mas o que eu quero é exatamente achar essa “alguma coisa” da qual eu não tenha volta! Acho lindo esse seu encantamento e, confesso, invejo um pouquinho…rs
    Tb acho que não posso seguir fazendo “qualquer coisa da vida”, porque estava perto de cair na deprê… mesmo que não seja pra encontrar agora, o pique pra ir procurar em outro lugar – não (mal) acomodada onde estou – é uma bela respirada!
    Fico feliz de saber que vc se identificou, e sinto uma certa esperança de saber que vc já conseguiu, depois da dificuldade, o que estou tentando agora! Vou me inspirar! hehehe
    Beijo grande!

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  3. Gabííííí

    A mudança mais radical da sua vida, foi “largar” tudo aqui e ir morar no chile com o Lu….você tem noção de que não é tão medrosa assim quanto pensa?? Você só precisa de um estímulo!
    Qualquer mudança agora é mera adaptação!

    Não cobre a perfeição, você é você, e a única coisa que você deve ter pressa é de ser feliz…o resto é só viver!

    Vamos combinar algo quando estiverem no Brasi hein??

    Bjãoo!!

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  4. Bi, acredito que o mais difícil vc já fez, que é a reflexão sobre isso! As decisões são consequencias, e nem são tão definitivas qto parecem! De resto, BOA SORTE!!!!

    Ah, e adorei te ver com 15 anos no vídeo! Rs

    Beijos

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  5. Gabiiiii!!!!
    Acho q os AVs precisam ir t visitar pra t dar uma animada…. hehehehehe
    Fico triste q vc esteja se sentindo assim e a gente não esteja por perto pra t dar uma força, mas aguentaí mulher!! Vc já mostrou o quanto vc é forte quando decidiu encarar essa viagem e tudo mais! Qualquer q seja sua decisão, vc vai conseguir, certeza! =D
    Não precisa acertar de primeira, as vezes é um processo mesmo e isso demora… Pode contar sempre com o apoio da gente, viu? ^¬^ Mesmo q vc decida deixar o AV…. (snif)

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